Saturday, March 07, 2015

Vírus de alta letalidade

Pedro J. Bondaczuk

A propósito de vírus, destaco a publicação, dia desses, de excelente matéria no portal UOL (não sei se outros espaços da internet também a divulgaram, presumo que não), tendo por “gancho” a epidemia de ebola que assola várias regiões da África e que ameaça se transformar em pandemia, com casos registrados nos Estados Unidos, na Europa e com pelo menos uma suspeita (que felizmente não se confirmou) no Brasil. Ficou claro na dita reportagem que nem todos eles são perigosos ao homem. O infectologista Esper Kallas – membro do corpo clínico do Hospital Sírio-Libanês e professor associado da Universidade de São Paulo – citado no texto, destaca que dos milhares de agentes patogênicos identificados até hoje, são relativamente raros os que levam seres humanos à morte. Ufa! Ainda bem!!

No caso do ebola (e de outros vírus sumamente letais) o que torna improvável uma pandemia é o fato do seu causador contrariar uma das leis básicas da evolução. Ou seja, mata, e de forma fulminante, seus hospedeiros e se vê, por conseqüência, impedido de se propagar, ficando restrito a determinadas regiões específicas, de pequena abrangência. A taxa de mortalidade desse vírus gira em torno de 90%. Quer dizer, mata 90 de cada cem pessoas que infecta. Por isso, suas epidemias são de curta duração, posto que fulminantes ou exatamente por isso. A atual, tanto pela abrangência, quanto pela quantidade de pessoas que já matou (em torno de cinco mil) é uma das piores.

Embora a prudência mande que se adotem meticulosas e eficazes  medidas preventivas, não creio que a atual epidemia de ebola vá se expandir para outras regiões da própria África e principalmente fora dela. Ou que venha a ter longa duração. Felizmente, para nós (e infelizmente para os contaminados), o causador da doença é “burro”. Mata logo, em questão de dias, quando não de horas, seus infortunados hospedeiros e com isso morre também. Uma pergunta, que ouço com freqüência, sobretudo de pessoas leigas no assunto, é: “Por que, de uns tempos para cá, têm surgido tantos vírus novos?”  Bem, na verdade, não são novos. Existem há milhares, milhões ou sabe-se lá quantos anos, só que a maioria não afetava, antes, o homem, mas só determinados animais. “E por que, subitamente, passaram a atacar humanos?”.

Bem, a causa, provavelmente, deve-se ao desequilíbrio ecológico, principalmente à destruição de florestas e mais florestas mundo afora. O HIV afetava apenas macacos. Subitamente, porém... passou a contaminar humanos. Já o ebola, quase que com certeza, proveio dos morcegos, ou de seus parasitas; A matéria do UOL explica porque, por tantos e tantos anos, determinados vírus poupavam a nós, humanos  Destaca: “Vale lembrar que certos micro-organismos só ‘convivem bem’ com determinados animais porque, ao longo de milhares de anos, a seleção natural perpetuou as espécies mais resistentes”. Mas a imprudência do homem não tem limites. Por isso, acaba tendo, mais cedo ou mais tarde, que pagar um preço, geralmente proibitivo, por ela.

Na dita matéria, o autor (cujo nome não consegui identificar), lembra: “Quando a ecologia de um micro-organismo sofre um distúrbio, porém, e os seres humanos entram em contato com o agente pela primeira vez sem que tenha havido um processo de adaptação, muita gente morre até que os mais resistentes comecem a prevalecer”. É o que vem acontecendo, por exemplo, com o ebola. Mas o causador dessa doença não é o pior dos novos vírus. Um outro rivaliza com ele ou pelo menos o iguala. É o que vem causando uma também febre hemorrágica, conhecida como Marburg, que grassa, igualmente, na África, onde as más condições de higiene e a subnutrição favorecem o surgimento de novas doenças e o agravamento das já existentes.

O curioso é que o agente patogênico, causador dessa geralmente letal enfermidade, embora se manifeste preferencialmente (se não exclusivamente) em território africano, foi documentado, pela primeira vez, na cidadezinha alemã que lhe empresta o nome. Sua letalidade chega a 90%. E sua origem é a mesma do ebola: Uganda e Quênia. A mencionada matéria do UOL cita o H5N1 (que causa a gripe aviária), o vírus causador da Síndrome Respiratória Aguda Grave, os hantavirus, além de outros menos conhecidos, mas igualmente ameaçadores, como o de Lassa, o Junin, associado à febre hemorrágica argentina, o Machupo, causador da febre hemorrágica boliviana, o da Crimeia-Congo, transmitido por carrapatos assim como o da floresta de Kyansur, identificado na Índia em 1955. Com o crescente desmatamento, não ficarei nada surpreso se surgirem novos e novos vírus, em quantidades cada vez maiores, mais letais do que os que citei, que até aqui só afetavam animais. E assim, a luta da Medicina continua para eliminar, ou neutralizar, ou “domesticar” esses agentes patogênicos que podem, a qualquer momento, causar, sem aviso prévio, catastrófica pandemia, que ameace a própria sobr4evivência da humanidade.


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