Tuesday, January 30, 2018


Críticas tardias

Pedro J. Bondaczuk

A Secretaria Municipal de Cultura volta ao palco das discussões internas do PT através de um documento de oito páginas datilografadas da autoria do secretário de Governo da Prefeitura, Célio Turino, um petista sem qualquer suspeita. No centro desse documento, críticas ao desempenho da Secretaria da Cultura, personificada no seu representante maior, o secretário Marco Aurélio Garcia.

A novela sobre a ausência de uma política cultural que fundamente a ação da secretaria não é recente. As dúvidas e ataques entre os vários grupos de profissionais e diletantes da cultura são conhecidos há vários meses. As críticas decorrentes do vazio na área cultural da cidade --- que queira-se ou não, exige do Poder Público sua presença para estimular as atividades culturais --- encontram uma síntese no documento assinado por Célio Turino. A iniciativa do secretário de Governo em destinar suas críticas ao conhecimento do secretário da Administração Municipal, é do conhecimento do prefeito Jacó Bittar.

Hoje, como salienta o documento, a Secretaria da Cultura apresenta uma infraestrutura no setor de promoção cultural e divulgação melhor que em épocas passadas. Mas a inoperância só não é maior talvez porque seus responsáveis desconhecem os elementos básicos que devem compor uma secretaria desse tipo. E muito menos devem saber sobre suas funções na comunidade.

Ocorre que as críticas vazadas somente agora e noticiadas com exclusividade por este Correio, vêm tarde. O secretário de Governo conhece desde o ano passado o painel construído pelo secretário Marco Aurélio Garcia que se mantém em seu cargo única e exclusivamente por ser filiado ao PT e não ter encontrado uma vontade mais vigorosa do prefeito Jacó Bittar para exonerá-lo. Isso porque, em outras ocasiões, o prefeito, mesmo após vacilar frente às pressões da militância petista, conseguiu expurgar alguns assessores que liam em cartilhas diferentes da sua.

O episódio expõe mais uma vez a administração do PT ao descrédito. Se o secretário de Governo tem esse cargo é porque tem uma ligação direta e de extrema confiança com o prefeito. Por isso deve mantê-lo informado sobre o que ocorre na Secretaria da Cultura. Assim, caberia ao prefeito tomar providências exigindo de seu secretário Marco Aurélio Garcia reorientação nos trabalhos daquele setor.

O texto assinado por Célio Turino poderia ser escrito por qualquer outro cidadão envolvido na área cultural da cidade, dada sua linguagem sintética e desideologizada. Porém, o secretário de Governo comete um deslize que o remete a uma conivência com o mau desempenho da Secretaria da Cultura ao afirmar que "a crise se gestou antes mesmo da posse do prefeito Jacó Bittar" e revela uma incapacidade de "leitura da cidade". Se a crise está aí desde então, deve ter-se aprofundado pela inoperância daquela área. Assim, caberia ao gabinete do quarto andar determinar, politicamente, mudanças de rumo, o que deixou de fazer. Já em relação à "incapacidade de leitura" da cidade sobre esse estado da administração da cultura, pode-se observar que talvez isso ocorra exatamente pela ausência de informações mais transparentes daquela secretaria que prefere enxergar a si própria encastelada numa torre de marfim.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 27 de abril de 1990)

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