Prêmio
à perseverança
Pedro J. Bondaczuk
A primeira-ministra britânica, Margaret Thatcher,
vai reparar, amanhã, em Pequim, uma das maiores injustiças registradas na
história contemporânea e, ao mesmo tempo, a Grã-Bretanha irá se desfazer de uma
de suas derradeiras colônias, resquício de um monumental império do passado
"onde o sol jamais se punha", tal era a sua extensão. A "Dama de
Ferro" vai assinar, com toda a pompa que o momento exige, um acordo
devolvendo à China, dentro de 13 anos, a posse de Hong Kong, em poder dos
ingleses desde 1842.
Cabe aqui recordar um pouco de história para situar
melhor o leitor. Afinal, o noticiário do dia a dia nada mais é do que um
registro histórico do quotidiano. Hong Kong, que no idioma chinês quer dizer
"córrego suave", passou ao domínio da Grã-Bretanha como parte de uma
indenização cobrada à China por sua derrota na chamada "Guerra do
Ópio". Esta teve início em 1840, mas o interessante é a razão que levou
ambos os países a esse conflito desigual.
Na metade do século passado, as exportações de
produtos chineses para o Ocidente excediam em muito suas importações.
Principalmente a Companhia Britânica das Índias Orientais apresentava enorme
desvantagem em sua balança comercial em relação ao império da China. Para compensar
essa inferioridade, porém, seus hábeis negociantes tiveram uma "idéia
brilhante", digna dos mais cavernosos chefes da Máfia. Ou seja, resolveram
introduzir (ilegalmente, é claro), o ópio inglês na China, para satisfazer aos
inúmeros viciados lá existentes.
A medida, como seria lícito de se supor, despertou a
ira das autoridades imperiais chinesas que, numa ação até de autodefesa,
ordenaram a destruição da perniciosa mercadoria. Foi o quanto bastou para o
governo britânico, cujo império estava em franca expansão e que desejava apenas
um pretexto para anexar uns quilômetros quadrados de terras a mais ao seu
patrimônio, declarar guerra à China. É claro que os chineses não tinham
qualquer chance de vencer o conflito, como de fato não venceram.
Batidos no campo de batalha, tiveram que ceder Hong
Kong aos britânicos e ainda, de "lambugem", pelo fato de terem sido
agredidos, pagaram indenização de US$ 21 milhões. Não se trata, portanto, de
nenhuma extraordinário benevolência da Grã-Bretanha devolver à China o que
sempre, por direito, lhe pertenceu! Aliás, a cessão de Hong Kong seria
confirmada, anos depois, através de nova indenização oriunda de outra guerra,
também nada abonadora para os ingleses, que foi a dos "Boxers", no
raiar deste século, em 1900.
Por tudo o que foi exposto acima, a cerimônia de
amanhã, em Pequim, terá um sabor muito especial para os chineses. O do
reconhecimento do seu novo "status" como nação, com a qual, agora, as
coisas são tratadas em pé de igualdade e não mais com a subalternidade de
apenas poucas décadas atrás. Não resta dúvida que é uma conquista da
perseverança oriental!
(Artigo publicado na página 12, Internacional, do
Correio Popular, em 18 de dezembro de 1984).
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