Ponte entre dois Brasis
Pedro J. Bondaczuk
Os resultados já conhecidos
do plebiscito ocorrido em 21 de abril de 1993 permitem uma série de
conclusões e várias reflexões sobre o retrato político do País e
o estado de ânimo da população em relação aos que a dirigem. O
elevado índice de abstenções demonstra, sobretudo, uma apatia do
brasileiro com o exercício democrático que raia ao desencanto,
principalmente quando se sabe que o voto, entre nós, é obrigatório.
Aliás, o dia da votação
parecia mais Finados, ou um feriado qualquer, do que uma festa
democrática, o que caracteriza – pelo menos deveria caracterizar –
qualquer consulta às urnas. Não havia nenhum comício, nenhuma
movimentação favorável ou contrária a essa ou aquela facção,
nenhuma última tentativa de aliciamento do eleitor.
Muitos sequer entenderam, até
agora, a importância desse plebiscito para o futuro do Brasil e,
consequentemente, para o seu próprio. A vitória do presidencialismo
não se constituiu, convenhamos, em nenhuma surpresa. Nem é algo
digno de se festejar. Todavia, revelador foi o fato de nas cidades
caracterizadas pelo alto padrão de vida, com elevado nível de
instrução de seus habitantes e, por consequência, de informação,
como Campinas, Ribeirão Preto, Rio Preto, Americana, Piracicaba e
Rio Claro, entre outras, o parlamentarismo ter vencido. Por que?
Seria idiossincrasia de rico? Não! Foi o esclarecimento que
prevaleceu.
Ficou, portanto, nitidamente
demarcado o limite de consciência política dos dois Brasis que
convivem num mesmo e vasto território, embora sejam tão diferentes
um do outro. Um, o da minoria, aspira à modernidade, tanto no
aspecto econômico, quanto no social, político e cultural. Não que
o parlamentarismo seja a varinha mágica para solucionar todos os
problemas. No mundo concreto não há magias, mas somente trabalho,
competência e organização.
Os habitantes desse Brasil
minoritário apostam e investem no futuro e compõem a parte
influente da opinião pública, aquela que pressiona, faz cobranças,
dá sugestões, opina, critica, processa, incomoda e exige uma
postura ética dos políticos, mas não decide, pois é minoria. Este
grupo situa-se no seu tempo certo e investe suas esperanças num
Brasil muito diferente do atual no terceiro milênio que se avizinha.
O outro país, o da imensa
maioria, ainda está no século passado. Não percebe a força que
tem (porque não permitem que perceba) e por isso se enfraquece.
Desinformado, desassistido, explorado, intui que as coisas precisam
mudar. Contudo, fica só na intuição. Desconhece que essa mudança
jamais virá dos políticos, principalmente se implicar a extinção
de privilégios e aumento de responsabilidades, por estar apenas em
suas mãos.
Deixa-se empolgar, ainda,
pelos discursos messiânicos, pelas palavras bonitas e pelas
promessas mirabolantes. Aspira por um líder, que certamente não
saberá identificar na hora em que aparecer, pois não conta com
tirocínio para fazer qualquer espécie de distinção.
É nesses brasileiros
desinformados, desassistidos e explorados que os demagogos, as
tradicionais raposas políticas da velha guarda, os que confundem
representação com interesses pessoais, que transmudam
responsabilidades em prêmios, investem. Essa divisão em dois Brasis
é que precisa acabar e a ponte para superar esse fosso é uma, e
apenas uma: educação.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 29 de abril de 1993)
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment