Tuesday, January 09, 2018

Ponte entre dois Brasis



Pedro J. Bondaczuk


Os resultados já conhecidos do plebiscito ocorrido em 21 de abril de 1993 permitem uma série de conclusões e várias reflexões sobre o retrato político do País e o estado de ânimo da população em relação aos que a dirigem. O elevado índice de abstenções demonstra, sobretudo, uma apatia do brasileiro com o exercício democrático que raia ao desencanto, principalmente quando se sabe que o voto, entre nós, é obrigatório.

Aliás, o dia da votação parecia mais Finados, ou um feriado qualquer, do que uma festa democrática, o que caracteriza – pelo menos deveria caracterizar – qualquer consulta às urnas. Não havia nenhum comício, nenhuma movimentação favorável ou contrária a essa ou aquela facção, nenhuma última tentativa de aliciamento do eleitor.

Muitos sequer entenderam, até agora, a importância desse plebiscito para o futuro do Brasil e, consequentemente, para o seu próprio. A vitória do presidencialismo não se constituiu, convenhamos, em nenhuma surpresa. Nem é algo digno de se festejar. Todavia, revelador foi o fato de nas cidades caracterizadas pelo alto padrão de vida, com elevado nível de instrução de seus habitantes e, por consequência, de informação, como Campinas, Ribeirão Preto, Rio Preto, Americana, Piracicaba e Rio Claro, entre outras, o parlamentarismo ter vencido. Por que? Seria idiossincrasia de rico? Não! Foi o esclarecimento que prevaleceu.

Ficou, portanto, nitidamente demarcado o limite de consciência política dos dois Brasis que convivem num mesmo e vasto território, embora sejam tão diferentes um do outro. Um, o da minoria, aspira à modernidade, tanto no aspecto econômico, quanto no social, político e cultural. Não que o parlamentarismo seja a varinha mágica para solucionar todos os problemas. No mundo concreto não há magias, mas somente trabalho, competência e organização.

Os habitantes desse Brasil minoritário apostam e investem no futuro e compõem a parte influente da opinião pública, aquela que pressiona, faz cobranças, dá sugestões, opina, critica, processa, incomoda e exige uma postura ética dos políticos, mas não decide, pois é minoria. Este grupo situa-se no seu tempo certo e investe suas esperanças num Brasil muito diferente do atual no terceiro milênio que se avizinha.

O outro país, o da imensa maioria, ainda está no século passado. Não percebe a força que tem (porque não permitem que perceba) e por isso se enfraquece. Desinformado, desassistido, explorado, intui que as coisas precisam mudar. Contudo, fica só na intuição. Desconhece que essa mudança jamais virá dos políticos, principalmente se implicar a extinção de privilégios e aumento de responsabilidades, por estar apenas em suas mãos.

Deixa-se empolgar, ainda, pelos discursos messiânicos, pelas palavras bonitas e pelas promessas mirabolantes. Aspira por um líder, que certamente não saberá identificar na hora em que aparecer, pois não conta com tirocínio para fazer qualquer espécie de distinção.

É nesses brasileiros desinformados, desassistidos e explorados que os demagogos, as tradicionais raposas políticas da velha guarda, os que confundem representação com interesses pessoais, que transmudam responsabilidades em prêmios, investem. Essa divisão em dois Brasis é que precisa acabar e a ponte para superar esse fosso é uma, e apenas uma: educação.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 29 de abril de 1993)


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