Sunday, March 16, 2014

Cidade tem alternativas à recessão


Pedro J. Bondaczuk


A crise que atinge o País e pouco a pouco reduz suas atividades ao mínimo não poupou Campinas, cujas empresas enfrentam os mesmos problemas que as demais, de outras partes, no que se refere a juros, custos e queda de vendas. Todavia, dada a estrutura da economia campineira, pode-se afirmar que por aqui os efeitos da recessão, embora severos, não têm as mesmas proporções das outras cidades de igual porte.

O desemprego, por exemplo, é menos acentuado, tanto na indústria, quanto no comércio e no setor de prestação de serviços, do que na Grande São Paulo, situando-se dentro da média nacional apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, de 5,5% da População Economicamente Ativa (PEA).

Em parte, isto se deve ao excelente padrão de rendimento médio existente em Campinas. A renda per capita na cidade, apesar da crise e da recessão, é mais do que o dobro da do País, de US$ 5 mil anuais, contra US$ 2 mil da brasileira.

Dois fatores contribuem para que o campineiro enfrente o atual período com maior confiança. Em primeiro lugar, a maioria de suas empresas atua no setor terciário, ou seja, de prestação de serviços, que demanda pouquíssimo capital. Dos cerca de 450 mil trabalhadores, que integram a PEA local, mais de 300 mil trabalham neste ramo. A segunda grande vantagem está na modernidade das indústrias, boa parte das quais contam com alta tecnologia, em especial as de informática, que existem em tal quantidade a ponto de Campinas ser considerada o “Vale do Silício” do Brasil, numa alusão à região da Califórnia, nos Estados Unidos, onde se concentram as maiores e mais importantes fábricas de computadores e componentes norte-americanas.

A cidade centraliza o segundo mercado consumidor do Estado e um dos cinco maiores do País. Campinas detém 28% da produção paulista de papel e papelão, 28% de couros e peles, 25% de produtos químicos, 23% de minerais não-metálicos, 21% de têxteis, 19% de mecânicos e 18% de alimentos.

Mas nem tudo por aqui são flores. Por exemplo, cerca de 120 mil campineiros vivem em favelas. O custo da alimentação é um dos mais caros do País, conforme mostram pesquisas mensais da Ticket Restaurantes realizadas nas principais zonas urbanas brasileiras. Neste particular, Campinas perde apenas para a Zona Norte do Rio de Janeiro. O mesmo ocorre com habitação e transportes.

Em contrapartida, todavia, esta metrópole interiorana tem excelentes parâmetros sociais a ostentar. A mortalidade infantil, por exemplo, é uma das mais baixas do Brasil, com índices inferiores, inclusive, à média admissível pela Organização das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

Enquanto aqui morrem 27,29 crianças para cada grupo de mil, no País esses óbitos são de 65 por mil. E o índice considerado “tolerável” pela Unicef situa-se em 30 por mil. Por todas estas características, entre outras, Campinas pode ser considerada – sem que se descambe para o ufanismo, mas se baseando, apenas, em frios dados estatísticos – uma típica cidade de Primeiro Mundo, com suas vantagens e desvantagens, plantada em pleno coração do Terceiro Mundo.

(Artigo publicado na página 6 do suplemento comemorativo ao 218º aniversário de Campinas, do Correio Popular, em 14 de julho de 1992).


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