Quase um século de violência
Pedro J. Bondaczuk
A
Colômbia convive com a violência política há quase um século, embora seu
governo enfrente o fenômeno da guerrilha desde 1953, quando o grupo
guerrilheiro mais antigo do país, em atividade, as Forças Armadas
Revolucionárias (FARC), foi criado. Quanto ao narcotráfico, este adquiriu poder
a partir dos anos 70, com a emergência dos grandes cartéis da droga: de
Medellin, de Cali, de Letícia e do Caribe.
Entre
1899 e 1903, a sociedade colombiana foi abalada pelo que ficou registrado em
sua história como a Guerra dos Mil Dias, entre liberais e conservadores, que
resultou na morte de pelo menos 100 mil pessoas e na ruína econômica do Estado.
A
Colômbia demorou décadas para se recuperar desse trauma (praticamente toda uma
geração). Em 1948, porém, outro surto de violência política varreria seu
território e por razões praticamente idênticas às de 1899. Em 24 de abril desse
ano, o líder liberal, Jorge Gaitán, foi assassinado. Foi o que bastou para uma
revolta generalizada na capital, denominada "Bogotazo", que se
espalhou para o restante do país.
Esse
período foi batizado, mais tarde, com o nome de "La Violencia" e
milhares de pessoas foram mortas em combates com o exército e em atentados
terroristas. Quanto à guerrilha, pode-se afirmar que precede, inclusive, à
criação das chamadas FARC.
O
primeiro grupo guerrilheiro começou a agir em 1949, no interior colombiano. É
impossível de se contabilizar o número de mortos, seqüestrados e feridos desde
então. Várias tentativas de pacificação do país foram tentadas, e todas
fracassaram. A última ocorreu em 1990, com o então presidente e hoje
secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), César Gavíria.
Em
30 de abril de 1984, Belisário Betancur lançou processo semelhante, que acabou
fracassando, por causa da intransigência das duas partes. No entanto, a
guerrilha deu uma trégua não declarada ao governo e nem assim os colombianos
tiveram a tão almejada paz. Começou a guerra sem quartel do narcotráfico,
mormente do Cartel de Medellin liderado por Pablo Escobar Gav¡ria, contra o
Estado.
Atentados
sucederam-se de então até 1994, quando da morte do narcotraficante, envolvendo
membros do governo, candidatos à presidência, juizes, promotores, jornalistas e
traficantes rivais. Em 1991, as FARC --- que atualmente retêm como reféns 60
soldados do exército colombiano e dois engenheiros brasileiros que trabalham
para a Construtora Andrade Gutierrez, entre outros --- deixaram a mesa de
negociações e voltaram a pegar em armas.
Nesse
período, o grupo passou a fazer um ataque a cada cinco horas --- explodindo
oleodutos, invadindo quartéis e saqueando pequenas cidades --- além de quatro
seqüestros e dois assassinatos, em média,
por dia. Não é por acaso, portanto, que a Colômbia ostenta o trágico
título de país mais violento do mundo na atualidade.
(Artigo
publicado na editoria de Geral, do Correio Popular, em 21 de dezembro de 1996).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment