Revolução sem barricadas
Pedro J. Bondaczuk
O mundo atravessa um período
de mudanças tão profundas, que se pode caracterizar o processo como
uma revolução sem barricadas. O Leste Europeu, por exemplo, caiu em
si para a realidade e percebeu que “socializar a miséria” não é
um objetivo dos mais inteligentes.
Até mesmo uma União
Soviética, não faz muito exportadora de estatização de tudo o que
se possa pensar, desde os meios de produção à própria
criatividade (como se isso fosse possível), deve dar, nesta semana,
um passo decisivo rumo à economia de mercado. Optou pelo caminho
lógico de premiar o mais capaz e produtivo.
Polônia, Hungria e
Checoslováquia, para não mencionar a Alemanha Oriental (que a
partir de 3 de outubro próximo simplesmente desaparecerá como país
para voltar a integrar um Estado germânico uno, forte e
indivisível), já estão trilhando essa dura estrada, passando,
evidentemente, por sacrifícios enormes, na tentativa de recuperar, o
mais breve possível, um longo tempo perdido.
As mudanças em andamento são
tão abrangentes e profundas, que o vice-diretor de Planejamento
Político do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Francis
Fukuyama, lançou a teoria de que o mundo atravessa o “fim da
História”.
Talvez a definição não seja
das mais felizes e a era seja, na verdade, o fecho de um período
histórico, somente. Suas ideias, aliás, vêm sendo objeto de
intensa discussão, tendo gerado uma infinidade de análises que,
convenhamos, não levaram, igualmente, a lugar algum.
Talvez o teórico, de origem
japonesa, quisesse expressar o mesmo que o poeta francês Paul Valéry
constatou, em suas “Cartas sobre a crise do espírito”, ao
escrever: “A dificuldade de reconstruir o passado, mesmo o mais
recente, é inteiramente comparável à dificuldade de construir o
futuro, mesmo o mais próximo, ou melhor, é a mesma dificuldade. O
profeta está no mesmo saco que o historiador. Deixemo-los aí”.
Até porque, os tempos atuais
são para homens de ação, que não se limitem a ficar esperando que
as coisas melhorem sozinhas ou que os outros as tornem melhores. São
daqueles que arregaçam as mangas, vão e fazem o que tem de ser
feito.
Dificuldades não somos apenas
nós, brasileiros, que estamos enfrentando, diante da dureza de um
plano econômico que objetiva, inclusive, mudar nossa mentalidade
inflacionária para outra em que a inflação (pelo menos às taxas
que temos experimentado) seja coisa do passado.
O diretor do Instituto de
Relações Internacionais e de Economia da Academia de Ciências da
União Soviética, Igor Guriev, redescobriu a mola propulsora do
progresso, ao afirmar: “Um homem sem necessidades é a maior fonte
do conservadorismo. O homem com grandes necessidades é desencadeador
de progresso. Porque é preciso satisfazer as necessidades
crescentes”.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 18 de setembro de 1990)
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