Sunday, January 28, 2018


Ameaça à rede de saúde pública

Pedro J. Bondaczuk

O atendimento médico prestado na rede municipal de saúde vive momentos de extrema penúria. Os 38 postos de saúde administrados pela Prefeitura e o Hospital Dr. Mário Gatti sobrevivem sem recursos, sem pessoal especializado na área de enfermagem e, pior, sem médicos suficientes para atender clientes de toda periferia da cidade e, também, da região.

Desde dezembro que o Suds --- Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde --- não repassa a verba para o Município. A burocracia federal aliada aos interesses políticos dos governos estaduais obriga esse recurso a fazer uma volta para chegar até as prefeituras. O dinheiro do Suds sai do Ministério da Saúde, passa pelo governo do Estado e só depois dessa parada chega aos cofres municipais. O final do governo Sarney contribuiu para o atraso da remessa das verbas que ajudariam a sustentar a rede municipal de assistência médica. E a omissão das autoridades estaduais e municipais ajudou a reforçar a demora que, hoje, agrava o quadro clínico dos postos de saúde.

Campinas possui um deputado estadual e dois federais que poderiam estar alertas para essa situação. Cobrar do governo do Estado uma ação consequente e do Ministério da Saúde a liberação dos recursos é obrigação daqueles três que foram eleitos com compromissos, principalmente, firmados com as classes mais desfavorecidas.

Enquanto isso, a Prefeitura tenta administrar o impossível. Os baixos salários pagos aos médicos (em comparação à remuneração de mercado) atraem recém-formados em busca da primeira experiência profissional e espantam os testados há mais tempo na atividade. Consequentemente, os postos de saúde deixam de cumprir sua tarefa primária, dar assistência médica primária aos pacientes que podem ser medicados nesses locais, impedindo-os de buscar ajuda no Hospital Dr. Mário Gatti. Muitos profissionais concursados na Prefeitura ao tomarem ciência de quanto vão ganhar evitam arriscar trabalhar nas condições salariais oferecidas. Os recém-formados ficam algum tempo até conseguirem outros serviços melhor remunerados. Daí deixam de priorizar os postos de saúde.

A população que depende da rede municipal tem nesses postos um ponto de apoio às suas angústias e doenças. Porém, em alguns casos, encontram médicos que, desestimulados, deixam de oferecer um tratamento mais condizente com as necessidades desses pacientes. A própria estrutura da rede municipal de saúde --- carente de aparelhos e equipamentos --- denota a deterioração dos serviços.

Deve-se considerar que a Secretaria Municipal de Saúde é um dos setores da administração pública melhor dotada de pessoal comprometido com a melhoria da saúde pública. Contudo, verifica-se que o índice de doenças registrado na periferia ocorre muito mais em virtude da falta de informações sobre higiene pessoal e infraestrutura sanitária, como rede de água, esgoto e pavimentação. Desta forma, a procura dos postos de saúde é muito maior e tende a crescer na proporção inversa da infraestrutura sanitária.

A política de saúde pública adotada pela Secretaria Municipal de Saúde não vai sobreviver apenas do ideal. Os recursos são necessários, e mais importante é o desejo político de travar uma luta hercúlea para reduzir os índices de mortalidade infantil, os de doenças parasitárias provocadas pela carência de informações e de rede de água e esgoto, além, é claro, de pavimentação.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular em 28 de março de 1990)

Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk

No comments: