Da promessa à
consagração
Pedro
J. Bondaczuk
O décimo oitavo
integrante (por ordem de publicação) da antologia de contos “Histórias da
Bahia” (Edições GDR, Rio de Janeiro, 1963), que tomei como referência para a
presente série de estudos sobre 23 dos principais ficcionistas baianos, é
Noênio Spinola. A exemplo de vários outros personagens, destacou-se em várias
atividades, além da Literatura e, claro, também no jornalismo. Não há, por
exemplo, leitor de jornal, principalmente do Rio de Janeiro e de São Paulo, que
nunca tenha lido pelo menos seu nome. Leu-o, com certeza, e milhares de vezes.
Seu currículo é tão extenso, e em tantas atividades, que por mais que se tente
fazer um resumo, ainda assim, ocupará, sem exagero, todo o espaço que destino,
diariamente, a este contato com meus leitores.
Tentarei esta façanha,
mas, por mais atento e meticuloso que eventualmente eu venha a me mostrar,
certamente omitirei algum detalhe do que é e do que faz, tantas são as
informações de que disponho e, principalmente, tantos são os seus feitos,
jurídicos, jornalísticos, econômicos, literários e vai por aí afora. Noênio
Dantas Le Spínola é natural da cidade de Itabuna. Na época da publicação de
“Histórias da Bahia”, em 1963, era um quase adolescente, promissor e talentoso,
mas ainda desconhecido fora dos limites do seu Estado (e a rigor, mesmo dentro
dele). Quem poderia prever que chegaria onde chegou? E não me refiro,
especificamente, às letras, mas em tantos outros setores profissionais e
culturais do País em que atuou.
É certo que nessa
ocasião, em 1963, já não era propriamente inédito. Havia publicado contos no
livro “Reunião”, junto com outros três jovens então também bastante
promissores, que viriam a confirmar anos depois que eram não apenas “bons”,
como pareciam, mas, na verdade, geniais: João Ubaldo Ribeiro, David Salles e
Sônia Coutinho. Que quarteto! Lembro que “Reunião”, uma espécie de
mini-antologia, foi publicada em 1961, pela Universidade da Bahia. Há promessas
que vingam e há outras tantas que não. Estes quatro, então quase adolescentes,
não somente vingaram: se consagraram.
Na ocasião, início da
década de 60 do século XX, o crítico e acadêmico Eduardo Portella escreveu o
seguinte sobre o então promissor jovem contista: “Os contos de Noênio Spinola
traduzem perfeita e ostensivamente todos os esforços coletivos no sentido de
desligar o conto de seus compromissos anteriores, visando a levantar uma
entidade renovada, porque rebelde aos padrões e esquemas pretéritos”. E essa
capacidade de inovação iria se acentuar, cada vez mais, com o passar do tempo,
tornando-o um dos ficcionistas mais originais e únicos da Literatura
brasileira.
É impossível destacar
em qual atividade Noênio mais se destacou, se na carreira jurídica, se no
exercício do jornalismo, se na de especialista em economia, notadamente em
comércio exterior e mercado de capitais ou se na de escritor. Claro que para
nosso estudo, o foco de maior interesse é a sua atividade literária. Mas seus
feitos nos outros setores citados têm que ser destacados, até para se entender
o quanto suas ações foram eficazes e porque é hoje esse intelectual tão
reputado e tão reverenciado.
Noênio Spinola
formou-se em Direito, pela Universidade Federal da Bahia. Mas, ao contrário de
vários outros personagens, a respeito dos quais tratei nesta série de estudos,
dedicou-se, sim, durante algum tempo, à carreira jurídica. É, por exemplo,
membro atuante da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Atuou no Ministério
Público, como Promotor concursado. Mas é no Jornalismo, aliás, no setor de
Comunicação, que mais se destacou (e vem se destacando). Entre outras coisas,
foi editor-chefe de um dos maiores jornais do País em fins do século passado, o
“Jornal do Brasil” do Rio de Janeiro, hoje decadente e com versão apenas
eletrônica, mas que na época rivalizava com os maiores órgãos de imprensa
brasileiros, função que exerceu por dois anos: de 1998 a 2000.
Antes de chegar ao topo
do jornalismo, que é a chefia de redação, Noênio havia feito invejável carreira
como correspondente internacional. Trabalhou, por exemplo, nessa função, em
Washington, de 1977 a 1979, como residente, com credenciais da Casa Branca, do
Departamento de Estado e do Senado norte-americano. Foi deslocado depois para
Moscou, nos tempos de União Soviética (e do auge da Guerra Fria), e em duas
oportunidades diferentes: entre 1979 e 1981 e entre 1990 e 1991, já nos
estertores da URSS. Ali, estava credenciado no Ministério de Relações
Internacionais. Atuou, ainda, como correspondente, em Londres (de 1981 a 1983)
e em Bruxelas, sede da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e da
União Européia, em 1992.
Fez algumas coberturas
internacionais daquelas que todo o jornalista sonha em fazer e raros conseguem.
Uma delas foi a invasão soviética ao Afeganistão, em 1979, que não somente
reportou, mas que também fotografou. A outra foi a primeira guerra entre o Irã
e o Iraque, no início dos anos 80. De retorno ao Brasil, foi editorialista
internacional do jornal “O Estado de São Paulo”, oportunidade em que também
atuou como radialista na capital paulista. Poucos jornalistas têm um currículo
tão rico e variado a ostentar, não é mesmo? Mas seus êxitos não param por aí.
Ainda no setor de
Comunicação, posto que não propriamente no jornalismo, Noênio Spinola ocupou
funções de grande relevância e responsabilidade. Foi, por exemplo, diretor do
Departamento de Relações Institucionais da Bolsa de Valores de São Paulo
(Bovespa). Querem mais? Pois lá vai, foi superintendente de Mercados Agrícolas.
Ainda na mesma área, foi o diretor responsável pelo conteúdo da BM&F na
internet e de geração de imagens para a televisão e mídia em geral dessa
entidade. Secretariou e redigiu as atas do Conselho de Administração da Bovespa
por quase nove anos, de dezembro de 1999 a maio de 2008. Ufa!!!
Mas seu currículo (e
bem resumido) não para por aí. Noênio Spinola atuou, também, na área de
Educação, posto que específica. Estruturou, por exemplo, convênio com a
Fundação Instituto de Administração da Universidade de São Paulo para o
Mestrado em Administração Financeira, destinado, especificamente, a jornalistas.
Há 50 anos, em 1963 (quando da publicação de “Histórias da Bahia”), já havia
dirigido a Campanha de Alfabetização de Adultos pelo método de Paulo Freire.
Chega? Por hoje sim. Mas há muito, ainda, a ser dito sobre o jurista, o
jornalista, o comunicador e o eclético escritor Noênio Spinola.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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