Friday, January 05, 2018

País merece respeito


Pedro J. Bondaczuk


As campanhas para as eleições presidenciais de outubro próximo mal começaram e já surgem as primeiras acusações de caráter pessoal entre os candidatos. Caso seja essa a tônica que mais uma vez irá predominar, o eleitorado continuará tão confuso quanto sempre esteve na hora de votar e correrá o risco de se equivocar de novo na escolha de seu candidato.

Luís Inácio Lula da Silva, por exemplo, está sendo acusado de usar carro de som do sindicato dos metalúrgicos em comícios. Já as acusações contra o tucano Fernando Henrique Cardoso referem-se à utilização de aparelhos de fax e telefones do Senado para aliciar eleitores.

Não é isso, porém, que o cidadão quer saber dos principais postulantes à Presidência. Caso algum deles esteja burlando a lei eleitoral, que seja punido com as penalidades previstas. Todavia, é inadmissível que mais uma vez as campanhas sejam esvaziadas, mediocrizadas, diminuídas mediante a ênfase em picuinhas e bobagens, como ocorreu em eleições anteriores, com os resultados desastrosos que todos conhecemos.

O que precisamos ouvir é o que os candidatos pensam fazer para resolver a crise social do País. Queremos saber quais suas estratégias de governo, quais são as suas propostas para melhorar a educação, resgatar o falido sistema de saúde, garantir a segurança pública e promover a estabilidade econômica com desenvolvimento, entre outros itens.

Interessa-nos tomar ciência das propostas para não somente evitar que aumente o contingente de famintos no País, mas para acabar com essa vergonha nacional. O que, os que aspiram ao posto mais elevado e de maior responsabilidade na República, pensam fazer para tirar milhões de crianças abandonadas das ruas, dando-lhes uma oportunidade de futuro, longe da marginalidade e do vício.

Como se vê, assuntos para as campanhas não faltam. O ideal é que, ao eleger um dos candidatos, os eleitores escolham, igualmente, um programa de governo, que no seu entender seja o mais adequado para as atuais condições e o atual momento.

Para isso, todavia, é preciso que eles de fato existam. Não importa saber se um dos postulantes teve algum caso extraconjugal na juventude ou coisas desse tipo. Por isso, procede o desabafo de Fernando Henrique Cardoso, feito na quinta-feira, em Maceió, quando disse: "Não podemos fazer campanha na base de picuinhas. O País merece mais respeito".

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 28 de maio de 1994).



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