Monday, March 17, 2014

Quase um século de violência


Pedro J. Bondaczuk


A Colômbia convive com a violência política há quase um século, embora seu governo enfrente o fenômeno da guerrilha desde 1953, quando o grupo guerrilheiro mais antigo do país, em atividade, as Forças Armadas Revolucionárias (FARC), foi criado. Quanto ao narcotráfico, este adquiriu poder a partir dos anos 70, com a emergência dos grandes cartéis da droga: de Medellin, de Cali, de Letícia e do Caribe.

Entre 1899 e 1903, a sociedade colombiana foi abalada pelo que ficou registrado em sua história como a Guerra dos Mil Dias, entre liberais e conservadores, que resultou na morte de pelo menos 100 mil pessoas e na ruína econômica do Estado.

A Colômbia demorou décadas para se recuperar desse trauma (praticamente toda uma geração). Em 1948, porém, outro surto de violência política varreria seu território e por razões praticamente idênticas às de 1899. Em 24 de abril desse ano, o líder liberal, Jorge Gaitán, foi assassinado. Foi o que bastou para uma revolta generalizada na capital, denominada "Bogotazo", que se espalhou para o restante do país.

Esse período foi batizado, mais tarde, com o nome de "La Violencia" e milhares de pessoas foram mortas em combates com o exército e em atentados terroristas. Quanto à guerrilha, pode-se afirmar que precede, inclusive, à criação das chamadas FARC.

O primeiro grupo guerrilheiro começou a agir em 1949, no interior colombiano. É impossível de se contabilizar o número de mortos, seqüestrados e feridos desde então. Várias tentativas de pacificação do país foram tentadas, e todas fracassaram. A última ocorreu em 1990, com o então presidente e hoje secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), César Gavíria.

Em 30 de abril de 1984, Belisário Betancur lançou processo semelhante, que acabou fracassando, por causa da intransigência das duas partes. No entanto, a guerrilha deu uma trégua não declarada ao governo e nem assim os colombianos tiveram a tão almejada paz. Começou a guerra sem quartel do narcotráfico, mormente do Cartel de Medellin liderado por Pablo Escobar Gav¡ria, contra o Estado.

Atentados sucederam-se de então até 1994, quando da morte do narcotraficante, envolvendo membros do governo, candidatos à presidência, juizes, promotores, jornalistas e traficantes rivais. Em 1991, as FARC --- que atualmente retêm como reféns 60 soldados do exército colombiano e dois engenheiros brasileiros que trabalham para a Construtora Andrade Gutierrez, entre outros --- deixaram a mesa de negociações e voltaram a pegar em armas.

Nesse período, o grupo passou a fazer um ataque a cada cinco horas --- explodindo oleodutos, invadindo quartéis e saqueando pequenas cidades --- além de quatro seqüestros e dois assassinatos, em média,  por dia. Não é por acaso, portanto, que a Colômbia ostenta o trágico título de país mais violento do mundo na atualidade.


(Artigo publicado na editoria de Geral, do Correio Popular, em 21 de dezembro de 1996).



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