Saturday, January 13, 2018

Revisão já, sem demagogia



Pedro J. Bondaczuk


A revisão constitucional, prevista para começar neste mês de outubro, é a nova vedete nas manchetes dos meios de comunicação, ao lado, logicamente, dos temas rotineiros como a escalada inflacionária, o festival de retórica que caracteriza o governo Itamar Franco, a violência nas grandes cidades e a onipresente palavrinha “crise”. Desbanca, dessa forma, o assunto que predominou no noticiário, em especial o econômico, nos últimos 12 meses, que foi a criação – e a oportuna extinção – do malfadado Imposto Provisório sobre Movimentação Financeira, o IPMF.

Como tudo neste país à procura de caminhos, o tema tende a se tornar uma interminável novela, com centenas de capítulos, ora dramáticos, ora cômicos, mas na verdade patéticos. Três correntes se digladiam em torno da questão. A primeira é a que defende o processo revisional já, baseada no artigo 3º das Disposições Transitórias da atual Constituição.

De fato, o texto constitucional em vigor, embora admita-se algumas (poucas) conquistas sociais, é um primor de ambiguidade e imperfeições. Seria enfadonho enumerar os itens dignos de supressão, já que são mencionados diariamente em entrevistas, artigos e debates pelo grupo revisionista.

Mas há que se ter um cuidado muito especial, que os constituintes de 1986 não tiveram: o de não colocar a revisão como uma espécie de varinha mágica, que num simples passe de algum prestidigitador, fará desaparecer, por encanto, todos os problemas que nos atormentam. Zerará a inflação, acabará com o quadro de desemprego e colocará comida na panela dos brasileiros, em especial dos 32 milhões de famintos, “herdeiros” dos milagreiros de plantão.

A segunda corrente é a que se opõe, totalmente, ao processo. São os que entendem que a atual Constituição é uma obra-prima, em termos de proteção social. De duas uma: ou eles vivem com a cabeça nas nuvens, alienados do quadro de miserabilidade que aí está, ou têm sérias dúvidas acerca da nossa inteligência.

Esse grupo argumenta que a revisão constitucional apenas se justificaria caso, no plebiscito de 21 de abril passado, os eleitores houvessem optado por mudar o regime e o sistema de governo. Como nada foi alterado, acentuam, a Constituição deve ser deixada como está.

As emendas que eventualmente se fizerem necessárias teriam que ser encaminhadas pelos trâmites normais. Ou seja, conseguirem a aprovação de três quintos dos deputados e o mesmo tanto dos senadores, em dois turnos, em cada uma das casas.

Finalmente, a terceira corrente é a integrada por aqueles que costumam ficar sempre em cima do muro. Admite que o texto constitucional é inadequado e deve ser reformado. Mas propõe o adiamento da revisão para 1995, para o novo Congresso a ser eleito no ano que vem. Por que não mudar agora o que é utópico e fantasioso e precisa ser mudado?

Nenhum dos defensores desta tese apresenta um argumento lógico, sustentável e digno de ser defendido para o protelamento. O que a atual Constituição precisa é de uma poda em regra. Os parlamentares têm que deixar de lado a retórica vazia, os arroubos demagógicos e o cínico jogo de interesses e pensar somente no que é melhor para o País. Até porque, quer queiram, quer não, eles vão passar e o Brasil seguirá em sua trajetória rumo ao seu destino. Qual? Aquele que os próprios brasileiros definirem.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, da Folha do Taquaral, em outubro de 1993)



Acompanhe-me pelo twitter: @bo0ndaczuk

No comments: