Sem motivo para pânico
Pedro J. Bondaczuk
O
"acidente" ocorrido com a vacinação contra a meningite tipo C, na
segunda-feira, em Campinas e Hortolândia --- quando 6.638 pessoas das 29.023
vacinadas apresentaram reações adversas ao imunizante e centenas tiveram que
ser internadas --- não deve e nem pode levar a população a uma atitude que
seria extremamente imprudente, para não dizer suicida: a de não confiar mais
nessa ou em outra vacina qualquer. O caso foi grave, mas atípico. Especialistas
do setor garantem que foi único na história da saúde pública brasileira. A
probabilidade de que se repita, portanto, é virtualmente nenhuma. A invenção
das vacinas foi um dos maiores avanços feitos pela ciência médica em todos os
tempos. Em vez de se curar doenças letais--- de cura difícil e muitas vezes
duvidosa --- optou-se pela sua prevenção.
Não
é por acaso que são investidas fortunas para a descoberta de um imunizante que
previna a contaminação com o vírus da Aids. O princípio básico de uma vacina é
o de fazer com que o próprio organismo humano produza seus anticorpos e dessa
forma se defenda contra os agentes patogênicos que o podem destruir. Foi
através do seu uso que uma das mais terríveis moléstias --- que dizimou
comunidades inteiras em passado não muito remoto --- foi erradicada da face da
Terra: a varíola. A vacinação criteriosa e bem-programada permitiu ao País
ficar livre para sempre da poliomielite.
Para
que a prevenção funcione, no entanto, é necessário que haja a confiança da
população. É preciso que os pais se conscientizem da sua importância e se
disponham a vacinar seus filhos. Só assim as campanhas de vacinação tendem a
ser um sucesso. Só dessa maneira doenças letais, ou no mínimo incapacitantes,
podem ser detidas e até eliminadas, como no caso da varíola, em âmbito mundial
e da poliomielite, no Brasil. Só assim, muito sofrimento será evitado.
Por
essa razão, o incidente (eu diria "acidente") acontecido em Campinas
e Hortolândia precisa ser analisado com muita cautela e sem passionalismo pelas
autoridades e pela comunidade. Os responsáveis pela área de saúde, sejam eles
da esfera municipal, estadual ou federal, têm a obrigação de vir a público,
através dos meios de comunicação e, com clareza e sinceridade, esclarecer, sem
omitir coisa alguma, o que aconteceu. Mas a população não pode e nem deve se
deixar levar pelo pânico e nem dar trelas a boatos. Os casos de meningite
aumentaram em 71,19% no Estado. E, estejam certos, a doença é muito pior do que
as reações adversas que os vacinados apresentaram, seja por qual motivo for.
Nenhum pai responsável e esclarecido vai querer ficar com a culpa na
consciência --- caso o filho venha a contrair meningite e morrer --- de saber
que tinha os recursos ao seu dispor para evitar a perda e, por medo ou
desinformação, não os utilizou. Não fuja da vacina que salva!
(Artigo
publicado no Correio Popular em 16 de abril de 1996)
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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