Cumplicidade desejável
Pedro
J. Bondaczuk
O
mês de julho é repleto de significados para Campinas, por marcar
uma série de eventos bastante representativos para a sua população.
E o deste ano adquire importância ainda maior. Afinal, o próximo
dia 14 marca o 230º aniversário de fundação desta metrópole
moderna, próspera e progressista, que nos abriga, acolhe e enche de
sadio orgulho.
As
benesses do desenvolvimento, porém, ainda estão longe de poderem
ser compartilhadas por todos os campineiros, como poderia e deveria
acontecer. A cidade conta com milhares e milhares de excluídos, de
carentes, de desempregados, de vítimas indefesas das graves e
seculares distorções que caracterizam, sobretudo, o nosso País.
A
crise econômica e social, que afeta a todos (principalmente a do
desemprego, que atinge cerca de 90 mil pais de família entre nós),
não predispõe os espíritos a comemorações. Campinas está
assoberbada por problemas de extrema gravidade, nas áreas da
educação, da saúde, da assistência social e, principalmente, da
segurança pública. A violência crescente é, hoje em dia, senão a
maior, uma das mais graves preocupações do campineiro, às voltas
com uma onda perversa de assaltos, roubos e assassinatos, que causam
sobressaltos e aflições e aumentam as angústias do dia a dia, que
já não são poucas.
Mas
a cidade tem, e muito, do que se orgulhar. Em apenas cerca de 30
gerações, homens e mulheres operosos e determinados realizaram
verdadeiro milagre. Transformaram, com muito trabalho, competência e
idealismo, um humilde e acanhado burgo nascido ao redor de tosca
capela, em uma das mais vibrantes, notáveis e progressistas
metrópoles do Estado e do País.
Há
que se valorizar, portanto, essas personalidades do passado da nossa
comunidade, que nos deixaram tão precioso legado econômico,
cultural e de tradições que, por incúria, incompetência ou
ignorância, corre o risco de desaparecer. Estamos, por exemplo, em
plena Semana Guilherme de Almeida. No entanto, pouquíssima gente
sabe disso.
Raros
são aqueles, até os de cultura mediana, que conhecem esse poeta ou
que leram qualquer obra dele. Trata-se de enorme e vergonhosa
injustiça em relação ao mais vitorioso e sensível escritor que
Campinas já produziu, cujos textos, passados 34 anos da sua morte,
permanecem mais atuais, oportunos e vivos do que nunca.
A
mesma cobrança se faz em relação a Carlos Gomes, cujo aniversário
de nascimento transcorre no próximo dia 12. Os homens especiais, que
a cidade produziu em profusão, merecem mais do que simples estátuas
em praças públicas ou nomes de ruas e avenidas. São credores do
nosso eterno respeito, profunda admiração e irrestrita gratidão.
Uma sociedade sadia sabe conservar as tradições, sem nunca perder
de vista o presente. Povo que não tem passado, não tem sequer o
direito de aspirar ao futuro. E este não é o caso, estamos certo,
do campineiro.
É
necessário, todavia, que as benesses do desenvolvimento sejam
compartilhadas por todos os campineiros. Que se estreite o profundo
fosso que separa abastados de miseráveis e que cada morador desta
cidade conquiste o que jamais lhe deveria ser negado: o direito à
plena cidadania. Trata-se de tarefa gigantesca e inadiável, que tem
que envolver a todos, indistintamente, colocando, ombro a ombro, na
mesma trincheira, Poder Público e sociedade civil.
Nós,
do Jornal Interbairros, estamos engajados nessa luta.
Sempre estaremos na linha de frente, buscando exercer, com
responsabilidade, determinação e fé, o nosso papel de defensores
das grandes causas públicas e da cidadania. Aproveitamos o ensejo
para convocá-lo, caríssimo e fiel leitor, a participar dessa
memorável empreitada, para tornar nossa cidade ainda mais próspera,
mais acolhedora e acima de tudo mais justa.
Feliz
aniversário, Campinas!
Boa
leitura!
(Editorial
publicado na página 2, Opinião, do jornal Interbairros, em 28 de
junho de 2004).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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