Saturday, March 22, 2014

Balanço positivo


Pedro J. Bondaczuk


O balanço da primeira semana de implantação do real é positivo. Claro que houve problemas, naturais e esperados para uma operação desse porte. Faltaram, por exemplo, moedas para troco, parte considerável dos preços foi convertida pelo pico dos picos e espertalhões aproveitaram-se da ingenuidade ou da desinformação de muitos para ganhar dinheiro.

As expectativas, todavia, eram mais sombrias. Esperava-se muita confusão e descontentamento generalizado, que na verdade acabaram não se configurando. A estratégia montada pelo ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, e pelo presidente do Banco Central, Pedro Malan, funcionou a contento.

"Então o plano vai dar certo?", perguntaria o leitor. Bem, a coisa não tão simples. É muito cedo para qualquer tipo de avaliação que seja mais do que simples palpite. O caminho nos parece correto. Mas há inúmeras condições a serem satisfeitas para que finalmente possamos nos livrar da inflação e planejar com calma e critério a aguardada e necessária retomada do desenvolvimento.

Para surpresa dos pessimistas e até os setores do governo, a aceitação do real junto à população foi alta, de 60%, de acordo com as pesquisas. Trata-se de um fator a mais, o psicológico, o da credibilidade, a dar respaldo ao ministro Ricupero, que até aqui vem se mostrando impecável na administração dessa fase crucial do plano.

À primeira vista, parece-nos que houve exagero na dosagem da taxa de juros. Que ela devesse estar alta nestes primeiros dias, para evitar eventual explosão de consumo, não há que contestar. Mas o patamar em que se situou ameaça paralisar os negócios e produzir a indesejável recessão, que a equipe econômica prometeu que não haveria.

Nos próximos dias, quando o panorama ficar mais claro, provavelmente haverá uma correção nesse sentido, caso se comprove excesso na dose. Está certo, certíssimo, o ministro da Fazenda quando recomenda às pessoas para que adiem suas compras que não forem indispensáveis.

Juros elevados --- desde eu não exagerados --- tendem a impedir especulações com estoques. No sufoco, os que exageraram nos preços terão que voltar atrás e remarcar para baixo, sob pena de estagnação em seus negócios. Afinal, o mercado possui seus próprios mecanismos reguladores, desde que o governo não viva interferindo e mudando as regras do jogo, como já se tornou rotina no Brasil.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 9 de julho de 1994).


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