Informações que salvam
Pedro J. Bondaczuk
O Fundo Especial das Nações
Unidas de Ajuda à Infância (Unicef) constatou, anos atrás, em um de seus tantos
relatórios anuais, que pelo menos 15 milhões de crianças no Terceiro Mundo
estavam morrendo mais por falta de esclarecimento dos respectivos pais, do que
propriamente por falta de recursos materiais. Passados vários anos, na verdade
duas ou três décadas, esse quadro melhorou, nos grotões mais atrasados da
África, Ásia ou América Latina? Creio que não. É bem possível, se não provável,
que tenha piorado, e bastante, dado o explosivo crescimento populacional nessas
regiões miseráveis e ignoradas. Algumas
providências extremamente simples e baratas poderiam (e deveriam) ser adotadas
e muitas vezes não o são porque assuntos dessa natureza não são considerados
“importantes” para ganharem espaço nos noticiários locais. Mas são, e muito.
As
medidas são tão óbvias, e de resultados tão espetaculares, que podem ser
consideradas “revolucionárias” no que se refere aos efeitos. Muitos desses
métodos, sejamos justos, popularizaram-se entre nós, moradores de regiões
urbanas e se tornaram até corriqueiros. Mas nos grotões mais atrasados são,
ainda, totalmente desconhecidos. Um deles é a Terapia de Reidratação Oral, uma espécie
de soro caseiro, que qualquer pessoa pode improvisar, com água, açúcar e um
tantinho de sal. Ela é capaz de tornar,
por si só, sem custar coisíssima alguma, a temível desidratação coisa do
passado. Mesmo assim... muitas crianças continuam morrendo desse mal. Não
porque seus pais desejem isso, é evidente, mas porque são mal informados, em
sua humildade, ignorância e miséria.
Outra
das providências baratas e acessíveis é ainda bem mais simples. Tratei dela em
diversas ocasiões em extensas matérias no Correio Popular, quando editor desse
jornal de Campinas. Refiro-me ao aleitamento materno, ainda encarado de maneira
equivocada, até por pessoas bastante esclarecidas em outros assuntos, mas que
neste se deixam envolver por preconceitos absurdos e inconcebíveis. Negar a um
recém nascido um alimento criado pela própria natureza (e o único de que ele
precisa para adquirir defesas naturais contra doenças, inclusive as decorrentes
da miséria), chega a se constituir em absurdo. Mas por volta de 15% das mães brasileiras
ainda fazem isso. Caberia aos meios de comunicação de massas, especialmente à
televisão, que hoje tem penetração ampla em todas as camadas, esse papel de
esclarecimento. Não em forma de uma ou outra notícia esparsa a propósito, mas
até em demoradas campanhas, saturando, se for necessário, os telespectadores,
mas fazendo com que eles entendam a importância da adoção dessas
“revolucionárias”, mas tão simples práticas.
Se
tais providências requeressem o uso de tecnologias avançadas, ou se demandassem
volumes imensos de investimentos, embora fosse dever das autoridades da área de
saúde torná-las acessíveis a todos, ainda haveria alguma explicação para taxas
de mortalidade infantil tão elevadas no Terceiro Mundo. Mas nada isso é
necessário. A verba requerida para a implantação desses programas é
relativamente irrisória, principalmente quando comparada com tanto dinheiro que
se desperdiça em autênticas aventuras, que a nada conduzem (isso sem falar
nessa “praga” mundial, que é a corrupção). As mortes decorrentes dos piores
efeitos da pobreza podem ser reduzidas, numa hipótese pessimista, em 50%. Por
que, então, não aderir a essa revolução de bom senso e humanitarismo?
As condições sanitárias
inadequadas, aliadas a uma crônica falta de proteínas, têm matado mais pessoas
no Terceiro Mundo do que muitas guerras e revoluções que afetam seus países.
Estudo do Worldwatch Institute, de Washington, realizado em fins dos anos 80,
mostrou em que direção os povos subdesenvolvidos deveriam orientar seus
investimentos, para resolver uma série de graves problemas de saúde pública,
entre os quais a redução das absurdas taxas de mortalidade infantil. Doenças
como o cólera, o tifo e as diarréias agudas poderiam ser evitadas pelo simples
acesso da população à água limpa e a sanitários condizentes com seres
civilizados. Esse tipo de investimento, porém, não rende votos. Não “aparece”
para a população. Uma lástima!
O chamado Terceiro Mundo,
além de carente, é dominado por regimes e governos ditatoriais que pouco ou
nada se importam com o bem estar e o futuro de seus respectivos povos. Ademais,
parte considerável de seus países vive em permanente conflito, com guerras
civis intermináveis e perversas, que arrasam o pouco que eles já têm. Seus
governos – salvo uma ou outra honrosa exceção – se preocupam com o quê? Em
adquirir toneladas e mais toneladas de armas, jogando pelo esgoto (em linguagem
figurada, é claro, pois sequer dispõem desse elementar recurso sanitário)
preciosíssimos recursos, a maioria das vezes tomados de empréstimos alhures,
com o compromisso de pagamento de escorchantes juros.
Buscam
ilusórios status junto a vizinhos tão miseráveis quanto eles, ao invés de se
preocuparem com conquistas primárias, mas fundamentais, como a saúde pública, a
alimentação e a educação dos seus habitantes, tarefas prioritárias de qualquer
governo que se preze e mereça essa designação, professe que ideologia for. É
indispensável que os povos do Terceiro Mundo percam o costume, adquirido no
período em que a maioria dos países era constituída de colônias das potências
européias, de esperar dos outros a satisfação das suas necessidades.
Cada
recurso mal aplicado representa centenas de milhares de pessoas condenadas a
uma qualidade de vida subumana, quando não à morte prematura. O tempo não pára
jamais... Se alguém pretender construir um futuro decente para os filhos e
netos, deve fazê-lo hoje, agora, sem nenhum retardo. Qualquer vacilação ou
irresponsabilidade tende a ter preço altíssimo, intolerável, que todos,
indistintamente, acabarão pagando, em maior ou menor medida, e inexoravelmente.
Informação neles!!!!
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