Reformas atrasadas
Pedro J. Bondaczuk
O ano no Brasil --- com as
atividades em pleno vapor --- começa, somente, de fato, após o
Carnaval. O período que vai do Natal até a Quarta-Feira de Cinzas
--- ou um pouco além, já que muitos foliões não respeitam mais
este dia --- é caracterizado pela realização apenas dos negócios
urgentes e das tarefas que não podem esperar. No mais...
Empresários, políticos e
administradores raramente são encontrados em seus postos. Trata-se,
também, de época de férias escolares e muitos pais marcam as suas
igualmente para essa ocasião, para aproveitar as praias ou montanhas
em diversas partes do País e do Exterior.
Portanto, o brasileiro só vai
começar a pensar em coisas sérias, a entrar no ritmo normal de
atividades, nas próximas semanas. Talvez depois da Páscoa. Trata-se
de um tempo preciosíssimo perdido, mas isso faz parte dos nossos
costumes.
A agenda política, depois da
aprovação em primeiro turno, por parte do plenário da Câmara de
Deputados, da emenda que prevê reeleição para os cargos executivos
(governos estaduais, prefeituras e Presidência da República), fica
teoricamente menos sobrecarregada. Na prática, porém, as coisas
acabam sendo diferentes.
O governo precisa empenhar-se
para aprovar reformas indispensáveis para o País, mas que vêm
sendo "empurradas com a barriga" há muito tempo. É um
compromisso de campanha ainda longe da concretização.
Uma pesquisa feita junto aos
formadores de opinião pública (líderes classistas, economistas,
cientistas políticos e jornalistas), divulgada no último dia 3,
revela desencanto dos consultados com a gestão do presidente
Fernando Henrique Cardoso, ao contrário da população, que se
mostra satisfeita com o controle da inflação.
Mais de 80% dos entrevistados
colocaram restrições à administração federal e ao Congresso. A
principal cobrança refere-se à necessidade de aceleração da
reforma do Estado, que anda a passos de tartaruga, sem a qual a
estabilização econômica tende a se deteriorar.
O País não pode perder a
oportunidade de modernizar suas instituições, para fazer com que
funcionem com eficiência, balizando o desejado e indispensável
desenvolvimento, para que se possa superar o imenso abismo social que
torna a nossa sociedade a mais injusta do Planeta.
Tudo está por ser feito, no
entanto. Os trabalhos arrastam-se já por dois anos, sem perspectivas
de conclusão. A reforma previdenciária, tão comentada, empacou no
Senado. Como a emenda sofreu uma série de alterações, vai retornar
à Câmara, para nova rodada de debates e votações. As outras,
então --- como a fiscal, a administrativa e a política --- sequer
desencalharam das comissões.
Uma coisa, porém, ficou clara
na pesquisa com os formadores de opinião: a eventual reeleição de
Fernando Henrique está diretamente vinculada à aprovação da
reforma de Estado. Se esta deslanchar, seu êxito será líquido
e certo. Caso se mantenha no atual ritmo, o presidente terá imensas
dificuldades de conseguir um novo mandato, com emenda ou sem ela.
(Artigo publicado na Folha do
Taquaral na primeira quinzena de fevereiro de 1996).
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