Cidade tem alternativas à recessão
Pedro J.
Bondaczuk
A crise que atinge o País e pouco a pouco reduz suas
atividades ao mínimo não poupou Campinas, cujas empresas enfrentam os mesmos
problemas que as demais, de outras partes, no que se refere a juros, custos e
queda de vendas. Todavia, dada a estrutura da economia campineira, pode-se
afirmar que por aqui os efeitos da recessão, embora severos, não têm as mesmas
proporções das outras cidades de igual porte.
O desemprego, por exemplo, é
menos acentuado, tanto na indústria, quanto no comércio e no setor de prestação
de serviços, do que na Grande São Paulo, situando-se dentro da média nacional
apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, de 5,5% da
População Economicamente Ativa (PEA).
Em parte, isto se deve ao
excelente padrão de rendimento médio existente em Campinas. A renda per capita
na cidade, apesar da crise e da recessão, é mais do que o dobro da do País, de
US$ 5 mil anuais, contra US$ 2 mil da brasileira.
Dois fatores contribuem para que
o campineiro enfrente o atual período com maior confiança. Em primeiro lugar, a
maioria de suas empresas atua no setor terciário, ou seja, de prestação de
serviços, que demanda pouquíssimo capital. Dos cerca de 450 mil trabalhadores,
que integram a PEA local, mais de 300 mil trabalham neste ramo. A segunda
grande vantagem está na modernidade das indústrias, boa parte das quais contam
com alta tecnologia, em especial as de informática, que existem em tal
quantidade a ponto de Campinas ser considerada o “Vale do Silício” do Brasil,
numa alusão à região da Califórnia, nos Estados Unidos, onde se concentram as
maiores e mais importantes fábricas de computadores e componentes
norte-americanas.
A cidade centraliza o segundo
mercado consumidor do Estado e um dos cinco maiores do País. Campinas detém 28%
da produção paulista de papel e papelão, 28% de couros e peles, 25% de produtos
químicos, 23% de minerais não-metálicos, 21% de têxteis, 19% de mecânicos e 18%
de alimentos.
Mas nem tudo por aqui são flores. Por exemplo, cerca de
120 mil campineiros vivem em favelas. O custo da alimentação é um dos mais
caros do País, conforme mostram pesquisas mensais da Ticket Restaurantes
realizadas nas principais zonas urbanas brasileiras. Neste particular, Campinas
perde apenas para a Zona Norte do Rio de Janeiro. O mesmo ocorre com habitação
e transportes.
Em contrapartida, todavia, esta
metrópole interiorana tem excelentes parâmetros sociais a ostentar. A
mortalidade infantil, por exemplo, é uma das mais baixas do Brasil, com índices
inferiores, inclusive, à média admissível pela Organização das Nações Unidas
para a Infância (Unicef).
Enquanto aqui morrem 27,29
crianças para cada grupo de mil, no País esses óbitos são de 65 por mil. E o
índice considerado “tolerável” pela Unicef situa-se em 30 por mil. Por todas
estas características, entre outras, Campinas pode ser considerada – sem que se
descambe para o ufanismo, mas se baseando, apenas, em frios dados estatísticos
– uma típica cidade de Primeiro Mundo, com suas vantagens e desvantagens,
plantada em pleno coração do Terceiro Mundo.
(Artigo publicado na página 6 do suplemento comemorativo ao 218º
aniversário de Campinas, do Correio Popular, em 14 de julho de 1992).
No comments:
Post a Comment