Cai qualidade da
programação
Pedro
J. Bondaczuk
A programação de TV,
contrariando muitas expectativas (inclusive minhas) sofreu um decréscimo de
qualidade nestes seis meses de 1984, em relação ao ano passado. As novelas
estão piores, os shows estão rareando e até na área esportiva os eventos
mostram-se menos interessantes, depois de um Campeonato Brasileiro de nível
técnico sofrível.
No que diz respeito a
filmes, nem é bom falar. Além de escassearem as novidades, ou seja, os
lançamentos, há uma quantidade imensa de reprises e de filminhos de segunda
categoria e reapresentados duas, três e até mesmo quatro vezes na TV, em curto
intervalo de tempo, a ponto do telespectador já conhecer, de trás para a
frente, de cor e salteado, todo o conteúdo dos seus enredos.
Após o grande esforço
do Carnaval, quando permaneceu mais de 84 horas seguidas no ar, todos esperavam
que a Rede Manchete fosse entrar “arrebentando” em 1984. Essa expectativa ainda
existe, mas vai arrefecendo à medida que o ano caminha para a segunda metade.
O que pude notar, é que
todas as emissoras, sem exceção, investiram muito nos Jogos Olímpicos de Los
Ângeles, que começam em exatos 29 dias. Mas o telespectador, por mais que goste
de esportes, não se liga tanto nessa competição. Pelo menos o “médio”, a grande
maioria dos que se ligam frequentemente nesse entretenimento tão prático, já
não mais tão barato como antes (as contas de luz que o digam), mas ainda o mais
acessível a praticamente todas as camadas da população, que é a televisão.
Se fosse uma Copa do
Mundo, em que o Brasil, pela simples presença, é sempre o favorito, tudo bem.
Haveria razões de sobra para tanto investimento, se bem que, mesmo assim, não
se justificaria o descuido do restante da programação. Mas em Olimpíadas, à
exceção de algumas transmissões de vôlei (que pode desbancar, em pouco tempo, o
futebol, na preferência do brasileiro), e do basquete, com o Brasil mostrando
uma equipe bastante competitiva, as demais modalidades não despertam maiores
curiosidades do público. Apenas a contabilização das medalhas obtidas é
acompanhada com relativo interesse, assim mesmo do segundo colocado para baixo,
pois o primeiro, nem é preciso lembrar, será, sem qualquer dúvida, o país
anfitrião, ainda mais agora que seus únicos rivais, os soviéticos, resolveram
boicotar os jogos.
No caso das
telenovelas, por exemplo, a queda de qualidade aparece mais, já que esse é o
tipo de programa que conta com maior audiência. Nenhuma das histórias
atualmente em exibição chega a se igualar, por exemplo, a “Guerra dos sexos”,
ou a “Eu prometo” e “Pão, pão, beijo, beijo”, apenas para citar três exemplos.
“Partido alto” começou com um pique enorme, fazendo o crítico e o expectador
crerem que seria uma novela capaz de marcar época na TV. Mas aos poucos, à medida
que os capítulos vão se desenvolvendo, a trama vai ficando um tanto confusa e
repetitiva.
A saída da Bandeirantes
da competição nesse gênero, foi bastante nociva. A TVS, por mais que capriche,
não dispõe dos mesmos recursos técnicos e financeiros que a emissora do Jardim
Botânico. E embora faça um grande esforço para subtrair fatias de audiência,
não chega, nem de longe, a ameaçar a grande supremacia global.
De relevante, neste
ano, em termos de novidade, temos a destacar, pelo menos aqui, o lançamento do
“Programa Goulart de Andrade”, aos sábados, pela Record. Há muito que já se
fazia necessária uma programação que mostrasse ao público o quanto é rica,
artisticamente falando, e cheia de vida, a madrugada paulistana, que se
rivaliza, inclusive, com as grandes metrópoles mundiais. O quadro do Fausto
Silva, “Perdidos na noite”, leva o telespectador para o mundo diferente , que a
maioria, secretamente, desejaria freqüentar, mas não tem condições.
O “Brasil urgente”, da
Bandeirantes, é outra novidade, mas a meu ver ainda não emplacou. Sobre seus
méritos e possíveis deméritos, prefiro aguardar mais um pouco para falar algo,
já que o lançamento é recente demais para ser devidamente avaliado.
Alguns destaques do ano
passado conservaram seu ritmo, embora não tenham evoluído. São os casos de “Bar
Academia”, e do “Show da noite”. Menos mau. Pelo menos não sofreram retrocesso.
Mas correm o risco de cansar o telespectador, caso não apresentem inovações.
No setor de humorismo
(e isto já ressaltei nesta coluna), apenas dois programas apresentaram nível
pelo menos aceitável: “Viva o gordo” e “Chico Anysio Show”. Mas já existem
comentários de que ambos podem sair do ar, no próximo ano, o que seria
sumamente lamentável, pois a nossa TV ficaria, literalmente, sem este gênero,
tal é a diferença de qualidade desses dois geniais humoristas em relação aos
demais.
Para complicar os
domingos daqueles que, ou por motivos financeiros (a grande maioria), ou
profissionais (os que trabalham em casa nesse dia), parece que as transmissões
do Campeonato Paulista ficarão restritas a um único dia por semana. Restará,
até meados de setembro, a chance do acompanhamento do Campeonato Mundial de
Fórmula Um, este sim um acontecimento que vem crescendo de interesse,
principalmente em virtude de Nelson Piquet ter ficado novamente no páreo para a
conquista de outro título e das peripécias desse incrível Ayrton Senna que,
mais dia menos dia, será a estrela máxima desse esporte. Minha expectativa é
que, nos próximos seis meses, as emissoras recuperem o tempo perdido e
transformem a programação deste ano numa das melhores até hoje apresentadas.
Mas que está difícil, não tenham dúvidas, isto está!!!
(Comentário
publicado na coluna Vídeo, editoria de Artes, página 22, do Correio Popular, em
29 de junho de 1984).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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