Munição para o inimigo
Pedro J. Bondaczuk
O
empate da seleção brasileira com a Suécia fez com que o otimismo da crítica
especializada e da torcida se revertesse por completo e se transformasse em
desalento e pessimismo. O clima de "já ganhou", instalado logo após a
convincente vitória sobre a Rússia, foi alterado para o de "já
perdeu".
Claro
que não se pode pedir racionalidade quando há o envolvimento da paixão.
Pede-se, no entanto, um pouquinho, por mínimo que seja, de inteligência. Que o
Brasil jogou mal contra a Suécia, ninguém contesta. Mas e daí? Classificou-se
em primeiro lugar para a fase seguinte, não perdeu nenhuma partida, teve o
segundo ataque mais positivo dessa fase da competição e a defesa menos vazada.
Onde está o problema?!
Ah! A irritação é com a teimosia do técnico
Carlos Alberto Parreira na escalação da equipe? Gostaríamos que os pessimistas
e os derrotistas apontassem uma única ocasião em que não houve esse tipo de
contestação na seleção brasileira.
Em
1958, por exemplo, houve chiadeira geral pelo De Sordi ser o titular e por
Djalma Santos ficar no banco, entre outras coisas. Garrincha, Zito e Pelé eram
reservas. Quem concordou, em 1970, com as convocações de Félix para o gol e da
dupla Brito e Fontana para a zaga? E no entanto, o Brasil foi campeão.
Concordaremos
com as críticas ácidas que estão sendo feitas depois do fato consumado. Após
nossa seleção ser eliminada, se é que vai ser. Acreditamos, e acreditaremos até
o último minuto que, apesar de Parreira, de Zagalo, do esquema tático
inadequado, da escalação equivocada e da máscara de alguns jogadores, o Brasil
chegará à final e conquistará o tetra. Entre expor-me ao ridículo por
pseudo-excesso de otimismo e estar exposto à mesma situação por ser derrotista,
prefiro o primeiro risco.
O
leitor já imaginou se a Seleção for campeã? Será que os críticos de ocasião, os
"150 milhões de técnicos" vão sustentar tudo o que já disseram?
Duvido! Foi assim em 1958. Repetiu-se em 1962. Não se mostrou muito diferente
em 1970.
Agitar
o ambiente, neste momento, raia à estupidez. É o mesmo que fornecer munição ao
adversário, que tenha um fuzil AR-15 sem balas e a gente lhe dê o meio, que não
possui, de nos alvejar. Há muita gente que sequer sabe o que é torcer. Se a
Seleção fizer fiasco e for eliminada, digamos, já na segunda-feira, pela
esforçada, porém ingênua e fraquíssima equipe norte-americana, aí sim o alarido
atual será justificado. Até lá...
(Artigo
publicado na página 2, do caderno "Copa 94" do Correio Popular, em 1
de julho de 1994)
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk.
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