Wednesday, January 31, 2018


Revolução sem barricadas



Pedro J. Bondaczuk


O mundo atravessa um período de mudanças tão profundas, que se pode caracterizar o processo como uma revolução sem barricadas. O Leste Europeu, por exemplo, caiu em si para a realidade e percebeu que “socializar a miséria” não é um objetivo dos mais inteligentes.

Até mesmo uma União Soviética, não faz muito exportadora de estatização de tudo o que se possa pensar, desde os meios de produção à própria criatividade (como se isso fosse possível), deve dar, nesta semana, um passo decisivo rumo à economia de mercado. Optou pelo caminho lógico de premiar o mais capaz e produtivo.

Polônia, Hungria e Checoslováquia, para não mencionar a Alemanha Oriental (que a partir de 3 de outubro próximo simplesmente desaparecerá como país para voltar a integrar um Estado germânico uno, forte e indivisível), já estão trilhando essa dura estrada, passando, evidentemente, por sacrifícios enormes, na tentativa de recuperar, o mais breve possível, um longo tempo perdido.

As mudanças em andamento são tão abrangentes e profundas, que o vice-diretor de Planejamento Político do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Francis Fukuyama, lançou a teoria de que o mundo atravessa o “fim da História”.

Talvez a definição não seja das mais felizes e a era seja, na verdade, o fecho de um período histórico, somente. Suas ideias, aliás, vêm sendo objeto de intensa discussão, tendo gerado uma infinidade de análises que, convenhamos, não levaram, igualmente, a lugar algum.

Talvez o teórico, de origem japonesa, quisesse expressar o mesmo que o poeta francês Paul Valéry constatou, em suas “Cartas sobre a crise do espírito”, ao escrever: “A dificuldade de reconstruir o passado, mesmo o mais recente, é inteiramente comparável à dificuldade de construir o futuro, mesmo o mais próximo, ou melhor, é a mesma dificuldade. O profeta está no mesmo saco que o historiador. Deixemo-los aí”.

Até porque, os tempos atuais são para homens de ação, que não se limitem a ficar esperando que as coisas melhorem sozinhas ou que os outros as tornem melhores. São daqueles que arregaçam as mangas, vão e fazem o que tem de ser feito.

Dificuldades não somos apenas nós, brasileiros, que estamos enfrentando, diante da dureza de um plano econômico que objetiva, inclusive, mudar nossa mentalidade inflacionária para outra em que a inflação (pelo menos às taxas que temos experimentado) seja coisa do passado.

O diretor do Instituto de Relações Internacionais e de Economia da Academia de Ciências da União Soviética, Igor Guriev, redescobriu a mola propulsora do progresso, ao afirmar: “Um homem sem necessidades é a maior fonte do conservadorismo. O homem com grandes necessidades é desencadeador de progresso. Porque é preciso satisfazer as necessidades crescentes”.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 18 de setembro de 1990)

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