Tuesday, March 25, 2014

Nossos favoritos


Pedro J. Bondaczuk


O eleitorado norte-americano, através de um intrincadíssimo processo, que costuma apresentar incríveis surpresas, começa, amanhã, a definir quais são os favoritos dos dois partidos, o Democrata e o Republicano, para disputar as eleições presidenciais de novembro próximo.

Os olhos de todo o país e do mundo, dada a importância dos Estados Unidos, a sociedade nacional mais rica e poderosa do Planeta (de onde emana boa parte das decisões internacionais) estarão fixos no pequenino, mas próspero Estado agrícola de Iowa, onde vai ocorrer a primeira de uma série de primárias.

Tudo indica que haverá disputa somente num dos partidos, justamente o que está no poder. Entre os democratas, a escolha deve recais, tranqüilamente, sobre o favorito disparado a conquistar a candidatura presidencial, o ex-senador Gary Hart, a despeito das suas apregoadas aventuras extraconjugais.

Já entre os republicanos, a coisa não parece assim tão calma. O senador Robert Dole leva nítida vantagem sobre o vice-presidente George Bush no Estado. No entanto, na Segunda primária, que vai acontecer oito dias depois, em New Hampshire, a situação se inverte.

Portanto, o partido de Ronald Reagan já começa a exaustiva corrida até a convenção, que é quem vai definir de fato a candidatura, bastante dividido. Há analistas que vêem possibilidades do governador de Massachusetts, Michael Dukakis, ser a grande zebra, tanto em Iowa quanto em New Hampshire, entre os democratas. Nós entendemos, porém, que não existe a mínima possibilidade disso acontecer.

Recente pesquisa de opinião, realizada pelo Instituto Gallup, revelou que o eleitor norte-americano não possui mais aquele moralismo hipócrita que o caracterizou em outros tempos, que acabou com diversas carreiras políticas, como a do senador Edward Kennedy por exemplo, provavelmente o mais brilhante dos irmãos dessa tradicional e carismática família, que ficou estigmatizado por causa do episódio do Rio Chapadicquitt.

Gary Hart, todos já sabiam há tempos, nunca foi um santo. Sempre teve a fama de ser um tremendo “rabo-de-saia”, de causar inveja ao personagem de televisão “Quequé”, de um seriado famoso que a Rede Globo está reprisando. Nem por isso, no entanto, é incapaz de servir bem o seu país.

 Se a vida de muitos homens públicos, que posam para a história como impolutos, fosse vasculhada a fundo, seriam encontrados tantos “podres” que assustariam o mais malandro dos cidadãos.

Entre os republicanos, contudo, o escândalo “Irã-contras” deverá pesar bastante, em detrimento de Bush. A discussão que ele teve no ar, pela televisão, recentemente, com o jornalista Dan Rather da rede de TV CBS, não deve ter lhe trazido as vantagens que foram propaladas.

Afinal, o vice-presidente saiu pela tangente quando acuado e acabou apelando. Esse tipo de coisa, sim, pesa na hora da decisão. Por isso não será surpresa nenhuma se Dole vier a ser o adversário de Hart em novembro próximo.

(Artigo publicado na página 22, Internacional, do Correio Popular, em 7 de fevereiro de 1988).


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