Friday, March 14, 2014

Informações que salvam

Pedro J. Bondaczuk

O Fundo Especial das Nações Unidas de Ajuda à Infância (Unicef) constatou, anos atrás, em um de seus tantos relatórios anuais, que pelo menos 15 milhões de crianças no Terceiro Mundo estavam morrendo mais por falta de esclarecimento dos respectivos pais, do que propriamente por falta de recursos materiais. Passados vários anos, na verdade duas ou três décadas, esse quadro melhorou, nos grotões mais atrasados da África, Ásia ou América Latina? Creio que não. É bem possível, se não provável, que tenha piorado, e bastante, dado o explosivo crescimento populacional nessas regiões miseráveis e ignoradas.  Algumas providências extremamente simples e baratas poderiam (e deveriam) ser adotadas e muitas vezes não o são porque assuntos dessa natureza não são considerados “importantes” para ganharem espaço nos noticiários locais. Mas são, e muito.
  
As medidas são tão óbvias, e de resultados tão espetaculares, que podem ser consideradas “revolucionárias” no que se refere aos efeitos. Muitos desses métodos, sejamos justos, popularizaram-se entre nós, moradores de regiões urbanas e se tornaram até corriqueiros. Mas nos grotões mais atrasados são, ainda, totalmente desconhecidos. Um deles é a Terapia de Reidratação Oral, uma espécie de soro caseiro, que qualquer pessoa pode improvisar, com água, açúcar e um tantinho de sal. Ela é  capaz de tornar, por si só, sem custar coisíssima alguma, a temível desidratação coisa do passado. Mesmo assim... muitas crianças continuam morrendo desse mal. Não porque seus pais desejem isso, é evidente, mas porque são mal informados, em sua humildade, ignorância e miséria.
  
Outra das providências baratas e acessíveis é ainda bem mais simples. Tratei dela em diversas ocasiões em extensas matérias no Correio Popular, quando editor desse jornal de Campinas. Refiro-me ao aleitamento materno, ainda encarado de maneira equivocada, até por pessoas bastante esclarecidas em outros assuntos, mas que neste se deixam envolver por preconceitos absurdos e inconcebíveis. Negar a um recém nascido um alimento criado pela própria natureza (e o único de que ele precisa para adquirir defesas naturais contra doenças, inclusive as decorrentes da miséria), chega a se constituir em absurdo. Mas por volta de 15% das mães brasileiras ainda fazem isso. Caberia aos meios de comunicação de massas, especialmente à televisão, que hoje tem penetração ampla em todas as camadas, esse papel de esclarecimento. Não em forma de uma ou outra notícia esparsa a propósito, mas até em demoradas campanhas, saturando, se for necessário, os telespectadores, mas fazendo com que eles entendam a importância da adoção dessas “revolucionárias”, mas tão simples práticas.
  
Se tais providências requeressem o uso de tecnologias avançadas, ou se demandassem volumes imensos de investimentos, embora fosse dever das autoridades da área de saúde torná-las acessíveis a todos, ainda haveria alguma explicação para taxas de mortalidade infantil tão elevadas no Terceiro Mundo. Mas nada isso é necessário. A verba requerida para a implantação desses programas é relativamente irrisória, principalmente quando comparada com tanto dinheiro que se desperdiça em autênticas aventuras, que a nada conduzem (isso sem falar nessa “praga” mundial, que é a corrupção). As mortes decorrentes dos piores efeitos da pobreza podem ser reduzidas, numa hipótese pessimista, em 50%. Por que, então, não aderir a essa revolução de bom senso e humanitarismo?
  
As condições sanitárias inadequadas, aliadas a uma crônica falta de proteínas, têm matado mais pessoas no Terceiro Mundo do que muitas guerras e revoluções que afetam seus países. Estudo do Worldwatch Institute, de Washington, realizado em fins dos anos 80, mostrou em que direção os povos subdesenvolvidos deveriam orientar seus investimentos, para resolver uma série de graves problemas de saúde pública, entre os quais a redução das absurdas taxas de mortalidade infantil. Doenças como o cólera, o tifo e as diarréias agudas poderiam ser evitadas pelo simples acesso da população à água limpa e a sanitários condizentes com seres civilizados. Esse tipo de investimento, porém, não rende votos. Não “aparece” para a população. Uma lástima!
  
O chamado Terceiro Mundo, além de carente, é dominado por regimes e governos ditatoriais que pouco ou nada se importam com o bem estar e o futuro de seus respectivos povos. Ademais, parte considerável de seus países vive em permanente conflito, com guerras civis intermináveis e perversas, que arrasam o pouco que eles já têm. Seus governos – salvo uma ou outra honrosa exceção – se preocupam com o quê? Em adquirir toneladas e mais toneladas de armas, jogando pelo esgoto (em linguagem figurada, é claro, pois sequer dispõem desse elementar recurso sanitário) preciosíssimos recursos, a maioria das vezes tomados de empréstimos alhures, com o compromisso de pagamento de escorchantes juros.
  
Buscam ilusórios status junto a vizinhos tão miseráveis quanto eles, ao invés de se preocuparem com conquistas primárias, mas fundamentais, como a saúde pública, a alimentação e a educação dos seus habitantes, tarefas prioritárias de qualquer governo que se preze e mereça essa designação, professe que ideologia for. É indispensável que os povos do Terceiro Mundo percam o costume, adquirido no período em que a maioria dos países era constituída de colônias das potências européias, de esperar dos outros a satisfação das suas necessidades.
  
Cada recurso mal aplicado representa centenas de milhares de pessoas condenadas a uma qualidade de vida subumana, quando não à morte prematura. O tempo não pára jamais... Se alguém pretender construir um futuro decente para os filhos e netos, deve fazê-lo hoje, agora, sem nenhum retardo. Qualquer vacilação ou irresponsabilidade tende a ter preço altíssimo, intolerável, que todos, indistintamente, acabarão pagando, em maior ou menor medida, e inexoravelmente. Informação neles!!!!


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