Monday, March 23, 2015

Sem motivo para pânico


Pedro J. Bondaczuk


O "acidente" ocorrido com a vacinação contra a meningite tipo C, na segunda-feira, em Campinas e Hortolândia --- quando 6.638 pessoas das 29.023 vacinadas apresentaram reações adversas ao imunizante e centenas tiveram que ser internadas --- não deve e nem pode levar a população a uma atitude que seria extremamente imprudente, para não dizer suicida: a de não confiar mais nessa ou em outra vacina qualquer. O caso foi grave, mas atípico. Especialistas do setor garantem que foi único na história da saúde pública brasileira. A probabilidade de que se repita, portanto, é virtualmente nenhuma. A invenção das vacinas foi um dos maiores avanços feitos pela ciência médica em todos os tempos. Em vez de se curar doenças letais--- de cura difícil e muitas vezes duvidosa --- optou-se pela sua prevenção.

Não é por acaso que são investidas fortunas para a descoberta de um imunizante que previna a contaminação com o vírus da Aids. O princípio básico de uma vacina é o de fazer com que o próprio organismo humano produza seus anticorpos e dessa forma se defenda contra os agentes patogênicos que o podem destruir. Foi através do seu uso que uma das mais terríveis moléstias --- que dizimou comunidades inteiras em passado não muito remoto --- foi erradicada da face da Terra: a varíola. A vacinação criteriosa e bem-programada permitiu ao País ficar livre para sempre da poliomielite.

Para que a prevenção funcione, no entanto, é necessário que haja a confiança da população. É preciso que os pais se conscientizem da sua importância e se disponham a vacinar seus filhos. Só assim as campanhas de vacinação tendem a ser um sucesso. Só dessa maneira doenças letais, ou no mínimo incapacitantes, podem ser detidas e até eliminadas, como no caso da varíola, em âmbito mundial e da poliomielite, no Brasil. Só assim, muito sofrimento será evitado.

Por essa razão, o incidente (eu diria "acidente") acontecido em Campinas e Hortolândia precisa ser analisado com muita cautela e sem passionalismo pelas autoridades e pela comunidade. Os responsáveis pela área de saúde, sejam eles da esfera municipal, estadual ou federal, têm a obrigação de vir a público, através dos meios de comunicação e, com clareza e sinceridade, esclarecer, sem omitir coisa alguma, o que aconteceu. Mas a população não pode e nem deve se deixar levar pelo pânico e nem dar trelas a boatos. Os casos de meningite aumentaram em 71,19% no Estado. E, estejam certos, a doença é muito pior do que as reações adversas que os vacinados apresentaram, seja por qual motivo for. Nenhum pai responsável e esclarecido vai querer ficar com a culpa na consciência --- caso o filho venha a contrair meningite e morrer --- de saber que tinha os recursos ao seu dispor para evitar a perda e, por medo ou desinformação, não os utilizou. Não fuja da vacina que salva!


(Artigo publicado no Correio Popular em 16 de abril de 1996)



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