Operação resgate da moral
Pedro J. Bondaczuk
O acontecimento marcante de
outubro foi, sem dúvida nenhuma, a revelação do maior escândalo
de corrupção da história brasileira, que veio à luz em virtude
das denúncias feitas pelo economista José Carlos Alves dos Santos,
sobre a existência de uma quadrilha de criminosos de colarinho
branco, composta por deputados, senadores, ministros, ex-ministros e
empreiteiras, para fraudar o Orçamento da União.
Fatos estarrecedores dos
bastidores da política brasileira foram despejados aos borbotões
pelos meios de comunicação, gerando revolta, desencanto e ceticismo
acerca da punição dos culpados. O Congresso instalou uma Comissão
Parlamentar de Inquérito e promete limpar a instituição de maus
elementos, dos escroques, dos ladrões do povo, para conquistar
credibilidade.
A crise, todavia, tem um
aspecto positivo, na medida em que dá oportunidade a que se ponha um
basta definitivo nessa onda de imoralidade e cinismo que há anos
varre o País. O ex-secretário nacional de Política Econômica,
Roberto Macedo (que é professor da Universidade de São Paulo,
pesquisador da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas e do
Instituto Fernando Braudel de Economia Mundial), ressaltou, num
artigo publicado em 28 de outubro no jornal “O Estado de S. Paulo”,
o lado bom da coisa má.
Escreveu: “Albert Hirschman,
mundialmente conhecido pela sua análise do processo de
desenvolvimento econômico, nas suas aulas em Harvard costumava
enfatizar que as crises e outros obstáculos, que se apresentam nesse
processo, são frequentemente bênçãos disfarçadas, pois o esforço
de superá-los pode colocar o país numa situação melhor”.
Tomara que ele tenha razão.
Até porque, pior do que está é difícil de ficar (embora nossos
homens públicos, os maus, evidentemente, sejam tão criativos que
conseguem deteriorar ainda mais aquilo que já está podre). O crime
dos envolvidos no “esquema do Orçamento”, ou seja, da quadrilha
de escroques, é hediondo.
Um dos subterfúgios
utilizados para embolsar enormes somas (em dólares) foi a
manipulação de verbas destinadas a entidades sociais. Ou seja, os
ladrões de casaca, sob o pretexto de fazer filantropia, praticaram a
mais desavergonhada “pilantropia”. Ou seja, exercitaram a
pilantragem explícita, às custas da desgraça de milhões de
brasileiros.
Há quem apregoe que, diante
desse escândalo, o melhor que se faria seria fechar o Congresso.
Insensatos não nos faltam! Ora, se foi a democracia, a liberdade de
imprensa, a ausência de censura que permitiram a revelação dessa e
de outras falcatruas, como pregar o golpismo?!
O fechamento do Legislativo
seria a implantação de uma ditadura! Será que os defensores do
retrocesso político não se deram conta que os maiores roubos
ocorreram quando os meios de comunicação precisavam se submeter à
vigilância de censores para informar os cidadãos?
O indispensável é que a
opinião pública exerça pressão sobre a CPI, para que ela apure a
fundo todos os fatos. E, principalmente, que os envolvidos, não
apenas nesse escândalo (mas principalmente eles), mas todos os
demais que roubaram o erário, fraudaram o Tesouro e abusaram da boa
fé da população, paguem pelos seus crimes. Esta crise pode,
realmente, ser uma bênção se a sociedade brasileira aproveitá-la
para uma completa regeneração de costumes.
O País tem uma oportunidade
rara, raríssima, de redenção política. A chance não pode ser
desperdiçada, sob pena da emergência de um caos social. Podemos
sair da beira do abismo para escalar o cimo do Olimpo. Basta que haja
honestidade e vontade de consertar.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, da Folha do Taquaral, em novembro de 1993)
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