Equívocos da revisão
Pedro J. Bondaczuk
A revisão constitucional em
andamento, cercada de tanta polêmica e desinformação (a despeito
de programa diário no rádio e na televisão para tentar esclarecer
o público) mais uma vez emperrou. Desde o seu início, em meados de
outubro, praticamente não caminhou nada, atropelada pelo escândalo
do Orçamento da União e pela respectiva Comissão Parlamentar de
Inquérito, instalada para apurar culpas e reunir provas.
Dois equívocos estão sendo
cometidos em relação ao processo revisor. Um é o que nega
legitimidade ao atual Congresso para executar a tarefa. Outro, é o
dos que pretendem escrever uma nova Constituição.
Como sempre ocorre quando há
um assunto de repercussão nacional, demagogos tentam explorar o
despreparo político do brasileiro em proveito próprio. Os
adversários da revisão batem na tecla do risco da "perda de
conquistas sociais" obtidas na Carta Magna de 1988.
Há dois pontos a ponderar a
esse respeito. O primeiro, é que a maior parte desses avanços
jamais saiu do papel. Baste que se compare o que ocorre agora, com o
acelerado processo de "miserabilização" do brasileiro,
com anos anteriores.
Princípios, normas e leis são
inócuos, se desacompanhados de ações. O segundo ponto é que, por
estarmos em um ano de eleições, nem o mais cínico dos políticos
vai ousar apostar em retrocessos, sob pena de comprometer, e até de
encerrar, sua carreira.
Os defensores da revisão, por
seu turno, querem assumir poderes constituintes, que evidentemente
não têm. Ao Congresso revisor compete, somente, modificar aqueles
pontos da Constituição que são clara e evidentemente equivocados.
Por exemplo, a atual Carta
Magna foi feita na suposição de que o brasileiro optaria pelo
Parlamentarismo no plebiscito de 1993. Como não optou, é
indispensável que sejam conferidos poderes ao Executivo, sob pena de
o País permanecer, como está demonstrado de sobejo, ingovernável
ou quase.
O tamanho do Estado precisa
ser reduzido. O sistema político necessita de normas claras, lógicas
e racionais, bem como o tributário. No mais, não há o que mexer na
Constituição. Até porque, pelo andar da carruagem, com as
sucessivas faltas de quorum e a proximidade das campanhas eleitorais,
é muito contestável que os congressistas consigam aprovar uma pauta
mínima, que sequer foi elaborada.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 23 de fevereiro de 1994).
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