Responsabilidade do Congresso
Pedro J. Bondaczuk
O lexicógrafo
norte-americano, Noah Webster, autor de um dos mais completos
dicionários de língua inglesa, afirmou que “quanto melhor
informado, menos o povo estará sujeito à paixão, à intriga e a um
governo corrupto”.
Essa recomendação é válida,
sobretudo, no aspecto político. Informações precisas e
descomprometidas acerca da atuação dos congressistas evitariam,
certamente, a inação dos nossos deputados e senadores e levariam
esses parlamentares a mostrar um pouco mais de serviço, maior
empenho na solução dos grandes problemas nacionais.
O plano de ação do governo
Itamar Franco, baseado em dez projetos e quatro medidas provisórias,
apenas começou a sair do papel agora, com mais de um mês após a
sua divulgação. Mesmo assim, foram aprovadas, por voto de
liderança, somente as medidas provisórias. Aquelas em torno das
quais não há muita controvérsia e que, portanto, não provocam
riscos na erosão da imagem dos parlamentares.
O papel dos congressistas,
contudo, não é o de apenas aprovar propostas populares, que rendam
dividendos em votos. Sabe-se que, geralmente, os remédios mais
eficazes são os amargos, os difíceis de engolir. Se o País
pretende, de fato, empreender uma campanha pela ética, pelo respeito
às normas, pela moralidade em todos os níveis da vida nacional,
terá de batalhar por uma ampla reforma política. E não apenas na
questão da proporcionalidade das vagas estaduais, da lei eleitoral e
das normas para criação e funcionamento de partidos, que são
pontos consensuais acerca dessas mudanças.
O que precisa ser mudado, com
a maior urgência, é o enfoque dos homens públicos acerca da
natureza dessa atividade parlamentar. Ou seja, a reforma que se impõe
é, sobretudo, de mentalidade.
O editorial do jornal “O
Estado de São Paulo” do dia 28 passado destaca, em sua abertura:
“Dois tipos de males afetam a vida política brasileira e podem
conduzir o País a situações delicadas: um, o prisma estreito pelo
qual se veem os problemas nacionais, outro, a incapacidade de as
lideranças partidárias assumirem o risco de colocar assuntos
controversos em votação no Congresso”.
A impressão que os deputados
e senadores nos passam é a de que ainda não entenderam a gravidade
da crise que o País atravessa. Suas declarações à imprensa, seus
pronunciamentos na tribuna da Câmara e do Senado e, principalmente,
suas atitudes deixam implícita uma alienação assustadora acerca do
caos social brasileiro.
Tudo acaba sendo transformado
numa espécie de jogo ideológico, do “nós” contra “eles”,
da situação contra a oposição, quando o seu dever é procurar os
melhores caminhos não para os grupos dos quais procedem, ou para
beneficiar esta ou aquela categoria, mas legislar para o Brasil.
Se os projetos enviados pelo
Executivo são imperfeitos, a obrigação dos congressistas é a de
aperfeiçoá-los. Se não se adequam às necessidades do País, que
sejam derrubadas. Caso sejam, contudo, indispensáveis, tecnicamente
corretos e socialmente justos, é obrigação dos nossos
representantes aprová-los, sejam ou não populares, pois os
parlamentares foram eleitos exatamente para isso.
O que não faz sentido, é
privar o governo de instrumentos legais imprescindíveis para a
administração dos problemas nacionais apenas porque o presidente é
antipático a este ou aquele partido ou preteriu determinada
agremiação no verdadeiro loteamento em que se transformou a
distribuição dos ministérios.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 30 de maio de 1993).
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