Escola
para todos
Pedro J. Bondaczuk
O Brasil inaugura, a partir de agora, uma campanha
contra um dos grandes flagelos que ainda afetam a humanidade e mantêm cerca de
um bilhão de seres humanos nas trevas da ignorância: o analfabetismo. O
programa, lançado ontem, pelo presidente Fernando Collor, visa a atingir cerca
de 27 milhões de brasileiros que, por não saberem ler e nem escrever, não têm
condições de assumir plenamente a sua cidadania.
Este, por sinal, não é o primeiro esforço nesse
sentido, já que, até há poucos anos, tínhamos o Mobral, cantado e decantado em
verso e prosa e que, como toda a iniciativa louvável tomada entre nós, terminou
de forma melancólica. Todavia, não se pode negar que, sem esse movimento, nossa
situação, nesse aspecto, seria hoje muito pior do que é.
É necessário que esse gigantesco esforço de
alfabetização comprometa toda a sociedade – o governo, as empresas, as
associações classistas e todos os setores – já que se trata de um mal que afeta
a todo o mundo e não somente àqueles que não tiveram a oportunidade de se
instruir.
O governo promete que verbas não irão faltar para
que o programa, que se pretende amplo, contínuo e incansável, tenha sucesso.
Informa já dispor de Cr$ 50 bilhões para serem aplicados entre os anos de 1991
e 1992. E que, desse total, Cr$ 10 bilhões começarão a ser utilizados nos
próximos meses, até o final do corrente ano.
Além de alfabetizar os analfabetos atuais, torna-se
indispensável que se atue no outro pólo, no da infância, hoje abandonada e
desassistida, com cerca de sete milhões de menores perambulando pelas ruas e
outros 30 milhões em estado de carência.
É preciso dar condições para que esses brasileiros
possam exercer um dos principais direitos que a Constituição lhes assegura: o
da educação. É necessário impedir o alto grau de evasão escolar, motivado pela
miséria, principalmente nos primeiros anos de aprendizado.
Aí reside a causa fundamental do crescimento
acelerado do número de analfabetos – principalmente os chamados “funcionais”,
que sabem, somente, “desenhar” o nome e juntar as letras para formar palavras,
mas não atinam com o que lêem – no País.
Para que o analfabetismo seja erradicado na nossa
sociedade, se faz indispensável, portanto, um legítimo pacto social, que
incorpore à vida nacional contingentes de milhões e milhões de deserdados, que
hoje sobrevivem na marginalidade, à espera de que as elites equacionem a
interminável crise brasileira.
Caso não se aja assim, por mais pessimista que a
afirmação possa soar, é quase certo que o novo programa não vai passar de mera
manifestação de boas intenções. E, como diz o adágio popular, “de
bem-intencionados o inferno está cheio”.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 11 de setembro de 1990)
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