Quem
restará para apagar a luz?
Pedro J. Bondaczuk
O
presidente soviético, Mikhail Gorbachev, na breve visita que realizou à
Alemanha Oriental, para a comemoração do 40º aniversário de fundação do Estado
germânico marxista, está levando, provavelmente, em sua bagagem, uma série de
conselhos úteis ao seu colega Erich Honecker. O principal deles, certamente,
refere-se à necessidade dos dirigentes de linha dura da RDA de promoverem uma
reforma em seu sistema, suspendendo uma série de restrições, de caráter
político, que pesa sobre essa sociedade.
E nem seria necessário nenhum aconselhamento para
que a liderança local (se fosse um pouquinho mais consciente) percebesse que há
algo de muito errado ali, ao invés de ficar atribuindo a enorme fuga em massa
de seus cidadãos a possíveis campanhas ocidentais de aliciamento. É só enxergar
o óbvio!
É claro que para o Ocidente o atual êxodo, que já
atinge a cerca de 50 mil pessoas em menos de um mês, é um “prato cheio”.
Afinal, por uma série de razões, o lado capitalista do mundo quer derrubar o
sistema vigente na outra parte, na oriental, do Planeta.
Em primeiro lugar (para não dizer primeiríssimo),
está a motivação econômica. Se houver um sistema de livre mercado no Leste,
seus produtos terão ávidos potenciais consumidores, multiplicando os seus
lucros e gerando milhares de novos empregos, para absorver seus cidadãos
ociosos.
Outros motivos mais, como o militar, o político e
até o religioso, podem ser mencionados. Mas a principal razão é de caráter
sumamente financeiro. Todavia, não se pode atribuir a fuga em massa ao possível
aliciamento ocidental. Ou, pelo menos, não somente a ele.
A chamada República Democrática Alemã, por exemplo,
está longe, muito distante, de justificar seu próprio nome. Democracia é algo
que virtualmente inexiste ali. Que representatividade da vontade popular pode
ter um partido único? Será que é possível existir, em algum lugar, algum grupo
social cujos componentes pensem exatamente igual, com uma homogeneidade
absoluta?
Mas nem o mais ingênuo dos ingênuos seria capaz de
acreditar nessa possibilidade! Ela não combina com a própria natureza humana,
contraria toda a lógica. Ademais, o princípio da propriedade ainda é um forte
estimulante à iniciativa individual. Se nos perguntarem se no Ocidente tudo é
um mar de rosas, nós, e ninguém, teremos condições de responder
afirmativamente, sem estarmos faltando com a verdade.
Mas não é o sistema ocidental que está errado, mas
sim o seu funcionamento. O mesmo, contudo, não se pode dizer do lado oriental.
Por isso, ou Honecker promove mudanças fundamentais na Alemanha Oriental, ou
vai ocorrer ali o que Lech Walesa prognosticou ontem: “Não sobrará ninguém para
apagar a luz”.
(Artigo publicado na página 11, Internacional, do
Correio Popular, em 7 de outubro de 1989).
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