Deslumbrante
Pedro J. Bondaczuk
A
poesia é, sobretudo, o absoluto conhecimento do manejo das palavras. Elas são a
matéria-prima do poeta, com as quais pinta quadros líricos ou trágicos,
heróicos ou tétricos, humanos ou divinos. São suas “tintas”, para tornar
concretos sonhos, fantasias e elucubrações.
Raros
escritores aproximaram-se tanto do perfeito manejo vocabular como o chileno
Pablo Neruda. Seu domínio do idioma – no caso, o espanhol – fez com que
extraísse de cada termo, até o aparentemente mais banal, força magnética e
contundência, até. É um dos raros poetas cujos poemas não perdem força e
expressividade mesmo quando traduzidos.
Seu
ato de fé na poesia se expressa no poema "A Palavra", que começa
assim:
"Sim, senhor,
tudo o que queira,
mas são as palavras
as que cantam,
as que sobem
e baixam.
Prosterno-me
diante delas,
persigo-as,
mordo-as,
derreto-as.
Amo tanto as palavras!".
Mais
adiante, acrescenta:
"Brilham como
pedras coloridas,
saltam como
peixes de prata,
são espuma,
fio, metal,
orvalho".
A
simples menção dessas palavras no poema formam, na mente do leitor, imagens
encantadas. Visualizamos cada objeto que elas simbolizam. Embalamo-nos em sua
musicalidade. Sonhamos o sonho do poeta.
Neruda
foi mestre neste exercício de esgrimir com palavras. Todavia sua poesia não se
limita, como muitos poetas fazem, em simplesmente lançar a esmo expressões bem
escolhidas e sonoras. Confere unidade ao texto. Dá-lhe substância, significado
e calor humano.
Embora
politicamente um guerreiro, defensor das grandes causas sociais e contagiado
pelo "vírus" da utopia socialista, usava sua arte não como
lança, adaga, pistola ou bomba, mas como
bálsamo, perfume, melodia.
É
dele esta comparação:
"A poesia é um ato de paz.
O poeta nasce da paz,
como o pão nasce da farinha.
Os incendiários, os guerreiros,
os lobos buscam o poeta
para queimá-lo, para matá-lo,
para mordê-lo.
Um espadachim
deixou Pushkin ferido
de morte entre
as árvores de um
parque sombrio.
Os cavalos de pólvora
galoparam enlouquecidos
sobre o corpo sem vida
de Pettofi.
Lutando contra a guerra
morreu Byron na Grécia.
Os fascistas espanhóis
iniciaram a guerra
na Espanha
assassinando seu melhor poeta".
Se
tivésse que definir a poesia de Neruda numa só palavra, a chamaría de
"deslumbrante"! E não é?!!!
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