Wednesday, March 11, 2015

Viver é lutar

Pedro J. Bondaczuk

O poeta Gonçalves Dias inicia um dos seus memoráveis poemas (todos que escreveu o são), no caso o “Canção do Tamoio”, com estes marcantes e aparentemente retóricos versos:

“Não chores, meu filho;
Não chores que a vida
É luta renhida:
Viver é lutar.
A vida é combate,
Que aos fracos abate,
Que os fortes, os bravos
Só pode exaltar” (...)

A maioria dos que lêem essas palavras as interpreta em sentido apenas metafórico, ou seja, figurado, “poético”, portanto, não literal. Equivoca-se, no entanto, quem faz essa interpretação. Trata-se da mais pura, explícita e até óbvia expressão da verdade, constatação da realidade á qual sequer atentamos. A vida, todavia, é, de fato, queiram ou não, luta renhida. É combate incessante e sem trégua, com o forte predando, e abatendo, o fraco, e o tempo todo, continuamente, no intento de sobreviver. Afinal, vida, sobretudo a animal, nutre-se de vida. Exagero? Ora, ora, ora. Você conhece, caríssimo e esclarecido leitor, um espécime de qualquer espécie, um único que se alimente de minerais? Que recorra a pedras, a terra ou a qualquer ser não vivo, à matéria pura para se nutrir e repor energias?  Não me refiro, óbvio, às plantas, que nutrem tantos e tantos seres e não se nutrem de nenhum.

Pois é, amigos, “a vida é luta renhida” e “viver é lutar”. E não metafórica, porém literalmente. E nesse combate incessante, nessa guerra sem quartel em que não há espaço para neutralidade ou omissão, nem sempre é o tamanho, nem a força física, nem o vigor orgânico e nem, sobretudo, a excelência e eficiência muscular, que contam. Não por acaso, o ser mais ameaçador à sobrevivência humana, uma espécie de limite entre vida e não vida, é tão minúsculo – só visível com a utilização de potentíssimos e sofisticados microscópios eletrônicos – a ponto da sua existência até não faz muito (um século, se tanto) ser não somente ignorada, como negada. Refiro-me, claro, aos vírus. É o caso típico em que o clichê que afirma que “tamanho não é documento”” cabe como uma luva.

Vejam o que um desses seres ultraminúsculos, invisibilíssimos a olho nu, (o causador da peste negra), fez no século XIV, quando, por muito pouco, provavelmente por mero acaso, não extinguiu por completo nossa espécie, em devastadora pandemia. Nem é preciso recuar tanto no tempo. Vejam os estragos que o HIV, causador da Aids, já fez (e continua fazendo), tendo matado, já, algo em torno de 20 milhões ou mais de pessoas mundo afora, desde meados dos anos 80 do século XX, quando foi identificado. Vejam o que o ebola vem provocando no noroeste da África, onde já matou em torno de 5,1 mil infectados e continua descontrolado, apesar dos esforços de governos e de organismos internacionais voltados à saúde.

Poderia citar, ainda, alguns tantos milhares de vírus, potencialmente perigosos, que se causarem alguma pandemia, podem se tornar incontroláveis e... devastadores. Mas não somente de um grupo restrito de pessoas, se não a toda a humanidade. E olhem que nem estou me referindo aos imbecis que empreendem pesquisas – amparados e financiados por preciosos e sempre escassos recursos financeiros, necessários em outras tantas atividades úteis – mas não no sentido de neutralizar esses mortais agentes patogênicos, porém para torná-los indestrutíveis e os usarem, pasmem, como letais armas de guerra!!!! É um assunto que sequer vem à tona, que é mantido secretíssimo e que, por isso, ninguém pressiona governos dos países que patrocinam e promovem esses “estudos” para que ponham fim a tamanha imbecilidade.

Houve leitor que me questionou, nos últimos dias, dizendo que estas reflexões diárias que vimos fazendo, a propósito de vírus, nada têm a ver com literatura. Que são da alçada da Biologia e, portanto, da Ciência. Com todo o respeito que essas pessoas merecem da minha parte, peço licença para discordar. O que se refere a vírus é, sim, assunto apropriado para um espaço voltado à produção literária. O campo temático da Literatura é infinito. Abarca tudo o que somos, pensamos ou fantasiamos, além da totalidade do que nos rodeia, do que vemos (e vimos), ouvimos, testemunhamos ou apenas cogitamos. É a vida, essa “luta renhida”, com suas infinitas vertentes e nuances. O que caracteriza Literatura, ao fim e ao cabo, é a forma de expressão e não, propriamente, o que expressamos.


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