Importância do estudo
dos vírus
Pedro
J. Bondaczuk
O estudo dos vírus é de
imensa importância para a ciência, por uma série de razões. A principal delas,
e a mais óbvia, claro, é a de prevenir e de curar as várias doenças que eles
causam. Outro motivo muito importante para que sejam estudados a fundo é o da
tentativa dos cientistas de transformá-lo de vilão por excelência, em herói.
Como? “Domesticando-o” e fazendo que atue não mais como causador de doenças,
mas de agente de cura às que sejam causadas por outros patógenos, entre os
quais as bactérias. Uma terceira razão, entre tantas, é que sua origem e
desenvolvimento podem explicar como surgiu a vida em nosso Planeta e como
prolongá-la, talvez chegando à hoje absolutamente impossível imortalidade.
Mas... sabe-se lá!
Fred Hapgood, redator
científico, residente em Boston, escreveu, em 1987, instigante artigo,
intitulado “Em defesa dos vírus” publicado na revista “Smithsonian” e
reproduzido na publicação “Diálogo”, porta-voz do Departamento de Estado dos
Estados Unidos. No referido texto, o articulista resume os argumentos da
corrente de pesquisadores que entendem que essa estranha forma intermediária
entre matéria e vida pode representar a chave para desvendar os mistérios da
evolução. Muitos pesquisadores defendem a tese de que tais seres fazem parte de
um grande aparato de condução de mensagens bioquímicas que permitem que todas
as células do Planeta se engajem em ampla “discussão” a respeito de suas
atividades e de como ser a melhor de sua respectiva espécie.
A singularidade dos
vírus, porém, está na sua simplicidade. As coisas vivas, assinala Hapgood, no
citado artigo, “estão perpetuamente em fluxo e são infindavelmente variáveis”.
As células não podem ser cristalizadas. Os vírus, todavia, podem. O primeiro
deles a ser cristalizado foi o do mosaico do tabaco. A cristalização, feita em
1937, coube aos biólogos Frederick Bawden e Norman Pirie. Dessa forma, sua
estrutura pôde ser analisada em detalhes. Wendell Stanley, bioquímico do
Instituto Rockfeller de Pesquisas Médicas, de Nova York, havia conseguido cristalizar
partículas virais dois anos antes, ou seja, em 1935.
A cristalização revelou
que, ao contrário de outros seres, os vírus não mudam, não crescem e têm modelo
padrão. Hapgood sugere que “se os cientistas pudessem apenas imaginar como
montá-los, isso poderia conduzi-los profundamente até a natureza da vida”.
Peter Medawar, falecido ganhador do Prêmio Nobel de Medicina, definiu esse
estranho agente patogênico da seguinte forma: “Vírus é uma notícia má envolta
em proteína”. Vários cientistas, como o professor David Knipe, da Faculdade de
Medicina de Harvard, não concordam com a afirmação do ilustre médico. Para este
docente, “sem os vírus a biologia molecular seria inimaginável”. Na sua
opinião, a disciplina estaria ainda na Idade da Pedra Lascada.
Pouco a pouco, esses
microscópicos agentes patogênicos vão tendo vários dos mistérios que os cercam
desvendados pela ciência. É o caso, por exemplo, da forma como o vírus da gripe
se expande nas células, questão que vinha intrigando os pesquisadores há muito
tempo. Todavia, isso foi entendido, e explicado, em 1993, por um grupo de
biólogos do Instituto Whitehead de Pesquisas Bioquímicas, sediado em Cambridge,
no Estado norte-americano de Massachussets. Os cientistas explicaram que a
descoberta não se trata de mera questão acadêmica. Tem importância
essencialmente prática. Facilita, sobretudo, a fabricação de medicamentos mais
eficientes para curar a gripe, doença que atormenta a humanidade há milênios.
Os pesquisadores
descobriram que os vírus das gripes penetram nas células por intermédio de um
mecanismo estranhamento parecido a ganchos e molas. Perfuram as membranas
celulares, depois de as enfraquecer, graças ao aumento do nível de acidez
delas. A descoberta tende a ser útil não somente no caso das gripes. Pode
ajudar, também, a compreender melhor os mecanismos de contaminação utilizados,
por exemplo, pelo HIV, no caso da Aids.
Os vírus são incapazes de se reproduzir por si próprios. São parasitas
que precisam penetrar nas células para depositar nelas seus genes, que
modificam o metabolismo das hospedeiras e provocam reprodução viral, e não a
celular. Ou seja, ludibriam quem os hospeda para dele se aproveitar. Todavia,
não podem se difundir fisicamente, pois as membranas das células que os
armazenam são muito resistentes. Daí a necessidade de perfurá-las, com seus
ganchos e molas.
Alguns vírus, quando
penetram células, sequer são infecciosos. Têm somente uma fibra de ácido
nucléico, quando precisariam ter duas. No entanto, por razão ainda não
explicada, a própria hospedeira, imediata e serviçalmente, repara essa
“deficiência”. Com isso, permite que a infecção seja deflagrada. Há células que
vão mais além. Integram os genes virais diretamente no próprio DNA. Assim,
sempre que a tal hospedeira se reproduz, também gera uma “cópia” do invasor.
Esse tipo é conhecido como “retrovírus” (caso da Aids).
Uma das teorias mais
aceitas sobre as origens dos vírus é a de que eles começaram, originalmente,
como bactérias. Com o passar do tempo, através do processo de seleção natural,
adquiriram tal habilidade em manipular hospedeiros que puderam se reduzir ao
mínimo, para reprodução dos próprios genes. Há quem afirme que os vírus
surgiram como partes das nossas próprias células. E que, não se sabe como e nem
por que, conseguiram se libertar e sair para o mundo, adquirindo habilidades
próprias para sobreviver e se multiplicar. Vá se saber, não é mesmo?!
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