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Pedro J. Bondaczuk
O eleitorado
norte-americano, através de um intrincadíssimo processo, que costuma apresentar
incríveis surpresas, começa, amanhã, a definir quais são os favoritos dos dois
partidos, o Democrata e o Republicano, para disputar as eleições presidenciais
de novembro próximo.
Os
olhos de todo o país e do mundo, dada a importância dos Estados Unidos, a
sociedade nacional mais rica e poderosa do Planeta (de onde emana boa parte das
decisões internacionais) estarão fixos no pequenino, mas próspero Estado
agrícola de Iowa, onde vai ocorrer a primeira de uma série de primárias.
Tudo
indica que haverá disputa somente num dos partidos, justamente o que está no
poder. Entre os democratas, a escolha deve recais, tranqüilamente, sobre o
favorito disparado a conquistar a candidatura presidencial, o ex-senador Gary
Hart, a despeito das suas apregoadas aventuras extraconjugais.
Já
entre os republicanos, a coisa não parece assim tão calma. O senador Robert
Dole leva nítida vantagem sobre o vice-presidente George Bush no Estado. No
entanto, na Segunda primária, que vai acontecer oito dias depois, em New
Hampshire, a situação se inverte.
Portanto,
o partido de Ronald Reagan já começa a exaustiva corrida até a convenção, que é
quem vai definir de fato a candidatura, bastante dividido. Há analistas que
vêem possibilidades do governador de Massachusetts, Michael Dukakis, ser a
grande zebra, tanto em Iowa quanto em New Hampshire, entre os democratas. Nós
entendemos, porém, que não existe a mínima possibilidade disso acontecer.
Recente
pesquisa de opinião, realizada pelo Instituto Gallup, revelou que o eleitor
norte-americano não possui mais aquele moralismo hipócrita que o caracterizou
em outros tempos, que acabou com diversas carreiras políticas, como a do
senador Edward Kennedy por exemplo, provavelmente o mais brilhante dos irmãos
dessa tradicional e carismática família, que ficou estigmatizado por causa do
episódio do Rio Chapadicquitt.
Gary
Hart, todos já sabiam há tempos, nunca foi um santo. Sempre teve a fama de ser
um tremendo “rabo-de-saia”, de causar inveja ao personagem de televisão
“Quequé”, de um seriado famoso que a Rede Globo está reprisando. Nem por isso,
no entanto, é incapaz de servir bem o seu país.
Se a vida de muitos homens públicos, que posam
para a história como impolutos, fosse vasculhada a fundo, seriam encontrados
tantos “podres” que assustariam o mais malandro dos cidadãos.
Entre
os republicanos, contudo, o escândalo “Irã-contras” deverá pesar bastante, em
detrimento de Bush. A discussão que ele teve no ar, pela televisão,
recentemente, com o jornalista Dan Rather da rede de TV CBS, não deve ter lhe
trazido as vantagens que foram propaladas.
Afinal,
o vice-presidente saiu pela tangente quando acuado e acabou apelando. Esse tipo
de coisa, sim, pesa na hora da decisão. Por isso não será surpresa nenhuma se
Dole vier a ser o adversário de Hart em novembro próximo.
(Artigo
publicado na página 22, Internacional, do Correio Popular, em 7 de fevereiro de
1988).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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