Ameaça à rede de saúde
pública
Pedro J. Bondaczuk
O atendimento médico prestado
na rede municipal de saúde vive momentos de extrema penúria. Os 38
postos de saúde administrados pela Prefeitura e o Hospital Dr. Mário
Gatti sobrevivem sem recursos, sem pessoal especializado na área de
enfermagem e, pior, sem médicos suficientes para atender clientes de
toda periferia da cidade e, também, da região.
Desde dezembro que o Suds ---
Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde --- não repassa a
verba para o Município. A burocracia federal aliada aos interesses
políticos dos governos estaduais obriga esse recurso a fazer uma
volta para chegar até as prefeituras. O dinheiro do Suds sai do
Ministério da Saúde, passa pelo governo do Estado e só depois
dessa parada chega aos cofres municipais. O final do governo Sarney
contribuiu para o atraso da remessa das verbas que ajudariam a
sustentar a rede municipal de assistência médica. E a omissão das
autoridades estaduais e municipais ajudou a reforçar a demora que,
hoje, agrava o quadro clínico dos postos de saúde.
Campinas possui um deputado
estadual e dois federais que poderiam estar alertas para essa
situação. Cobrar do governo do Estado uma ação consequente e do
Ministério da Saúde a liberação dos recursos é obrigação
daqueles três que foram eleitos com compromissos, principalmente,
firmados com as classes mais desfavorecidas.
Enquanto isso, a Prefeitura
tenta administrar o impossível. Os baixos salários pagos aos
médicos (em comparação à remuneração de mercado) atraem
recém-formados em busca da primeira experiência profissional e
espantam os testados há mais tempo na atividade. Consequentemente,
os postos de saúde deixam de cumprir sua tarefa primária, dar
assistência médica primária aos pacientes que podem ser medicados
nesses locais, impedindo-os de buscar ajuda no Hospital Dr. Mário
Gatti. Muitos profissionais concursados na Prefeitura ao tomarem
ciência de quanto vão ganhar evitam arriscar trabalhar nas
condições salariais oferecidas. Os recém-formados ficam algum
tempo até conseguirem outros serviços melhor remunerados. Daí
deixam de priorizar os postos de saúde.
A população que depende da
rede municipal tem nesses postos um ponto de apoio às suas angústias
e doenças. Porém, em alguns casos, encontram médicos que,
desestimulados, deixam de oferecer um tratamento mais condizente com
as necessidades desses pacientes. A própria estrutura da rede
municipal de saúde --- carente de aparelhos e equipamentos ---
denota a deterioração dos serviços.
Deve-se considerar que a
Secretaria Municipal de Saúde é um dos setores da administração
pública melhor dotada de pessoal comprometido com a melhoria da
saúde pública. Contudo, verifica-se que o índice de doenças
registrado na periferia ocorre muito mais em virtude da falta de
informações sobre higiene pessoal e infraestrutura sanitária, como
rede de água, esgoto e pavimentação. Desta forma, a procura dos
postos de saúde é muito maior e tende a crescer na proporção
inversa da infraestrutura sanitária.
A política de saúde pública
adotada pela Secretaria Municipal de Saúde não vai sobreviver
apenas do ideal. Os recursos são necessários, e mais importante é
o desejo político de travar uma luta hercúlea para reduzir os
índices de mortalidade infantil, os de doenças parasitárias
provocadas pela carência de informações e de rede de água e
esgoto, além, é claro, de pavimentação.
(Editorial publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular em 28 de março de 1990)
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