Encontro das Américas
Pedro J. Bondaczuk
As
três Américas, representadas por 19 de seus presidentes (que por seu turno
governam cerca de 700 milhões de pessoas), realizam, hoje e amanhã, uma rara
reunião de cúpula, em San José, na Costa Rica, para debater alguns de seus mais
angustiantes problemas, embora o pretexto para o encontro não seja este.
O motivo oficial é a comemoração do centenário da
democracia no país anfitrião. Isso não quer dizer que no correr de um século
inteiro, de forma contínua, essa sociedade nacional centro-americana não
conheceu ditaduras. Pelo contrário, teve até mesmo uma dura guerra civil, na
década de 1930.
Seu povo soube, contudo, promover a pacificação
nacional e em 1949 tomou uma decisão no mínimo audaciosa: dissolveu suas Forças
Armadas. Desde então, a Costa Rica entrou, de fato, num período ininterrupto de
democracia.
Os temas que serão debatidos em San José são óbvios.
Ou, pelo menos, três deles, por sinal os mais angustiantes, o são: o
narcotráfico, que ameaça não apenas as três Américas, como virtualmente o mundo
inteiro na atualidade; a dívida externa e a restauração democrática em muitos
dos países da região.
Com a realização de eleições presidenciais no Chile,
em 14 de dezembro próximo, e na Nicarágua, em fevereiro de 1990, poucos países
vão permanecer sob regimes tirânicos no hemisfério. Na América do Sul, por
exemplo, não haverá mais nenhum presidente que não tenha sido eleito
diretamente, o que não deixa de ser um fato raro, numa zona mundial
caracterizada por caudilhos e caudilhismos.
Na América Central, restará apenas o Panamá, que não
consegue se livrar, de forma alguma, do seu homem forte, o general Manuel
Antonio Noriega, sob estado de exceção. Quanto ao Caribe, há o eternamente
problemático Haiti, cujo ditador de plantão, general Prosper Avril, no entanto,
assegurou que ainda no próximo ano irá devolver o poder aos civis. Além de
Cuba, naturalmente, onde Fidel Castro nem admite que sequer se cogite em falar
de sua substituição.
Alguns encontros interessantes serão possíveis,
nesta oportunidade. Como o dos presidentes George Bush e Daniel Ortega, por
exemplo. O chefe da Casa Branca disse, ontem, que o seu relacionamento com o
dirigente sandinista é “tenso”. E nem precisava dizer isto. Mas é melhor do que
o do seu antecessor, Ronald Reagan, que preferia ver o demônio, do que cruzar
com o presidente nicaragüense.
Um diálogo, mesmo que revestido de tensões, sempre é
válido, melhor do que nenhum, e pode operar milagres. Quem sabe possa perder
sua característica meramente festiva e originar soluções criativas para os
gravíssimos problemas hemisféricos. Uma só que surja, por menor que seja, não
deixará de ser um enorme lucro.
(Artigo publicado na página 15, Internacional, do
Correio Popular, em 27 de outubro de 1989).
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