Verdadeira juventude
Pedro J. Bondaczuk
A velhice começa em qual
idade? Há não muito, pessoas que mal passavam da faixa dos 50 anos
já eram consideradas “velhas”. E assumiam-se como tal. Os
progressos da medicina, todavia, bem como a melhor qualidade dos
alimentos, da água e dos medicamentos estenderam bastante esse
limite. Não faz muito vimos, em reportagem da ESPN Brasil, um
cidadão do Nordeste que, aos 52 anos, ainda era jogador profissional
de futebol.
Romário encerrou a carreira
aos 42. O volante Fernando, do Santo André, tinha essa mesma idade e
ainda defendeu seu time, no Campeonato Brasileiro da Série A de
2009, com fôlego de dar inveja a muito garotão que atua nas
categorias de base dos clubes.
Hoje, considera-se que aquilo
que se convencionou chamar, eufemisticamente, de “Terceira Idade”,
tem início quase duas décadas depois. Ou seja, aos 65 anos. E, pelo
andar da carruagem, esse teórico limite da maturidade deverá (logo,
logo) ser estendido para 80 ou mais aniversários.
Escrevi inúmeras vezes, e
reitero aqui, que juventude e velhice não é questão cronológica,
de calendário, mas um estado de espírito. Não me canso de repetir
que conheço inúmeros “velhos” de 18 anos, desanimados, sem
perspectiva e buscando a fuga da realidade no álcool e, não raro,
nas drogas, e muitos “jovens” prestes a atingir a idade
centenária.
Exagero? De forma alguma!
Querem um exemplo? Alguém que não conhecesse Barbosa Lima Sobrinho
pessoalmente – que foi por um tempão presidente da Associação
Brasileira de Imprensa – e que lesse, com atenção e assiduidade,
os textos que escrevia aos cem anos (isso mesmo, em idade centenária)
para o Jornal do Brasil do Rio de Janeiro diria, em sã consciência,
que se tratava de um “velho”? Duvido! Era tamanha a sua lucidez,
tão grande o seu entusiasmo, tão ativa a sua participação na vida
do País, que se diria que se tratava de um moço de 20 anos, se
tanto.
E esse não é um caso único
e nem o mais surpreendente. Conheço inúmeros outros. Meu avô
Hilarion Bondaczuk, por exemplo, foi um desses “jovenzinhos”
centenários. Com mais de 90 anos veio, sozinho, de Porto Alegre a
Campinas, apenas para conhecer pessoalmente suas novas bisnetas,
minhas filhas, que na ocasião tinham dois e um ano, respectivamente.
Faleceu lúcido e saudável.
Por isso, está mais do que na
hora de se pôr fim a esse estúpido preconceito em relação às
pessoas que já fizeram, por exemplo, mais do que 65 aniversários. A
estupidez desse comportamento preconceituoso fica mais evidente ainda
quando se recorda que todos, absolutamente todos (a menos que a morte
colha alguém antes, na juventude ou na maturidade, por exemplo), um
dia iremos envelhecer. E as ideias que consolidarmos, a respeito das
pessoas idosas, se voltarão, então, por inteiro, contra nós.
Seremos, considerados inúteis, pesos mortos para a família e a
sociedade, com mentalidade de criança ou de uma pessoa insana, mesmo
que não sejamos assim. Por que? Porque alimentamos, ou ajudamos a
alimentar esse preconceito.
Meu pai sempre dizia, do alto
de sua sabedoria de homem simples, mas sensato: “Pedrinho (foi
assim que sempre me chamou), lembre-se que você irá dormir na cama
que arrumar”. Ou seja, tudo o que fizermos, de bom ou de ruim, um
dia nos produzirá consequências, boas ou más.
O pai da psicanálise, Sigmund
Freud, em entrevista dada a George Silvestre Vierek, para “Glimpses
of the great”, em 1930, (reproduzida pelo jornal “Folha de São
Paulo”, em 3 de janeiro de 1998), observou a respeito:
“Biologicamente, cada ser vivo, por mais forte que arda nele o fogo
da vida, tende ao nirvana, deseja que a febre chamada vida chegue ao
seu fim. Podemos jogar com a ideia de que a morte nos alcança porque
a desejamos. Talvez pudéssemos vencer a morte, se não fosse pelo
aliado que ela tem dentro de nós. Assim, poderíamos dizer que toda
morte é um suicídio encoberto”.
Ou seja, nós,
subconscientemente, é que abrimos mão da vontade de viver. Isso, no
meu entender, é o que determina a tal da “velhice”. Pode ocorrer
tanto aos dezoito anos, quanto aos cem. Não se trata, pois, como não
me canso de reiterar, de questão cronológica, mas de “cabeça”.
Aliás, achei Freud sumamente
pessimista nesta entrevista, que oportunamente prometo abordar, para
tratar de outros aspectos que o ilustre psicanalista também abordou.
Nessa questão específica, porém, concordo plenamente com o que o
padre Roque Schneider escreveu: “Ser jovem é ter os olhos molhados
de esperança e adormecer com problemas, na certeza de que a solução
madrugará no dia seguinte”. E isso nós podemos fazer, se tivermos
estrutura espiritual para tanto, quer aos 16, 18 ou 20 anos, quer aos
cem.
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