Ao nosso alcance
Pedro J. Bondaczuk
O
sucesso, e o seu oposto (o fracasso), não passam, ambos, de
miragens. São meras ilusões de ótica. Ninguém é tão
bem-sucedido quanto às vezes pensa (ou somente deseja) e nem
completamente fracassado, como via de regra se sente após algum
grande tropeço na carreira, no amor e nos relacionamentos. Enquanto
estivermos vivos, todas as possibilidades permanecem abertas para
nós. Tanto poderemos nos decepcionar com o que julgávamos, não
raro afoitamente, como espetacular êxito, quanto nos surpreender com
uma inesperada virada, com uma dramática recuperação, quando já
julgávamos tudo perdido.
É
essa imprevisibilidade da vida que me fascina e me encanta, embora,
muitas vezes, me aterrorize. Por isso, devemos estar sempre atentos.
Nunca podemos baixar a guarda. Temos que permanecer, o tempo todo,
prevenidos, para o bem, ou para o mal. Conheci pessoas que estavam na
crista da onda, requisitadas e louvadas por seus feitos e virtudes,
tidas e havidas como exemplares e vitoriosas e que, de repente...
zás! Rolaram ladeira abaixo e, em três tempos, foram execradas e
depois esquecidas. Fracassaram e não souberam “levantar, sacudir a
poeira e dar a volta por cima”
Se
quisermos ser bem-sucedidos em qualquer empreitada temos, antes de
tudo, conhecer nosso potencial. E, sobretudo, ter noção, nem que
mínima, das nossas aptidões. Em contrapartida, é questão de
bom-senso estarmos cientes das nossas fraquezas e vulnerabilidades,
para não sermos surpreendidos por elas. Ademais, nunca se pode
perder de vista o fato de que sozinhos não chegaremos a lugar algum.
Daí termos necessidade de estabelecer sólida e sábia rede de
relacionamentos, criar vínculos com as pessoas certas, que poderão,
com sua ajuda, facilitar, quando não possibilitar que alcancemos
nossos propósitos.
O
filósofo norte-americano, Ralph Waldo Emerson, no livro
“Considerations by the Way”, constata: “A vida traz a cada um a
sua tarefa e, seja qual for a ocupação escolhida, álgebra,
pintura, arquitetura, poesia, comércio, política – todas estão
ao nosso alcance, até mesmo na realização de miraculosos triunfos,
tudo na dependência da seleção daquilo para que temos aptidão:
comece pelo começo, prossiga na ordem certa, passo a passo”.
Está
aí o primeiro e indispensável degrau a subir: detectar e investir
naquilo para o que estejamos habilitados, mesmo que apenas
potencialmente. Ou seja, se tivermos facilidade em lidar com números,
por exemplo, a meta a ser atingida tem que se basear em cálculos
(engenharia, comércio, economia, física etc.). Se formos aptos em
reproduzir imagens (ou, quando for o caso, criá-las), o caminho que
se desenha à nossa frente é o das artes plásticas. Se tivermos
facilidade de escrever, poderemos ser bons escritores, jornalistas
competentes ou mestres do idioma, entre outras atividades. E assim
por diante.
O
fundamental, porém, é que escolhamos objetivos factíveis e que,
sobretudo, estejam ao nosso alcance. Não posso, por exemplo,
pretender ser um atleta de alto rendimento se tiver dificuldades,
até, para simplesmente caminhar. Seria estupidez querer ser campeão
olímpico de natação se nem ao menos souber nadar. Óbvio que, por
mais esforçados e determinados que formos, não chegaremos jamais a
essas metas se não tivermos aptidão física para elas. Trata-se de
impedimento orgânico, constitucional, muscular e, portanto,
insuperável. Essas tarefas, se forem as que nos autoimpusermos, nos
serão absolutamente interditas. Não estarão, jamais, ao nosso
alcance.
Muitos
não atentam para isso e passam a vida toda remoendo frustrações,
face ao inevitável e previsível fracasso. O melhor que poderiam
fazer, no entanto, seria estabelecer objetivos que lhes fossem
factíveis. Ou seja, os que, sem grande esforço, estivessem ao seu
alcance, por serem compatíveis com suas aptidões.
O
mero acerto na escolha do que se quer e se sabe fazer bem, todavia,
não é garantia absoluta de sucesso, embora se constitua num
primeiro passo para ele. Há uma série de condições a cumprir,
para que se tenha pelo menos parca chance de êxito. Entre estas
destacam-se: o preparo, a autodisciplina, a determinação, a
vontade, o método, o treinamento, a persistência etc.etc.etc. E,
mesmo que todas essas etapas sejam cumpridas com o máximo rigor,
ainda assim estaremos na dependência das circunstâncias, que podem
arruinar por completo uma empreitada que, aparentemente, tinha tudo
para ser bem-sucedida.
Emerson
observa: “É tão fácil retorcer âncoras de ferro e talhar
canhões como entrelaçar palha, tão fácil ferver granito como
ferver água, se você fizer tudo na ordem correta. Onde quer que
houve insucesso é porque houve titubeio, houve alguma superstição
sobre a sorte, algum passo omitido, que a natureza jamais perdoa”.
Nosso
consolo é que, enquanto houver vida, sempre haverá esperança. O
fracasso de hoje pode, miraculosamente, se transformar no sucesso de
amanhã. Mas tenha em mente que o “vice-versa” também tem
possibilidade de acontecer. Por isso, nunca devemos nos empolgar
demais com os êxitos e nem considerar tudo perdido com os
insucessos. Por mais que me assuste e aterrorize, reitero, me fascina
e me encanta essa imprevisibilidade da vida, pois lhe dá sabor de
permanente e arriscada aventura.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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