Monday, January 01, 2018

Reformas atrasadas


Pedro J. Bondaczuk


O ano no Brasil --- com as atividades em pleno vapor --- começa, somente, de fato, após o Carnaval. O período que vai do Natal até a Quarta-Feira de Cinzas --- ou um pouco além, já que muitos foliões não respeitam mais este dia --- é caracterizado pela realização apenas dos negócios urgentes e das tarefas que não podem esperar. No mais...

Empresários, políticos e administradores raramente são encontrados em seus postos. Trata-se, também, de época de férias escolares e muitos pais marcam as suas igualmente para essa ocasião, para aproveitar as praias ou montanhas em diversas partes do País e do Exterior.

Portanto, o brasileiro só vai começar a pensar em coisas sérias, a entrar no ritmo normal de atividades, nas próximas semanas. Talvez depois da Páscoa. Trata-se de um tempo preciosíssimo perdido, mas isso faz parte dos nossos costumes.

A agenda política, depois da aprovação em primeiro turno, por parte do plenário da Câmara de Deputados, da emenda que prevê reeleição para os cargos executivos (governos estaduais, prefeituras e Presidência da República), fica teoricamente menos sobrecarregada. Na prática, porém, as coisas acabam sendo diferentes.

O governo precisa empenhar-se para aprovar reformas indispensáveis para o País, mas que vêm sendo "empurradas com a barriga" há muito tempo. É um compromisso de campanha ainda longe da concretização.

Uma pesquisa feita junto aos formadores de opinião pública (líderes classistas, economistas, cientistas políticos e jornalistas), divulgada no último dia 3, revela desencanto dos consultados com a gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso, ao contrário da população, que se mostra satisfeita com o controle da inflação.

Mais de 80% dos entrevistados colocaram restrições à administração federal e ao Congresso. A principal cobrança refere-se à necessidade de aceleração da reforma do Estado, que anda a passos de tartaruga, sem a qual a estabilização econômica tende a se deteriorar.

O País não pode perder a oportunidade de modernizar suas instituições, para fazer com que funcionem com eficiência, balizando o desejado e indispensável desenvolvimento, para que se possa superar o imenso abismo social que torna a nossa sociedade a mais injusta do Planeta.

Tudo está por ser feito, no entanto. Os trabalhos arrastam-se já por dois anos, sem perspectivas de conclusão. A reforma previdenciária, tão comentada, empacou no Senado. Como a emenda sofreu uma série de alterações, vai retornar à Câmara, para nova rodada de debates e votações. As outras, então --- como a fiscal, a administrativa e a política --- sequer desencalharam das comissões.

Uma coisa, porém, ficou clara na pesquisa com os formadores de opinião: a eventual reeleição de Fernando Henrique está diretamente vinculada à aprovação da reforma de Estado. Se esta deslanchar, seu êxito será  líquido e certo. Caso se mantenha no atual ritmo, o presidente terá imensas dificuldades de conseguir um novo mandato, com emenda ou sem ela.



(Artigo publicado na Folha do Taquaral na primeira quinzena de fevereiro de 1996).


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