Revolução da cidadania
Pedro J. Bondaczuk
O ministro da Cultura,
Jerônimo Moscardo, está lançando a idéia de que se faça no País
o que denominou de “Revolução da Cidadania”. Explicou que o
movimento consistiria num processo de conscientização tendente a
mudar a mentalidade e o comportamento do povo brasileiro, com a
finalidade de tirar o Brasil da crise moral que atravessa neste
momento. Ressaltou que atualmente o que prevalece é a “lei” onde
todos querem levar vantagem em tudo, atribuída (erroneamente) ao
ex-jogador de futebol e atual comentarista esportivo Gerson Nunes,
que fez, há alguns anos, um comercial de marca de cigarro que tinha
esse slogan.
Resta saber a qual dos Brasis
Moscardo está se referindo, já que hoje, repetindo afirmação do
senador Roberto Campos, vivemos, de fato, na Belíndia. Ou seja, num
país em que convivem, no mesmo território, mas com realidades
absolutamente diversas, uma Bélgica, industrializada e na era do
consumo em massa, e uma Índia, superpopulosa, atrasada e faminta.
Antes de qualquer “Revolução
da Cidadania”, é preciso uma integração entre esses dois
extremos. Os componentes desse grupo desenvolvido e, na maioria das
vezes, perdulário, têm que se sentir responsáveis pelo enorme
contingente que integra a parcela miserável do Brasil.
Essa homogenização, diga-se,
apenas será possível através da cultura, em seu sentido mais
amplo. Ou seja, pelo cultivo das melhores características atribuídas
aos brasileiros, tais como a cordialidade, a alegria, a
solidariedade, o espírito crítico revelado com bom humor e,
especialmente, a criatividade.
Aliás, esse também é o
caminho indicado por Moscardo para a Revolução da Cidadania. E
deveria ser a bandeira da elite intelectual do País. Não há outra
forma para o Brasil sair da crise. “A cultura é que vai ajudar a
economia”, ressaltou o ministro.
A parte Bélgica da Belíndia,
aos poucos está se conscientizando de suas responsabilidades. As
várias campanhas para arrecadar alimentos destinados aos famintos
são uma prova disso. Mas ainda é pouco. É preciso mudar a
mentalidade, ensinar o homem faminto a pescar, ao invés de lhe dar
peixes. E, sobretudo, garantir a pesca, ou seja, proporcionar-lhe
emprego.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 23 de novembro de 1993)
No comments:
Post a Comment