Balanço positivo
Pedro J. Bondaczuk
O
balanço da primeira semana de implantação do real é positivo. Claro que houve
problemas, naturais e esperados para uma operação desse porte. Faltaram, por
exemplo, moedas para troco, parte considerável dos preços foi convertida pelo
pico dos picos e espertalhões aproveitaram-se da ingenuidade ou da
desinformação de muitos para ganhar dinheiro.
As
expectativas, todavia, eram mais sombrias. Esperava-se muita confusão e
descontentamento generalizado, que na verdade acabaram não se configurando. A
estratégia montada pelo ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, e pelo presidente
do Banco Central, Pedro Malan, funcionou a contento.
"Então
o plano vai dar certo?", perguntaria o leitor. Bem, a coisa não tão
simples. É muito cedo para qualquer tipo de avaliação que seja mais do que
simples palpite. O caminho nos parece correto. Mas há inúmeras condições a
serem satisfeitas para que finalmente possamos nos livrar da inflação e
planejar com calma e critério a aguardada e necessária retomada do
desenvolvimento.
Para
surpresa dos pessimistas e até os setores do governo, a aceitação do real junto
à população foi alta, de 60%, de acordo com as pesquisas. Trata-se de um fator
a mais, o psicológico, o da credibilidade, a dar respaldo ao ministro Ricupero,
que até aqui vem se mostrando impecável na administração dessa fase crucial do
plano.
À
primeira vista, parece-nos que houve exagero na dosagem da taxa de juros. Que
ela devesse estar alta nestes primeiros dias, para evitar eventual explosão de
consumo, não há que contestar. Mas o patamar em que se situou ameaça paralisar
os negócios e produzir a indesejável recessão, que a equipe econômica prometeu
que não haveria.
Nos
próximos dias, quando o panorama ficar mais claro, provavelmente haverá uma
correção nesse sentido, caso se comprove excesso na dose. Está certo,
certíssimo, o ministro da Fazenda quando recomenda às pessoas para que adiem
suas compras que não forem indispensáveis.
Juros
elevados --- desde eu não exagerados --- tendem a impedir especulações com
estoques. No sufoco, os que exageraram nos preços terão que voltar atrás e
remarcar para baixo, sob pena de estagnação em seus negócios. Afinal, o mercado
possui seus próprios mecanismos reguladores, desde que o governo não viva
interferindo e mudando as regras do jogo, como já se tornou rotina no Brasil.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 9 de julho de 1994).
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