Monday, January 29, 2018


Revolução da cidadania



Pedro J. Bondaczuk


O ministro da Cultura, Jerônimo Moscardo, está lançando a idéia de que se faça no País o que denominou de “Revolução da Cidadania”. Explicou que o movimento consistiria num processo de conscientização tendente a mudar a mentalidade e o comportamento do povo brasileiro, com a finalidade de tirar o Brasil da crise moral que atravessa neste momento. Ressaltou que atualmente o que prevalece é a “lei” onde todos querem levar vantagem em tudo, atribuída (erroneamente) ao ex-jogador de futebol e atual comentarista esportivo Gerson Nunes, que fez, há alguns anos, um comercial de marca de cigarro que tinha esse slogan.

Resta saber a qual dos Brasis Moscardo está se referindo, já que hoje, repetindo afirmação do senador Roberto Campos, vivemos, de fato, na Belíndia. Ou seja, num país em que convivem, no mesmo território, mas com realidades absolutamente diversas, uma Bélgica, industrializada e na era do consumo em massa, e uma Índia, superpopulosa, atrasada e faminta.

Antes de qualquer “Revolução da Cidadania”, é preciso uma integração entre esses dois extremos. Os componentes desse grupo desenvolvido e, na maioria das vezes, perdulário, têm que se sentir responsáveis pelo enorme contingente que integra a parcela miserável do Brasil.

Essa homogenização, diga-se, apenas será possível através da cultura, em seu sentido mais amplo. Ou seja, pelo cultivo das melhores características atribuídas aos brasileiros, tais como a cordialidade, a alegria, a solidariedade, o espírito crítico revelado com bom humor e, especialmente, a criatividade.

Aliás, esse também é o caminho indicado por Moscardo para a Revolução da Cidadania. E deveria ser a bandeira da elite intelectual do País. Não há outra forma para o Brasil sair da crise. “A cultura é que vai ajudar a economia”, ressaltou o ministro.

A parte Bélgica da Belíndia, aos poucos está se conscientizando de suas responsabilidades. As várias campanhas para arrecadar alimentos destinados aos famintos são uma prova disso. Mas ainda é pouco. É preciso mudar a mentalidade, ensinar o homem faminto a pescar, ao invés de lhe dar peixes. E, sobretudo, garantir a pesca, ou seja, proporcionar-lhe emprego.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 23 de novembro de 1993)

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