Um demorado processo
Pedro J. Bondaczuk
A questão da reunificação das duas Alemanhas, que no
ano passado, logo após a derrubada do Muro de Berlim em novembro, parecia
destinada a ser um processo fulminante, está adquirindo, agora, na hora do
"vamos ver", o seu ritmo lógico. Recentemente, o próprio chanceler
alemão ocidental, Helmut Kohl, responsável por um certo
"atropelamento" inicial do tema, já admitiu que antes do final do
corrente ano os passos iniciais da unificação não seriam dados. Ainda assim, ele
foi otimista nessa previsão. Pela complexidade do problema, talvez nem no final
de 1991 as coisas venham a ficar encaminhadas. Há obstáculos imensos, de ordem
interna e externa, a serem superados. Afinal, 40 anos de separação não se
resolvem da noite para o dia.
O grande teste, entre os próprios germânicos,
certamente deverá ser a padronização do marco ocidental como moeda única nos
dois Estados. E aí já surge a primeira controvérsia. Os alemães orientais
querem que o signo monetário único obedeça à paridade absoluta. Bonn não
concorda. Propõe que a cotação seja de dois por um. Ou seja, que dois marcos da
República Democrática Alemã, RDA, comprem um da República Federal da Alemanha,
RFA. Isto tenderia a deflagrar uma brutal recessão, acompanhada de desemprego
em massa, no lado outrora governado pelos comunistas. Fatalmente, esvaziaria o
setor Leste do futuro país reunificado, acelerando ainda mais o atual êxodo
para o Ocidente. Complicaria, em decorrência, o problema social há pouco
inexistente e que já começa a se manifestar na RFA. Como se vê, trata-se de uma
situação bastante complicada, já no primeiro passo concreto da reunificação.
No plano externo, é do conhecimento público o elenco
de dificuldades, que vai desde a questão acerca de a qual aliança o novo Estado
deverá se vincular, até aos temores gerados em boa parte da Europa (em especial
a Central) sobre a existência ou não de riscos de uma Alemanha outra vez
poderosa para a segurança européia. Tais barreiras, convenhamos, não se
superam, por maior que seja a eficiência e a boa vontade das partes envolvidas,
da noite para o dia. Demandam longas e desgastantes negociações, como a
necessidade de determinadas concessões e salvaguardas entre os negociadores.
É como observou o porta-voz do Cremlin, Gennady
Gerasimov, em 12 de fevereiro passado, ao comentar a reunificação: "A
questão alemã não existe isoladamente e sim num contexto político, histórico e
até psicológico". Por isso, quem espera rapidez no processo, é mister que
caia na realidade, e não alimente e nem desperte falsas expectativas.
(Artigo publicado na página 12, Internacional, do
Correio Popular, em 20 de abril de 1990)
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