Wednesday, March 18, 2015

Líbano esfacelado


Pedro J. Bondaczuk


Há nove anos, um país do Oriente Médio era considerado modelo de estabilidade política e prosperidade econômica. A imprensa, reconhecendo a raridade do fato, em uma região tão conturbada, dedicava vários títulos a esse Estado exemplar. Ele era chamado ora de “Suíça do Oriente Médio”, ora de “Pérola Oriental”, ou de outras tantas denominações elogiosas, até mesmo mais poéticas.

Essa comunidade nacional, hoje em dia, praticamente não mais existe, pelo menos como sociedade organizada. O leitor certamente já adivinhou que estamos nos referindo ao Líbano. O povo libanês pagou caro, muito caro, por sua reconhecida hospitalidade, ao acolher a comunidade palestina, que na ocasião, fazia pouco que havia sido expulsa da Jordânia, após outra sangrenta guerra civil, que enlutou o feudo do rei beduíno Hussein, entre 1971 e 1972.

Dividido, atualmente, em duas comunidades religiosas, que levam o seu antagonismo ao extremo, ou seja, a cristã maronita e a muçulmana (cuja maioria é da seita xiita), contando, além de um desmantelado exército, com cerca de 16 milícias (grupos paramilitares armados até os dentes) e com uma quantidade indefinida de organizações guerrilheiras, o Líbano passa, além disso tudo, pela humilhação de uma ocupação estrangeira.

O Sul foi, virtualmente, anexado a Israel. A zona central, do Vale do Bekaa, é controlada pela Síria. E Beirute e as montanhas adjacentes tornaram-se terra de ninguém, campo de batalha onde a voz do canhão fala muito mais alto do que a razão. Como é triste ter que lembrar de datas assim, como a do nono aniversário do aniquilamento de um país, não faz tempo modelo de estabilidade e convivência civilizada para o mundo!!!

(Artigo publicado na página 9, Internacional, do Correio Popular, em 14 de abril de 1984)


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