Domesticação de vírus
Pedro
J. Bondaczuk
Os biólogos sequer
descobriram, ainda, a verdadeira natureza dos vírus. Seriam seres vivos? Seriam
matéria? Seriam meio termo, misto de vida e não vida? Teorias existem muitas,
mas conclusões... inexistem. A origem dos vírus, por sua vez, igualmente é
ignorada. De onde eles vieram? São naturais da Terra? Provieram de alhures?
Neste caso, de onde? E. ainda considerando esta hipótese como verdadeira, como
teriam chegado ao nosso Planeta? Mistério... Há pesquisadores que afirmam que
os vírus são seres vivos, porém, extraterrestres. Teriam vindo parar na Terra
em algum dos tantos meteoritos, ou mesmo cometas, que periodicamente se chocam
com este nosso frágil domo cósmico. A grande dificuldade de classificá-los está
no fato das limitações que oferecem à investigação científica. Só podem ser
estudados em microscópios eletrônicos de grande potência, dado seu tamanho
extremamente diminuto, equipamento este que, além de raro, é caro, inacessível,
portanto, a boa parte dos centros de pesquisa.
Muitos vírus não medem
mais do que 10 milionésimos de milímetro. Alguns são denominados de
“bacteriófagos” . A razão desse nome é o fato de haverem se especializado em
parasitar bactérias. Mas, como tamanho não é documento... alguns são, embora
extremamente pequenos, extremamente letais. Exemplo típico é o do que causa a
doença conhecida como psitacose. Alguns virólogos asseguram que uma xícara
desses vírus pode destruir toda a humanidade. O homem acredita ter obtido uma
primeira vitória sobre esse agente patogênico. O vírus da varíola foi
declarado, recentemente, pela Organização Mundial da Saúde, como erradicado do
mundo, ou seja, como finalmente vencido.
Vários pesquisadores
acreditam que, com o tempo, conseguirão “domesticar” os vírus e usar sua
capacidade de “escravizar” as células em benefício do homem. Pelo menos, estão
se empenhando para tal. O laboratório de Richard Mulligan, no Instituto de
Tecnologia de Massachussets, é um deles. Esse centro de pesquisas vem realizando
experiências bem sucedidas nesse sentido, embora, por enquanto, apenas em
camundongos. Os pesquisadores estão trabalhando com talessemia beta, doença
genética que afeta a produção de hemoglobina em crianças.
Trata-se de tentativa
de reparar genes com a mediação de vírus. “O que as pessoas estão fazendo agora
são longas e exaustivas sequências de experiências que visam a descobrir
exatamente o que colocar na cápsula viral”, afirma o biólogo Richard Mulligan.
“Quando tivermos resolvido isto, poderá haver outros problemas. A maioria de
nós, todavia, acha que em dez ou vinte anos esse tipo de terapia terá grande
efeito sobre a prática da medicina”. Tomara que tenha. Tomara que os
cientistas, realmente, domestiquem os vírus e façam deles, de mortais inimigos,
providenciais aliados do homem.
O que são os vírus,
afinal? São, grosso modo, estruturas
simples, se comparados a células. Não se pode considerá-los organismos. Para
isso, seria necessário que possuíssem organelas ou ribossomos, o que não
possuem. Além disso, não apresentam todo
o potencial bioquímico (enzimas) necessário à produção de sua própria energia
metabólica. Os vírus são considerados pelos cientistas, pois, parasitas
intracelulares obrigatórios. Por que? Porque dependem de células para se multiplicarem.
Diferentemente dos organismos vivos, vírus são incapazes de crescer em tamanho
e de se dividir. A partir das células hospedeiras, obtêm: aminoácidos e
nucleotídeos; maquinaria de síntese de proteínas (ribossomos) e energia
metabólica (ATP).
Diferem, pois, de
qualquer tipo de vida conhecido, por estas características peculiares. Fora do
ambiente intracelular, os vírus são inertes. Contudo, uma vez no interior de
uma célula, sua capacidade de replicação é surpreendente: um único deles é
capaz de multiplicar, em poucas horas, milhares de novos espécimes. São capazes
de infectar seres vivos de todos os domínios (Eukarya, Archaea e Bacteria).
Desta maneira, os vírus representam a maior diversidade biológica do planeta,
sendo mais diversos que bactérias, plantas, fungos e animais juntos.
Muitas doenças causadas
por defeitos nos genes ou por danos genéticos de qualquer origem, poderão ser
curadas com o auxílio de vírus “domesticados”, num futuro talvez não muito
remoto. São os casos, por exemplo, do Mal de Alzheimer, da coréia de Huntington
e talvez, até, dos distúrbios maníaco-depressivos. À medida que a Virologia
avança, portanto, pode não estar distante o dia em que de ameaça à vida, os
vírus se transformem em um (farto) e indispensável aliado, para sua preservação
e extensão. Tomara que sim!
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