Críticas tardias
Pedro J. Bondaczuk
A Secretaria Municipal de
Cultura volta ao palco das discussões internas do PT através de um
documento de oito páginas datilografadas da autoria do secretário
de Governo da Prefeitura, Célio Turino, um petista sem qualquer
suspeita. No centro desse documento, críticas ao desempenho da
Secretaria da Cultura, personificada no seu representante maior, o
secretário Marco Aurélio Garcia.
A novela sobre a ausência de
uma política cultural que fundamente a ação da secretaria não é
recente. As dúvidas e ataques entre os vários grupos de
profissionais e diletantes da cultura são conhecidos há vários
meses. As críticas decorrentes do vazio na área cultural da cidade
--- que queira-se ou não, exige do Poder Público sua presença para
estimular as atividades culturais --- encontram uma síntese no
documento assinado por Célio Turino. A iniciativa do secretário de
Governo em destinar suas críticas ao conhecimento do secretário da
Administração Municipal, é do conhecimento do prefeito Jacó
Bittar.
Hoje, como salienta o
documento, a Secretaria da Cultura apresenta uma infraestrutura no
setor de promoção cultural e divulgação melhor que em épocas
passadas. Mas a inoperância só não é maior talvez porque seus
responsáveis desconhecem os elementos básicos que devem compor uma
secretaria desse tipo. E muito menos devem saber sobre suas funções
na comunidade.
Ocorre que as críticas
vazadas somente agora e noticiadas com exclusividade por este
Correio, vêm tarde. O secretário de Governo conhece desde o ano
passado o painel construído pelo secretário Marco Aurélio Garcia
que se mantém em seu cargo única e exclusivamente por ser filiado
ao PT e não ter encontrado uma vontade mais vigorosa do prefeito
Jacó Bittar para exonerá-lo. Isso porque, em outras ocasiões, o
prefeito, mesmo após vacilar frente às pressões da militância
petista, conseguiu expurgar alguns assessores que liam em cartilhas
diferentes da sua.
O episódio expõe mais uma
vez a administração do PT ao descrédito. Se o secretário de
Governo tem esse cargo é porque tem uma ligação direta e de
extrema confiança com o prefeito. Por isso deve mantê-lo informado
sobre o que ocorre na Secretaria da Cultura. Assim, caberia ao
prefeito tomar providências exigindo de seu secretário Marco
Aurélio Garcia reorientação nos trabalhos daquele setor.
O texto assinado por Célio
Turino poderia ser escrito por qualquer outro cidadão envolvido na
área cultural da cidade, dada sua linguagem sintética e
desideologizada. Porém, o secretário de Governo comete um deslize
que o remete a uma conivência com o mau desempenho da Secretaria da
Cultura ao afirmar que "a crise se gestou antes mesmo da posse
do prefeito Jacó Bittar" e revela uma incapacidade de "leitura
da cidade". Se a crise está aí desde então, deve ter-se
aprofundado pela inoperância daquela área. Assim, caberia ao
gabinete do quarto andar determinar, politicamente, mudanças de
rumo, o que deixou de fazer. Já em relação à "incapacidade
de leitura" da cidade sobre esse estado da administração da
cultura, pode-se observar que talvez isso ocorra exatamente pela
ausência de informações mais transparentes daquela secretaria que
prefere enxergar a si própria encastelada numa torre de marfim.
(Editorial publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 27 de abril de 1990)
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