Monday, January 01, 2018

É como iniciar a redação de um diário

Pedro J. Bondaczuk

Estamos a pouquíssimos minutos da largada para um novo ano, É como se estivéssemos à espera do tiro de partida da corrida de São Silvestre, em São Paulo, em sua versão antiga, quando a competição era realizada à noite. Agimos (nem todos, é verdade) como atletas de ponta, postados, ansiosos, nos simbólicos umbrais de novo período de 365 dias, caminhando, lentamente, passo a passo, para iniciar a nova jornada.

Um amigo que muito estimo (e essa declaração chega a ser redundante, pois se não o estimasse não haveria amizade entre nós) lembra que o novo ano não está tão perto assim como afirmei, ou seja, a minutos de começar. Está, segundo ele, a uma hora e os minutos citados acima, tendo em conta o (para mim) chatíssimo horário de verão.

Ora, ora, ora, deixa de ser chato, amigão! O “defeito” desse amigo (que ele, todavia, considera virtude) é ser excessivamente detalhista. Está bem! Que seja! Falta mais de uma hora para o início do novo ano aqui neste nosso “país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza”, como diz a letra da famosa composição do repertório de Jorge Benjor. Façamos, pois, a coisa certa.

Não quero ser detalhista também. Se quisesse, poderia lembrar ao meu amigo que o ano novo já é realidade, e em há já treze horas, em boa parte da Ásia e da Oceania, por exemplo. Ou essas regiões acaso não fazem parte do mesmo Planeta em que estamos? Vimos, inclusive, pela TV, a intensa queima de fogos na Austrália, na Nova Zelândia etc.etc.etc., como ocorre sempre nestas ocasiões neste mundão globalizado. Mas… Vamos dar uma pausa de pouco mais de uma hora, conforme quer o meu amigo, para considerarmos o início de fato do ano novo aqui entre nós…

Bem, amável (e paciente) leitor, imagine que tenha passado uma hora da minha interrupção deste texto, de olho no relógio (e você só pode imaginar isso, pois não há como configurar em palavras essa pausa de silêncio de 60 minutos) e conte os segundos que agora faltam para o ano novo começar de verdade, em se considerando o horário de verão. Façamos juntos a contagem regressiva:

Dez...nove...oito...sete...seis...cinco...quatro...três...dois...um!!! FELIZ ANO NOVO!!!! Entre abraços, votos de felicidade e o espoucar das rolhas de champanhe, podemos ouvir, em fundo, o estúpido ruído do estouro de rojões, morteiros, bombinhas e bombonas, para desespero de nossos cães e gatos. É em momentos como estes que fico com raiva dos chineses por haverem inventado a pólvora (e dizem que inventaram, também, os fogos de artifício)!!! Temo que a cada ano que passa, o tal do Homo Sapiens fica cada vez mais “Homo Demens”.

Se você está participando da algazarra, certamente está acordado neste exato momento(o que, convenhamos, é o óbvio dos óbvios, ou, como diria Nelson Rodrigues, o “óbvio ululante”). A esse propósito lembro-me de uma declaração do saudoso escritor norte-americano Bill Vaugh, que li há algumas horas, quando buscava “inspiração”, para estas descompromissadas (e nada literárias) considerações. O referido “escrevinhador” (com todo respeito) declarou o seguinte, em um de seus tantos textos: “Um otimista fica acordado até meia-noite para ver a entrada do Ano Novo. Um pessimista fica acordado para ter a certeza de que o ano velho se foi”. E você, caríssimo leitor, o que o motivou a essa vigília? Você está no rol dos otimistas ou dos pessimistas? Quis saudar com alegria (alegria mesmo) o novo ano ou desejou somente ter a certeza de que o velho se foi?

Da minha parte, não sou dado a pessimismo (e você que me lê com assiduidade é testemunha). Mas… o ano que acabou foi tão tenso, tão repleto de fracassos e de decepções, que fiquei acordado para ter a certeza de que, de fato, ele foi embora. É certo que tive, também, alegrias inesperadas e sucessos surpreendentes. Mas bem que o ano findo poderia ter sido um “pouquinho” melhor. Não sei se feliz ou infelizmente (a gente nunca sabe), ele enfim acabou. Levou o bom e o ruim para o passado, cristalizando-os em meras lembranças. Muitas vão doer quando emergirem à memória. Outras tantas virão acompanhadas de saudades. Nosso desafio, porém, é construirmos um novo ano, se possível, perfeito.

Já que citei acima o escritor Bill Vaugh, e para demonstrar que não sou um sujeito machista, peço licença para citar, também, a declaração de uma escritora, no caso a também norte-americana Edith Lovejoy Pierce. Ela comparou o novo ano a um diário (não especificamente, mas nas entrelinhas, já que se referiu a um livro em branco, com 365 páginas). Compete-nos escrever seu enredo. Todavia, não propriamente com palavras, como ela declara, mas, sobretudo, com atos (conforme minha interpretação). É certo que o que for “escrito” (na verdade feito) dependerá muito pouco da nossa vontade. Estará por conta das tais “circunstâncias”. Nós, todavia, com persistência e inteligência, poderemos modificá-las a nosso favor (caso sejam negativas). Talvez nem todas possam ser alteradas, mas pelo menos boa parte delas.

A declaração literal de Edith Lovejoy Pierce foi a seguinte: “Nós abriremos o livro. Suas páginas estão em branco. Nós vamos pôr palavras nele. O livro chama-se ‘oportunidade’ e seu primeiro capítulo é o dia de ano novo”. Ou seja, é hoje. Para uma jornada de sucesso, nada como um primeiro passo positivo. Se começarmos a caminhada tropeçando nas próprias pernas, teremos um ingrediente a mais contra nós: o pessimismo para a sequência. Iniciemos, pois, a trajetória dos próximos 365 dias, que pretendemos que seja vitoriosa, construindo um HOJE perfeito, mesmo que estejamos de ressaca (o que é bastante provável). Com tudo e por tudo, só posso desejar-lhe, querido parente e precioso amigo (virtual ou/e presencial) um FELIZ ANO NOVO, começando já, neste momento, sem tardança e nem preguiça, a construir um primeiro dia à prova de imperfeições.


Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk

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