Campinas em festa
Pedro J. Bondaczuk
O mês de julho é repleto de
significados para Campinas, por marcar uma série de eventos bastante
representativos para a sua população. É nele, por exemplo, que a
cidade aniversaria, completando, em 1999, 225 anos de sofrida, mas
vitoriosa trajetória. É nesse período, também, que são
reverenciadas duas das suas figuras de maior expressão artística,
orgulhos de todos os campineiros: o poeta Guilherme de Almeida e o
compositor e maestro Antonio Carlos Gomes. Coincidentemente, ambos
venceram fora, longe de sua terra natal, por não serem reconhecidos,
quando vivos, pelos seus concidadãos.
É certo que a crise econômica
e social, que afeta a todos (principalmente a do desemprego, que
atinge cerca de 100 mil pais de família entre nós), não predispõe
os espíritos de ninguém a comemorações. Campinas está
assoberbada por problemas de extrema gravidade, nas áreas da
educação, da saúde, da assistência social e, principalmente, da
segurança pública. A violência crescente é, hoje em dia, senão a
maior, uma das mais graves preocupações do campineiro, às voltas
com uma onda perversa de assaltos, roubos e assassinatos, que causam
sobressaltos e aflições e aumentam as angústias do dia a dia.
Nesse aspecto, a cidade
acompanha aquilo que ocorre em outras metrópoles brasileiras,
maiores do que ela, ou do mesmo porte. Boa parte disso decorre do
crescimento do tráfico e consumo de drogas, principalmente entre os
jovens (e até entre crianças de nove anos ou menos), um dos maiores
flagelos enfrentados pela humanidade neste final de século, mal que
tem que ser combatido, a ferro e fogo, não apenas pelas autoridades,
mas por toda a sociedade. Trata-se de uma guerra que não podemos
perder, sob pena de chegarmos a uma situação caótica,
incontrolável e sem retorno.
Poucas crises (e o País é
campeão delas) assustaram tanto, a tantas pessoas, como a que nos
afeta desde meados do ano passado. Mas as pessoas não podem se
deixar levar por ela. São necessárias mais ações e menos
promessas, ou distorções da realidade (para não dizer mentiras),
por parte dos políticos, para recolocar o País nos trilhos e
conduzi-lo para o grandioso destino que merece. Este é o momento de
se investir na educação, no sentido mais amplo, que não se
restrinja ao mero ensino, mas cultive e transmita valores àqueles
que muito em breve terão a responsabilidade de conduzir os nossos
destinos. Só educando as novas gerações é que poderemos ter
alguma esperança de um País melhor e de um mundo mais habitável.
Há que se valorizar as
personalidades do passado da nossa comunidade, que nos deixaram um
precioso legado, que por incúria, incompetência ou ignorância,
corre o risco de desaparecer. Estamos em plena Semana Guilherme de
Almeida. No entanto, pouquíssima gente sabe disso. Raros são
aqueles, até os de cultura mediana, que conhecem esse poeta ou leram
qualquer obra dele. E por que? Porque os meios de comunicação, ou
por desinteresse, ou por falta de informação ou por não
conseguirem enxergar seu valor, simplesmente se omitiram de falar a
seu respeito. O mesmo ocorre, salvo raras e honrosas exceções, com
escolas e centros culturais da cidade.
Trata-se de enorme injustiça
em relação ao mais vitorioso e sensível escritor que Campinas já
produziu, cujos textos, passados 30 anos da sua morte, permanecem
mais atuais do que nunca, escritos em linguagem moderníssima e
abordando temas do dia a dia de todos nós, posto que universais. As
novas gerações têm o direito e a necessidade de conhecer a
majestosa obra desse poeta que, sem perder o senso de realidade,
soube filtrar, do cotidiano, o outro lado da vida: o nobre, o belo, o
bom e o racional.
A mesma cobrança se faz em
relação a Carlos Gomes. Os homens especiais, que a cidade produziu,
merecem mais do que simples estátuas em praças públicas ou nomes
de ruas e avenidas. São credores do nosso respeito eterno e da nossa
irrestrita admiração. Uma sociedade sadia sabe conservar as
tradições, sem nunca perder de vista o presente. Povo que não tem
passado, não tem sequer o direito de aspirar ao futuro. E este não
é o caso, estamos certo, do campineiro.
Mas é preciso pôr fim ao
marasmo cultural, que vem caracterizando, ultimamente, a cidade, onde
as pessoas "colecionam vidros, cuidando que sejam diamantes",
parodiando o genial Padre Antonio Vieira. É indispensável que os
nossos meios de comunicação e centros de difusão da cultura
valorizem, e informem, as ações daquelas pessoas abnegadas,
realmente competentes, que geração após geração fizeram e fazem
a grandeza desta cidade, em seus 225 anos de existência. É uma
questão de justiça e, sobretudo, de bom senso.
(Editorial publicado na Folha
do Taquaral na primeira quinzena de julho de 1999)
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