Wednesday, March 05, 2014

Ecologia é mais que conceito


Pedro J. Bondaczuk


O tema ecologia ainda não penetrou na mente dos cidadãos como deveria, para formar uma consciência de que, caso o meio ambiente não seja preservado, a própria vida desaparecerá da Terra. Alertas desse tipo, mesmo partindo de pessoas comprovadamente especializadas na matéria e de seriedade a toda prova, são encaradas de formas bastante variadas, que vão desde o pânico histérico à olímpica indiferença, quando não de absoluto ceticismo.

Enquanto isso, o Planeta, patrimônio de toda a humanidade e não somente de um país ou grupo deles, se deteriora, visível e crescentemente. O ambientalismo transformou-se em mera moda. Pessoas cujo único objetivo é o de ganhar espaço na mídia, fazem declarações estúpidas a respeito e promovem eventos que não dizem a que vieram, num flagrante desserviço a todos os homens, na medida em que se desmoralizam as campanhas preservacionistas sérias.

Tudo fica ainda mais nebuloso quando o assunto é arrastado para o pantanoso terreno político. Já foi passada para a população, por exemplo, a idéia de que ecologia é uma bandeira nitidamente de esquerda, como se salvar a Terra de um destino parecido ao de Vênus fosse uma prerrogativa de determinada ideologia e não caso de absoluta emergência.

A Organização de Alimentação e Agricultura das Nações Unidas, FAO, divulgou, ontem, um relatório acerca da acelerada extinção das florestas tropicais, que deveria tirar o sono de todas as pessoas de bom-senso.

Todavia, em virtude da maneira como o assunto foi tratado nos últimos tempos, causando um notório descrédito público nos alertas sérios que são feitos, certamente as informações contidas em tal documento – que corre o risco de sequer ser dado a público – deverão gerar discussões do tipo “nacionalistóide”, com uma corrente culpando o Brasil (com razão), pela irresponsável devastação da Amazônia e com ecologistas de botequim retrucando com questionamentos acerca da não-preservação dos pântanos da Flórida, ou dos mangues do Texas, ou das matas do Oregon, ou do Estado de Washington, por parte dos Estados Unidos.

O enfoque correto não é o de se raciocinar na base do “preserve o seu que eu preservo o meu”, mas do “preservemos nós” o que é patrimônio geral. O equilíbrio da natureza não conhece fronteiras nacionais. Qualquer coisa que se desregula no clima nos confins da Ásia, finda por se refletir em todas as partes, já que a Terra é um só e único planeta.

Se o coração de uma pessoa falhar, não importa que o restante do seu organismo seja absolutamente sadio. Tal indivíduo, fatalmente, morrerá. A mesma e inflexível verdade vale para o nosso planeta. O mais é conversa vazia de quem não tem competência e deseja aparecer.    

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 17 de agosto de 1990)


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