Saturday, January 06, 2018

Cumplicidade desejável



Pedro J. Bondaczuk


O mês de julho é repleto de significados para Campinas, por marcar uma série de eventos bastante representativos para a sua população. E o deste ano adquire importância ainda maior. Afinal, o próximo dia 14 marca o 230º aniversário de fundação desta metrópole moderna, próspera e progressista, que nos abriga, acolhe e enche de sadio orgulho.

As benesses do desenvolvimento, porém, ainda estão longe de poderem ser compartilhadas por todos os campineiros, como poderia e deveria acontecer. A cidade conta com milhares e milhares de excluídos, de carentes, de desempregados, de vítimas indefesas das graves e seculares distorções que caracterizam, sobretudo, o nosso País.

A crise econômica e social, que afeta a todos (principalmente a do desemprego, que atinge cerca de 90 mil pais de família entre nós), não predispõe os espíritos a comemorações. Campinas está assoberbada por problemas de extrema gravidade, nas áreas da educação, da saúde, da assistência social e, principalmente, da segurança pública. A violência crescente é, hoje em dia, senão a maior, uma das mais graves preocupações do campineiro, às voltas com uma onda perversa de assaltos, roubos e assassinatos, que causam sobressaltos e aflições e aumentam as angústias do dia a dia, que já não são poucas.

Mas a cidade tem, e muito, do que se orgulhar. Em apenas cerca de 30 gerações, homens e mulheres operosos e determinados realizaram verdadeiro milagre. Transformaram, com muito trabalho, competência e idealismo, um humilde e acanhado burgo nascido ao redor de tosca capela, em uma das mais vibrantes, notáveis e progressistas metrópoles do Estado e do País.

Há que se valorizar, portanto, essas personalidades do passado da nossa comunidade, que nos deixaram tão precioso legado econômico, cultural e de tradições que, por incúria, incompetência ou ignorância, corre o risco de desaparecer. Estamos, por exemplo, em plena Semana Guilherme de Almeida. No entanto, pouquíssima gente sabe disso.

Raros são aqueles, até os de cultura mediana, que conhecem esse poeta ou que leram qualquer obra dele. Trata-se de enorme e vergonhosa injustiça em relação ao mais vitorioso e sensível escritor que Campinas já produziu, cujos textos, passados 34 anos da sua morte, permanecem mais atuais, oportunos e vivos do que nunca.

A mesma cobrança se faz em relação a Carlos Gomes, cujo aniversário de nascimento transcorre no próximo dia 12. Os homens especiais, que a cidade produziu em profusão, merecem mais do que simples estátuas em praças públicas ou nomes de ruas e avenidas. São credores do nosso eterno respeito, profunda admiração e irrestrita gratidão. Uma sociedade sadia sabe conservar as tradições, sem nunca perder de vista o presente. Povo que não tem passado, não tem sequer o direito de aspirar ao futuro. E este não é o caso, estamos certo, do campineiro.

É necessário, todavia, que as benesses do desenvolvimento sejam compartilhadas por todos os campineiros. Que se estreite o profundo fosso que separa abastados de miseráveis e que cada morador desta cidade conquiste o que jamais lhe deveria ser negado: o direito à plena cidadania. Trata-se de tarefa gigantesca e inadiável, que tem que envolver a todos, indistintamente, colocando, ombro a ombro, na mesma trincheira, Poder Público e sociedade civil.

Nós, do Jornal Interbairros, estamos engajados nessa luta. Sempre estaremos na linha de frente, buscando exercer, com responsabilidade, determinação e fé, o nosso papel de defensores das grandes causas públicas e da cidadania. Aproveitamos o ensejo para convocá-lo, caríssimo e fiel leitor, a participar dessa memorável empreitada, para tornar nossa cidade ainda mais próspera, mais acolhedora e acima de tudo mais justa.

Feliz aniversário, Campinas!

Boa leitura!


(Editorial publicado na página 2, Opinião, do jornal Interbairros, em 28 de junho de 2004).

Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk    

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