Campanha de tiro curto
Pedro J. Bondaczuk
A propaganda política, com
vistas ao Segundo Turno das eleições para prefeito, nas cidades em
que não se chegou a um vencedor no dia 1º passado, entre as quais
Campinas está incluída, vai começar (ou recomeçar), nesta
segunda-feira.
Será uma campanha rápida, de
"tiro curto", de apenas dez dias de duração, na qual os
dois postulantes à sucessão de Francisco Amaral, Antonio da Costa
Santos, da coligação PT-PSTU, e o deputado estadual Carlos Sampaio,
do PSDB, deverão lançar sobre a mesa todas as suas "cartas"
para convencer o eleitorado. É agora ou nunca!
A escassez de tempo, com
certeza, fará com que esta etapa venha a ser caracterizada por maior
agressividade, por parte dos dois concorrentes, sendo de se esperar
trocas de "farpas" entre ambos, o que, embora muitas vezes
mais espante o eleitor do que atraia o seu voto, é bastante usual e,
quando não descamba para excessos, até normal nesse tipo de
disputa, não somente em nossa cidade, como no País e em qualquer
parte do mundo em que haja votação livre e democrática.
Trata-se de uma estratégia,
contestável por sinal, na qual os concorrentes, em vez de exaltarem
as excelências dos respectivos programas, buscam desacreditar as do
adversário e até a vida pregressa dele. É bastante duvidoso o
resultado prático (para não dizer o sentido ético) dessa linha de
ação. Alguns, contudo, acham que dá certo e que os meios
justificam os fins. Outros já não pensam assim. De qualquer forma,
é o que se pode esperar: mais agressividade e (espera-se que não)
até ofensas pessoais. A expectativa, no entanto, é que nenhum dos
dois candidatos confunda agressividade com "baixaria". Mas
o pior não pode também ser descartado.
A tarefa de Carlos Sampaio, a
se confiar nas pesquisas de opinião (que se tornaram verdadeiros
"oráculos" para os políticos, mesmo apresentando, em
algumas ocasiões, que não são poucas, números que são
desmentidos posteriormente pela realidade das urnas), é das mais
complicadas e indigestas. Precisa, antes de tudo, reverter o amplo
favoritismo do seu rival petista, beneficiado pelo severo e crescente
descontentamento popular com os governos de Mário Covas e
principalmente de Fernando Henrique Cardoso.
Ao contrário da campanha do
Primeiro Turno, em que temas referentes exclusivamente à cidade
foram os predominantes, nesta segunda etapa deverão, senão
prevalecer, pelo menos ter um peso bastante expressivo, as questões
nacionais mais candentes da atualidade. Cabe ao postulante tucano
tentar fugir dessa verdadeira armadilha e buscar trazer os debates
para os problemas exclusivamente, ou pelo menos majoritariamente, de
Campinas, que não são poucos.
A imprensa da cidade tem
enfatizado muito, nos últimos dias, a questão das alianças. E a
mesma pergunta, que sempre tem ficado no ar em todas as eleições de
dois turnos desde que esse sistema foi instituído entre nós, se
impõe e volta à baila: "Prestígio político é transferível?"
Os votos, só para citar um exemplo, de Peterson Prado vão migrar,
automaticamente, "todos", ou ao menos em quantidade
expressiva, para Toninho do PT, só porque o líder do PPS está
apoiando o candidato petista? Alguns eleitores até podem, de fato,
seguir a recomendação. Mas quantos o farão? É impossível de se
prever.
Nada, evidentemente, está
decidido, apesar da imensa desvantagem nas pesquisas de Carlos
Sampaio em relação ao seu oponente. E os dois candidatos, com
certeza, estão conscientes disso. Embora jovens, estão longe de ser
ingênuos. Ademais, caso o quadro não pudesse ser modificado, seria
uma redundância, para não dizer uma dispendiosa inutilidade, a
realização do Segundo Turno do dia 29 próximo. Bastaria que a
Justiça Eleitoral desse a vitória ao que estivesse liderando as
pesquisas de opinião e tudo estaria resolvido.
Mais do que programas
diferentes (a rigor, as diferenças sequer são tão notáveis), o
eleitor vai decidir entre dois estilos bastante diversos de governar.
De um lado, está o deputado tucano, que confessa se espelhar nas
ações do saudoso prefeito Magalhães Teixeira, prometendo,
inclusive, repetir a mesma equipe do seu ídolo político. De outro,
o ex-vice-prefeito de Jacó Bittar, dando a entender que vai utilizar
métodos testados com sucesso em outras cidades, como Porto Alegre,
cuja prefeitura está há doze anos nas mãos do PT e ao que tudo
indica, vai permanecer por mais quatro. Entre outras características
de gestão, tem como principal "estrela" do seu elenco de
medidas o orçamento participativo, além da descentralização
administrativa.
Que o eleitor fique bastante
atento às respectivas propostas, não se deixando levar pela
retórica de parte a parte, pois as eleições municipais não são
(ou pelo menos não deveriam ser) mera disputa ideológica. É uma
questão sumamente prática. Do prefeito que vai ser eleito, dentro
de duas semanas, vão depender a escola do seu filho, a creche das
suas crianças, o trânsito para ir ao trabalho ou ao lazer, os
transportes, a sua segurança pessoal e de seu patrimônio e,
sobretudo, a sua qualidade de vida. Das onze possibilidades iniciais,
restaram apenas duas. Um erro de escolha pode representar quatro
penosos anos de atraso para Campinas e enormes contratempos para a
população.
(Texto redigido como editorial
da Folha do Taquaral em 2 de outubro de 2000).
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