Viver é lutar
Pedro
J. Bondaczuk
O poeta Gonçalves Dias
inicia um dos seus memoráveis poemas (todos que escreveu o são), no caso o
“Canção do Tamoio”, com estes marcantes e aparentemente retóricos versos:
“Não chores, meu filho;
Não chores que a vida
É luta renhida:
Viver é lutar.
A vida é combate,
Que aos fracos abate,
Que os fortes, os
bravos
Só pode exaltar” (...)
A maioria dos que lêem
essas palavras as interpreta em sentido apenas metafórico, ou seja, figurado,
“poético”, portanto, não literal. Equivoca-se, no entanto, quem faz essa
interpretação. Trata-se da mais pura, explícita e até óbvia expressão da
verdade, constatação da realidade á qual sequer atentamos. A vida, todavia, é,
de fato, queiram ou não, luta renhida. É combate incessante e sem trégua, com o
forte predando, e abatendo, o fraco, e o tempo todo, continuamente, no intento
de sobreviver. Afinal, vida, sobretudo a animal, nutre-se de vida. Exagero?
Ora, ora, ora. Você conhece, caríssimo e esclarecido leitor, um espécime de
qualquer espécie, um único que se alimente de minerais? Que recorra a pedras, a
terra ou a qualquer ser não vivo, à matéria pura para se nutrir e repor
energias? Não me refiro, óbvio, às
plantas, que nutrem tantos e tantos seres e não se nutrem de nenhum.
Pois é, amigos, “a vida
é luta renhida” e “viver é lutar”. E não metafórica, porém literalmente. E
nesse combate incessante, nessa guerra sem quartel em que não há espaço para
neutralidade ou omissão, nem sempre é o tamanho, nem a força física, nem o
vigor orgânico e nem, sobretudo, a excelência e eficiência muscular, que
contam. Não por acaso, o ser mais ameaçador à sobrevivência humana, uma espécie
de limite entre vida e não vida, é tão minúsculo – só visível com a utilização
de potentíssimos e sofisticados microscópios eletrônicos – a ponto da sua
existência até não faz muito (um século, se tanto) ser não somente ignorada,
como negada. Refiro-me, claro, aos vírus. É o caso típico em que o clichê que
afirma que “tamanho não é documento”” cabe como uma luva.
Vejam o que um desses
seres ultraminúsculos, invisibilíssimos a olho nu, (o causador da peste negra),
fez no século XIV, quando, por muito pouco, provavelmente por mero acaso, não
extinguiu por completo nossa espécie, em devastadora pandemia. Nem é preciso
recuar tanto no tempo. Vejam os estragos que o HIV, causador da Aids, já fez (e
continua fazendo), tendo matado, já, algo em torno de 20 milhões ou mais de
pessoas mundo afora, desde meados dos anos 80 do século XX, quando foi
identificado. Vejam o que o ebola vem provocando no noroeste da África, onde já
matou em torno de 5,1 mil infectados e continua descontrolado, apesar dos
esforços de governos e de organismos internacionais voltados à saúde.
Poderia citar, ainda,
alguns tantos milhares de vírus, potencialmente perigosos, que se causarem
alguma pandemia, podem se tornar incontroláveis e... devastadores. Mas não
somente de um grupo restrito de pessoas, se não a toda a humanidade. E olhem
que nem estou me referindo aos imbecis que empreendem pesquisas – amparados e
financiados por preciosos e sempre escassos recursos financeiros, necessários
em outras tantas atividades úteis – mas não no sentido de neutralizar esses
mortais agentes patogênicos, porém para torná-los indestrutíveis e os usarem,
pasmem, como letais armas de guerra!!!! É um assunto que sequer vem à tona, que
é mantido secretíssimo e que, por isso, ninguém pressiona governos dos países
que patrocinam e promovem esses “estudos” para que ponham fim a tamanha
imbecilidade.
Houve leitor que me
questionou, nos últimos dias, dizendo que estas reflexões diárias que vimos
fazendo, a propósito de vírus, nada têm a ver com literatura. Que são da alçada
da Biologia e, portanto, da Ciência. Com todo o respeito que essas pessoas
merecem da minha parte, peço licença para discordar. O que se refere a vírus é,
sim, assunto apropriado para um espaço voltado à produção literária. O campo
temático da Literatura é infinito. Abarca tudo o que somos, pensamos ou
fantasiamos, além da totalidade do que nos rodeia, do que vemos (e vimos),
ouvimos, testemunhamos ou apenas cogitamos. É a vida, essa “luta renhida”, com
suas infinitas vertentes e nuances. O que caracteriza Literatura, ao fim e ao
cabo, é a forma de expressão e não, propriamente, o que expressamos.
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