Thursday, March 05, 2015

Domesticação de vírus

Pedro J. Bondaczuk

Os biólogos sequer descobriram, ainda, a verdadeira natureza dos vírus. Seriam seres vivos? Seriam matéria? Seriam meio termo, misto de vida e não vida? Teorias existem muitas, mas conclusões... inexistem. A origem dos vírus, por sua vez, igualmente é ignorada. De onde eles vieram? São naturais da Terra? Provieram de alhures? Neste caso, de onde? E. ainda considerando esta hipótese como verdadeira, como teriam chegado ao nosso Planeta? Mistério... Há pesquisadores que afirmam que os vírus são seres vivos, porém, extraterrestres. Teriam vindo parar na Terra em algum dos tantos meteoritos, ou mesmo cometas, que periodicamente se chocam com este nosso frágil domo cósmico. A grande dificuldade de classificá-los está no fato das limitações que oferecem à investigação científica. Só podem ser estudados em microscópios eletrônicos de grande potência, dado seu tamanho extremamente diminuto, equipamento este que, além de raro, é caro, inacessível, portanto, a boa parte dos centros de pesquisa.

Muitos vírus não medem mais do que 10 milionésimos de milímetro. Alguns são denominados de “bacteriófagos” . A razão desse nome é o fato de haverem se especializado em parasitar bactérias. Mas, como tamanho não é documento... alguns são, embora extremamente pequenos, extremamente letais. Exemplo típico é o do que causa a doença conhecida como psitacose. Alguns virólogos asseguram que uma xícara desses vírus pode destruir toda a humanidade. O homem acredita ter obtido uma primeira vitória sobre esse agente patogênico. O vírus da varíola foi declarado, recentemente, pela Organização Mundial da Saúde, como erradicado do mundo, ou seja, como finalmente vencido.

Vários pesquisadores acreditam que, com o tempo, conseguirão “domesticar” os vírus e usar sua capacidade de “escravizar” as células em benefício do homem. Pelo menos, estão se empenhando para tal. O laboratório de Richard Mulligan, no Instituto de Tecnologia de Massachussets, é um deles. Esse centro de pesquisas vem realizando experiências bem sucedidas nesse sentido, embora, por enquanto, apenas em camundongos. Os pesquisadores estão trabalhando com talessemia beta, doença genética que afeta a produção de hemoglobina em crianças.

Trata-se de tentativa de reparar genes com a mediação de vírus. “O que as pessoas estão fazendo agora são longas e exaustivas sequências de experiências que visam a descobrir exatamente o que colocar na cápsula viral”, afirma o biólogo Richard Mulligan. “Quando tivermos resolvido isto, poderá haver outros problemas. A maioria de nós, todavia, acha que em dez ou vinte anos esse tipo de terapia terá grande efeito sobre a prática da medicina”. Tomara que tenha. Tomara que os cientistas, realmente, domestiquem os vírus e façam deles, de mortais inimigos, providenciais aliados do homem.

O que são os vírus, afinal?  São, grosso modo, estruturas simples, se comparados a células. Não se pode considerá-los organismos. Para isso, seria necessário que possuíssem organelas ou ribossomos, o que não possuem.  Além disso, não apresentam todo o potencial bioquímico (enzimas) necessário à produção de sua própria energia metabólica. Os vírus são considerados pelos cientistas, pois, parasitas intracelulares obrigatórios. Por que? Porque dependem de células para se multiplicarem. Diferentemente dos organismos vivos, vírus são incapazes de crescer em tamanho e de se dividir. A partir das células hospedeiras, obtêm: aminoácidos e nucleotídeos; maquinaria de síntese de proteínas (ribossomos) e energia metabólica (ATP).

Diferem, pois, de qualquer tipo de vida conhecido, por estas características peculiares. Fora do ambiente intracelular, os vírus são inertes. Contudo, uma vez no interior de uma célula, sua capacidade de replicação é surpreendente: um único deles é capaz de multiplicar, em poucas horas, milhares de novos espécimes. São capazes de infectar seres vivos de todos os domínios (Eukarya, Archaea e Bacteria). Desta maneira, os vírus representam a maior diversidade biológica do planeta, sendo mais diversos que bactérias, plantas, fungos e animais juntos.

Muitas doenças causadas por defeitos nos genes ou por danos genéticos de qualquer origem, poderão ser curadas com o auxílio de vírus “domesticados”, num futuro talvez não muito remoto. São os casos, por exemplo, do Mal de Alzheimer, da coréia de Huntington e talvez, até, dos distúrbios maníaco-depressivos. À medida que a Virologia avança, portanto, pode não estar distante o dia em que de ameaça à vida, os vírus se transformem em um (farto) e indispensável aliado, para sua preservação e extensão. Tomara que sim!


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