Monday, March 24, 2014

Munição para o inimigo


Pedro J. Bondaczuk


O empate da seleção brasileira com a Suécia fez com que o otimismo da crítica especializada e da torcida se revertesse por completo e se transformasse em desalento e pessimismo. O clima de "já ganhou", instalado logo após a convincente vitória sobre a Rússia, foi alterado para o de "já perdeu".

Claro que não se pode pedir racionalidade quando há o envolvimento da paixão. Pede-se, no entanto, um pouquinho, por mínimo que seja, de inteligência. Que o Brasil jogou mal contra a Suécia, ninguém contesta. Mas e daí? Classificou-se em primeiro lugar para a fase seguinte, não perdeu nenhuma partida, teve o segundo ataque mais positivo dessa fase da competição e a defesa menos vazada. Onde está o problema?!

 Ah! A irritação é com a teimosia do técnico Carlos Alberto Parreira na escalação da equipe? Gostaríamos que os pessimistas e os derrotistas apontassem uma única ocasião em que não houve esse tipo de contestação na seleção brasileira.

Em 1958, por exemplo, houve chiadeira geral pelo De Sordi ser o titular e por Djalma Santos ficar no banco, entre outras coisas. Garrincha, Zito e Pelé eram reservas. Quem concordou, em 1970, com as convocações de Félix para o gol e da dupla Brito e Fontana para a zaga? E no entanto, o Brasil foi campeão.

Concordaremos com as críticas ácidas que estão sendo feitas depois do fato consumado. Após nossa seleção ser eliminada, se é que vai ser. Acreditamos, e acreditaremos até o último minuto que, apesar de Parreira, de Zagalo, do esquema tático inadequado, da escalação equivocada e da máscara de alguns jogadores, o Brasil chegará à final e conquistará o tetra. Entre expor-me ao ridículo por pseudo-excesso de otimismo e estar exposto à mesma situação por ser derrotista, prefiro o primeiro risco.

O leitor já imaginou se a Seleção for campeã? Será que os críticos de ocasião, os "150 milhões de técnicos" vão sustentar tudo o que já disseram? Duvido! Foi assim em 1958. Repetiu-se em 1962. Não se mostrou muito diferente em 1970.

Agitar o ambiente, neste momento, raia à estupidez. É o mesmo que fornecer munição ao adversário, que tenha um fuzil AR-15 sem balas e a gente lhe dê o meio, que não possui, de nos alvejar. Há muita gente que sequer sabe o que é torcer. Se a Seleção fizer fiasco e for eliminada, digamos, já na segunda-feira, pela esforçada, porém ingênua e fraquíssima equipe norte-americana, aí sim o alarido atual será justificado. Até lá...


(Artigo publicado na página 2, do caderno "Copa 94" do Correio Popular, em 1 de julho de 1994)

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