Nem toda água doce é
potável
Pedro
J. Bondaczuk
A água doce (termo,
aliás, inadequado, já que ela não tem este sabor, que é usado só
figurativamente para distinguir da água do mar: essa sim com gosto, que no caso
é salgado), além de escassa para abastecer uma população mundial que já passa
dos sete bilhões de habitantes e que segue aumentando, está se tornando cada
vez mais rara, por causa da quantidade que é irremediavelmente perdida a cada
dia. Seu consumo deveria, pois, ser regulado, racionalizado e, principalmente
prudente. Infelizmente não é. Desperdiça-se esse bem supremo como se fosse
inesgotável e que nunca fosse se acabar. No andar da carruagem, todavia,
infelizmente um dia vai.
Ademais, é preciso
enfatizar que nem toda água doce é automaticamente potável. Seu uso para beber,
cozinhar e lavar requer que ela seja límpida, ventilada e isenta de bactérias.
E mais, deve ter as características de sua definição: líquido incolor, insípido
e inodoro. Só isso? Não. A água potável deve conter um grau exato de minerais.
O considerado ideal pelos especialistas é estimado em 200 miligramas de
carbonato, ou 30 de sulfato de cálcio por litro. Antigamente, os métodos de
filtragem eram naturais. Empregavam-se pedras porosas para esse fim. Todavia,
bastava a existência de qualquer fenda para tornar o processo sem efeito.
Os filtros lentos
atuais (menos de três metros cúbicos diários) utilizam camadas de areia e de
pedregulhos. No tratamento de água urbano, é utilizada a chamada filtragem
rápida. Os filtros têm a capacidade de filtrar de 10 metros cúbicos a 15 metros
cúbicos por dia. Procede-se a uma coagulação prévia, por meio do alumen, que
precipita a maior parte das matérias em suspensão. Assim como na purificação
das águas usadas, no caso as de esgoto, o papel essencial corresponde às
bactérias. Existem vários métodos para esterilizar o líquido já filtrado e o
cloro é muito empregado para esse fim. Como se observa, o processo para tornar
a água doce potável, isenta de riscos, é complexo e caro. Quase dois terços da
humanidade não têm acesso a ele, sobretudo em países paupérrimos, do
eufemisticamente denominado Terceiro Mundo. Isso tem preço proibitivo, em
termos humanos, de vidas e até nos econômicos.
A imensa maioria das
doenças que afetam a população pobre do Planeta, esmagadoramente majoritária, é
causada por água imprópria para o consumo, contaminada por agentes patogênicos.
São estratosféricos os custos do setor de saúde desses países pobres (pensando,
apenas, em termos de economia) que têm que fazer investimentos imensos de
recursos que nem mesmo têm e que poderiam ser evitados, investindo-se em
saneamento básico. Mas... isso não aparece aos olhos do público. Não rende
votos para os políticos. A mesma água que, quando potável, é indispensável à
vida, quando contaminada é fator causador de extenso elenco de doenças e,
portanto, de morte. Um bem tão essencial à saúde, à prosperidade e, sobretudo,
à sobrevivência, é tão mal distribuído, privilegiando determinados povos e
castigando mortalmente outros.
Estimativas das Nações
Unidas, por exemplo, dão conta que um bilhão de pessoas no mundo não tem acesso
à água potável, ou seja, à purificada, esterilizada e apropriada para o
consumo. E esse contingente imenso ainda está em vantagem sobre outro que é
constituído do dobro de indivíduos. E creiam-me, não estou exagerando. A mesma
ONU estima que dois bilhões de pessoas mundo afora não têm acesso a água
alguma, mesmo que poluída!!! Como tanta gente sobrevive (embora por pouquíssimo
tempo) para mim é um mistério. Quem acredita que haja algum inferno alhures,
esqueça. O inferno é aqui. Detesto trazer temas, como este, à baila, mas
(infelizmente) este é meu papel, no exercício da minha atividade de
comunicador. É a dura realidade que aí está, bastando que estejamos atentos
para identificá-la.
Observe-se que o
consumo mundial de água sextuplicou em apenas meio século, ou seja, desde o
início dos anos 50 do século XX!!! Os estoques do precioso líquido mínguam a
olhos vistos e a questão sequer é prioridade de nenhum governo no mundo, nem
mesmo das potências mundiais. Eles estão é preocupados com a possibilidade do
esgotamento do petróleo, que ninguém bebe, com o qual não se cozinha e que não
se usa para o banho e a higiene pessoal diária. Um leitor recomendou-me a leitura
de excelente matéria publicada recentemente na Revista Planeta (WWW.revistaplaneta.terra.com.br),
intitulada “Água doce: o ouro do século XXI”, assinada por Eduardo Araia. Logo
no parágrafo inicial desse texto, o autor acentua: “De todas as moedas, a água
é a que mais determinará a paz ou a guerra entre as nações no nosso
século” Há como fazer a mínima
contestação a propósito?! Como?!!!
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