Tuesday, January 02, 2018

Campanha de tiro curto


Pedro J. Bondaczuk


A propaganda política, com vistas ao Segundo Turno das eleições para prefeito, nas cidades em que não se chegou a um vencedor no dia 1º passado, entre as quais Campinas está incluída, vai começar (ou recomeçar), nesta segunda-feira.

Será uma campanha rápida, de "tiro curto", de apenas dez dias de duração, na qual os dois postulantes à sucessão de Francisco Amaral, Antonio da Costa Santos, da coligação PT-PSTU, e o deputado estadual Carlos Sampaio, do PSDB, deverão lançar sobre a mesa todas as suas "cartas" para convencer o eleitorado. É agora ou nunca!

A escassez de tempo, com certeza, fará com que esta etapa venha a ser caracterizada por maior agressividade, por parte dos dois concorrentes, sendo de se esperar trocas de "farpas" entre ambos, o que, embora muitas vezes mais espante o eleitor do que atraia o seu voto, é bastante usual e, quando não descamba para excessos, até normal nesse tipo de disputa, não somente em nossa cidade, como no País e em qualquer parte do mundo em que haja votação livre e democrática.

Trata-se de uma estratégia, contestável por sinal, na qual os concorrentes, em vez de exaltarem as excelências dos respectivos programas, buscam desacreditar as do adversário e até a vida pregressa dele. É bastante duvidoso o resultado prático (para não dizer o sentido ético) dessa linha de ação. Alguns, contudo, acham que dá certo e que os meios justificam os fins. Outros já não pensam assim. De qualquer forma, é o que se pode esperar: mais agressividade e (espera-se que não) até ofensas pessoais. A expectativa, no entanto, é que nenhum dos dois candidatos confunda agressividade com "baixaria". Mas o pior não pode também ser descartado.

A tarefa de Carlos Sampaio, a se confiar nas pesquisas de opinião (que se tornaram verdadeiros "oráculos" para os políticos, mesmo apresentando, em algumas ocasiões, que não são poucas, números que são desmentidos posteriormente pela realidade das urnas), é das mais complicadas e indigestas. Precisa, antes de tudo, reverter o amplo favoritismo do seu rival petista, beneficiado pelo severo e crescente descontentamento popular com os governos de Mário Covas e principalmente de Fernando Henrique Cardoso.

Ao contrário da campanha do Primeiro Turno, em que temas referentes exclusivamente à cidade foram os predominantes, nesta segunda etapa deverão, senão prevalecer, pelo menos ter um peso bastante expressivo, as questões nacionais mais candentes da atualidade. Cabe ao postulante tucano tentar fugir dessa verdadeira armadilha e buscar trazer os debates para os problemas exclusivamente, ou pelo menos majoritariamente, de Campinas, que não são poucos.

A imprensa da cidade tem enfatizado muito, nos últimos dias, a questão das alianças. E a mesma pergunta, que sempre tem ficado no ar em todas as eleições de dois turnos desde que esse sistema foi instituído entre nós, se impõe e volta à baila: "Prestígio político é transferível?" Os votos, só para citar um exemplo, de Peterson Prado vão migrar, automaticamente, "todos", ou ao menos em quantidade expressiva, para Toninho do PT, só porque o líder do PPS está apoiando o candidato petista? Alguns eleitores até podem, de fato, seguir a recomendação. Mas quantos o farão? É impossível de se prever.

Nada, evidentemente, está decidido, apesar da imensa desvantagem nas pesquisas de Carlos Sampaio em relação ao seu oponente. E os dois candidatos, com certeza, estão conscientes disso. Embora jovens, estão longe de ser ingênuos. Ademais, caso o quadro não pudesse ser modificado, seria uma redundância, para não dizer uma dispendiosa inutilidade, a realização do Segundo Turno do dia 29 próximo. Bastaria que a Justiça Eleitoral desse a vitória ao que estivesse liderando as pesquisas de opinião e tudo estaria resolvido.

Mais do que programas diferentes (a rigor, as diferenças sequer são tão notáveis), o eleitor vai decidir entre dois estilos bastante diversos de governar. De um lado, está o deputado tucano, que confessa se espelhar nas ações do saudoso prefeito Magalhães Teixeira, prometendo, inclusive, repetir a mesma equipe do seu ídolo político. De outro, o ex-vice-prefeito de Jacó Bittar, dando a entender que vai utilizar métodos testados com sucesso em outras cidades, como Porto Alegre, cuja prefeitura está há doze anos nas mãos do PT e ao que tudo indica, vai permanecer por mais quatro. Entre outras características de gestão, tem como principal "estrela" do seu elenco de medidas o orçamento participativo, além da descentralização administrativa.

Que o eleitor fique bastante atento às respectivas propostas, não se deixando levar pela retórica de parte a parte, pois as eleições municipais não são (ou pelo menos não deveriam ser) mera disputa ideológica. É uma questão sumamente prática. Do prefeito que vai ser eleito, dentro de duas semanas, vão depender a escola do seu filho, a creche das suas crianças, o trânsito para ir ao trabalho ou ao lazer, os transportes, a sua segurança pessoal e de seu patrimônio e, sobretudo, a sua qualidade de vida. Das onze possibilidades iniciais, restaram apenas duas. Um erro de escolha pode representar quatro penosos anos de atraso para Campinas e enormes contratempos para a população.


(Texto redigido como editorial da Folha do Taquaral em 2 de outubro de 2000).

Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk               

No comments: