Vírus de alta
letalidade
Pedro
J. Bondaczuk
A propósito de vírus,
destaco a publicação, dia desses, de excelente matéria no portal UOL (não sei
se outros espaços da internet também a divulgaram, presumo que não), tendo por
“gancho” a epidemia de ebola que assola várias regiões da África e que ameaça
se transformar em pandemia, com casos registrados nos Estados Unidos, na Europa
e com pelo menos uma suspeita (que felizmente não se confirmou) no Brasil. Ficou
claro na dita reportagem que nem todos eles são perigosos ao homem. O
infectologista Esper Kallas – membro do corpo clínico do Hospital Sírio-Libanês
e professor associado da Universidade de São Paulo – citado no texto, destaca
que dos milhares de agentes patogênicos identificados até hoje, são
relativamente raros os que levam seres humanos à morte. Ufa! Ainda bem!!
No caso do ebola (e de
outros vírus sumamente letais) o que torna improvável uma pandemia é o fato do
seu causador contrariar uma das leis básicas da evolução. Ou seja, mata, e de
forma fulminante, seus hospedeiros e se vê, por conseqüência, impedido de se
propagar, ficando restrito a determinadas regiões específicas, de pequena
abrangência. A taxa de mortalidade desse vírus gira em torno de 90%. Quer
dizer, mata 90 de cada cem pessoas que infecta. Por isso, suas epidemias são de
curta duração, posto que fulminantes ou exatamente por isso. A atual, tanto
pela abrangência, quanto pela quantidade de pessoas que já matou (em torno de
cinco mil) é uma das piores.
Embora a prudência
mande que se adotem meticulosas e eficazes
medidas preventivas, não creio que a atual epidemia de ebola vá se
expandir para outras regiões da própria África e principalmente fora dela. Ou
que venha a ter longa duração. Felizmente, para nós (e infelizmente para os
contaminados), o causador da doença é “burro”. Mata logo, em questão de dias,
quando não de horas, seus infortunados hospedeiros e com isso morre também. Uma
pergunta, que ouço com freqüência, sobretudo de pessoas leigas no assunto, é:
“Por que, de uns tempos para cá, têm surgido tantos vírus novos?” Bem, na verdade, não são novos. Existem há
milhares, milhões ou sabe-se lá quantos anos, só que a maioria não afetava, antes,
o homem, mas só determinados animais. “E por que, subitamente, passaram a
atacar humanos?”.
Bem, a causa,
provavelmente, deve-se ao desequilíbrio ecológico, principalmente à destruição
de florestas e mais florestas mundo afora. O HIV afetava apenas macacos.
Subitamente, porém... passou a contaminar humanos. Já o ebola, quase que com
certeza, proveio dos morcegos, ou de seus parasitas; A matéria do UOL explica
porque, por tantos e tantos anos, determinados vírus poupavam a nós,
humanos Destaca: “Vale lembrar que
certos micro-organismos só ‘convivem bem’ com determinados animais porque, ao
longo de milhares de anos, a seleção natural perpetuou as espécies mais
resistentes”. Mas a imprudência do homem não tem limites. Por isso, acaba
tendo, mais cedo ou mais tarde, que pagar um preço, geralmente proibitivo, por
ela.
Na dita matéria, o
autor (cujo nome não consegui identificar), lembra: “Quando a ecologia de um
micro-organismo sofre um distúrbio, porém, e os seres humanos entram em contato
com o agente pela primeira vez sem que tenha havido um processo de adaptação,
muita gente morre até que os mais resistentes comecem a prevalecer”. É o que
vem acontecendo, por exemplo, com o ebola. Mas o causador dessa doença não é o
pior dos novos vírus. Um outro rivaliza com ele ou pelo menos o iguala. É o que
vem causando uma também febre hemorrágica, conhecida como Marburg, que grassa,
igualmente, na África, onde as más condições de higiene e a subnutrição
favorecem o surgimento de novas doenças e o agravamento das já existentes.
O curioso é que o
agente patogênico, causador dessa geralmente letal enfermidade, embora se
manifeste preferencialmente (se não exclusivamente) em território africano, foi
documentado, pela primeira vez, na cidadezinha alemã que lhe empresta o nome.
Sua letalidade chega a 90%. E sua origem é a mesma do ebola: Uganda e Quênia. A
mencionada matéria do UOL cita o H5N1 (que causa a gripe aviária), o vírus
causador da Síndrome Respiratória Aguda Grave, os hantavirus, além de outros
menos conhecidos, mas igualmente ameaçadores, como o de Lassa, o Junin,
associado à febre hemorrágica argentina, o Machupo, causador da febre
hemorrágica boliviana, o da Crimeia-Congo, transmitido por carrapatos assim
como o da floresta de Kyansur, identificado na Índia em 1955. Com o crescente
desmatamento, não ficarei nada surpreso se surgirem novos e novos vírus, em
quantidades cada vez maiores, mais letais do que os que citei, que até aqui só
afetavam animais. E assim, a luta da Medicina continua para eliminar, ou
neutralizar, ou “domesticar” esses agentes patogênicos que podem, a qualquer
momento, causar, sem aviso prévio, catastrófica pandemia, que ameace a própria
sobr4evivência da humanidade.
No comments:
Post a Comment