Revisão paralisada
Pedro J. Bondaczuk
A revisão constitucional, que
tantas esperanças despertou naqueles que sonham em ver o Estado
brasileiro ser transformado do “elefante branco” atual, numa
máquina moderna, enxuta e eficaz, está virtualmente empacada. Foi
atropelada pelo escândalo do Orçamento, que estourou, com as
revelações surpreendentes e revoltantes do economista José Carlos
Alves dos Santos, praticamente no dia da sua instalação.
As apurações da Comissão
Parlamentar de Inquérito sobre as atividades da máfia que vinha
manipulando as verbas públicas, especialmente de caráter social,
desviando rios de dólares para suas contas bancárias pessoais e de
cupinchas, fizeram com que essa importante tarefa revisional fosse
quase deixada de lado. Pior para o País.
Para uma Constituição,
apregoada como a “oitava maravilha do mundo”, a existência de
17.266 propostas de emendas, apresentadas pelos principais partidos,
muitos dos quais contrários ao processo de revisão, é um fato
sintomático. Nem é preciso repisar a tese de que o texto
constitucional elaborado pela Assembleia Constituinte de 1986 é de
regular para medíocre. Bom não é mesmo. Estão aí as
consequências.
O deputado José Serra, em
recente entrevista concedida à “Folha de S. Paulo”, diagnosticou
a existência de uma crise simultânea no País quanto às formas de
organização do Estado, de repartição dos limites da propriedade
estatal e das políticas tradicionais de redistribuição. A revisão
constitucional é a oportunidade, talvez derradeira, para que esses
gargalos perversos sejam rompidos.
No entanto, nem a opinião
pública, nem a população parecem se dar conta da gravidade do
momento. Comenta-se acerca de tudo. A CPI do Orçamento é
pressionada – e deve ser – para juntar o máximo de provas contra
os eventuais culpados pela corrupção, deixando de lado qualquer
espírito corporativista.
O Congresso é intimado para
punir com a cassação de mandatos aqueles que não honraram seu
compromisso com os cidadãos a que representam. O ministro da Fazenda
é criticado por não agir com a devida presteza e precisão no
combate à inflação e aos desajustes econômicos. Mas os
encarregados da revisão constitucional, ou seja, todos os
congressistas, sequer são lembrados. E, pelo andar da carruagem,
mais uma oportunidade de mudar o Brasil para melhor será perdida.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 1º de janeiro de 1994)
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