Terceiro colocado poder ser o presidente
Pedro J.
Bondaczuk
A proclamação de vitória, feita, desde a segunda-feira,
pelo candidato direitista boliviano, Hugo Banzer Suarez, é prematura e pode
tumultuar um pouco mais um processo eleitoral todo ele marcado por
irregularidades. A primeira delas foi a exclusão de uma terça parte do
eleitorado (os camponeses), que não conseguiram registro para votar, por falta
de material de inscrição.
As outras ações irregulares
envolvem mazelas muito mais conhecidas em eleições na América Latina, como
urnas lacradas já contendo dezenas de votos para determinado candidato, antes
do início da votação (quando deveriam estar vazias); pessoas que sequer estavam
vivas no dia de votar, “votando” e sufrágios de menores de idade, impedidos,
legalmente, desse exercício democrático.
Por mais certeza de vitória que
um candidato à presidência possa ter, com apenas alguns poucos resultados das
apurações divulgados não pode afirmar, com relativa certeza, que suas previsões
vão ser confirmadas. Ou que as pesquisas de opinião vão se mostrar incorretas.
Mesmo em eleições visivelmente
fraudadas, ninguém pode se sentir garantido, na condição de vencedor, antes que
pelo menos a metade dos votos seja apurada. E não é este o caso da Bolívia.
Muito pelo contrário!
Com apenas 12 mil votos contados,
num eleitorado de cerca de 2,5 milhões de pessoas, nem Hugo Banzer pode
comemorar a vitória – que, se acontecer, tudo indica que será apenas parcial,
com a decisão final ficando nas mãos do Congresso – e nem os partidários do
ex-presidente Victor Paz Estenssoro devem considerar que tudo está perdido.
Afinas, as urnas já computadas, são dos redutos do candidato da direita: La Paz
e as cidades de Cochabamba e Santa Cruz de la Sierra.
À medida em que vão surgindo os
resultados dos departamentos mais longínquos do país, a diferença vai se
estreitando. E é mister que se lembre que, em 1979, o atual presidente, Hernán
Siles Zuazo, mesmo tendo disparado na frente, acabou vencendo as eleições por
uma diferença de apenas dois mil votos em relação ao segundo colocado.
Quanto ao aspecto fraudes, estou
com o presidente do Tribunal Eleitoral da Bolívia que, ainda no domingo,
advertiu à população e afirmou que é “muito melhor uma votação irregular, cheia
de imperfeições, do que um golpe de Estado perfeito”. E esse alerta é mais do
que oportuno, principalmente quando se sabe da longa tradição golpista dos
militares bolivianos.
Os mais recentes resultados
eleitorais mostram substancial recuperação do candidato Victor Paz Estenssoro.
Contudo, mesmo que ele surpreenda os observadores e venha a ganhar dianteira
nas apurações, uma coisa já é certa: ele não vai conseguir o percentual de
votos exigido pela Constituição para ser declarado eleito. E nem Hugo Banzer
tem essa possibilidade.
Como aconteceu em 1979, a
decisão, mais uma vez, vai caber ao Congresso, que também foi escolhido neste
domingo. E no âmbito do Legislativo, vai levar vantagem quem tiver mais
“punch”, maior capacidade de negociação, mais jogo de cintura político.
Nesse aspecto, a meu ver, a
vantagem não está nem com o candidato da direita e muito menos com o de centro.
O esquerdista, e ex-vice-presidente, Jaime Paz Zamora, conta com mais cacife,
principalmente entre os parlamentares dos pequenos partidos, que vão ser, sem
dúvida, os fiéis da balança do processo eleitoral.
Resta, apenas, saber qual será a
reação dos dois favoritos caso no final das contas dê essa zebra no turno
indireto, congressual, das eleições bolivianas. Recorde-se que a crise
institucional de 1979 começou dessa forma. E, infelizmente, na América Latina,
a história costuma sempre se repetir...monotonamente...
(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 18
de julho de 1985).
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