A maior descoberta
Pedro J. Bondaczuk
A
vida pode ser comparada a uma escola, na qual jamais nos graduamos.
Quanto mais aprendemos, mais temos a aprender, num aprendizado que
nunca tem fim, vivamos o quanto vivermos: vinte, cinquenta, oitenta
ou cem anos. Nossas primeiras lições – aparentemente triviais,
mas indispensáveis à sobrevivência – consistem em aprendermos a
nos alimentar, sugando, corretamente, o seio da mãe; a erguer
sozinhos a cabeça; a sentar; a engatinhar e, finalmente, a andar.
Às
vezes, esse aprendizado é traumático e doloroso. Outras tantas, é
envolvido em estimulantes prazeres. Mas sempre aprendemos, queiramos
ou não, do berço à tumba. E quando morremos, deixamos infinitas
lições para trás que, caso continuássemos vivendo, certamente
aprenderíamos. Somos, pois, perpétuos estudantes nessa escola
informal.
Todavia,
o mais importante acontecimento da nossa vida é quando nos
conscientizamos do nosso “eu”. É somente a partir daí que
começamos a exercitar, de fato, nossa racionalidade. Claro que as
consequências dessa lição fundamental nunca são iguais para
todos. Alguns, ficam felizes por adquirirem a capacidade de entender
e usufruir da beleza que os cerca. Outros, porém, decepcionam-se com
a descoberta de que não passam de animais, posto que racionais e que
o mundo não é o paraíso que esperavam.
Uns,
descobrem talentos que jamais supunham que tinham e os exercitam,
para deleite pessoal e engrandecimento do mundo. Outros,
conscientizam-se de deficiências, de taras congênitas e de segredos
sobre si próprios que melhor seria que permanecessem interditos.
São,
pois, lições e mais lições aprendidas, algumas (como vimos) de
forma dolorosa e traumática, representada pelas consequências de
erros cometidos; outras sublimes e magníficas, decorrentes da
convivência com pessoas nobres e construtivas ou de experiências
inesquecíveis que as circunstâncias colocam em seus caminhos.
Além
desse permanente aprendizado, dessa sucessão de descobertas (ou em
decorrência delas) colecionamos, vida afora, imagens, sons, ideias,
conceitos, valores etc. Essa coleção é feita, em geral, de forma
inconsciente, à nossa revelia. Daí a necessidade de nos brindarmos
o tempo todo com paisagens magníficas, com a convivência com
pessoas nobres, bonitas e exemplares; com conversas sadias e leituras
edificantes, entre outras tantas experiências ao nosso alcance.
Claro
que nem sempre temos como fugir do oposto. Ou seja, de cenários
sombrios e apavorantes, de gente horrorosa e perversa, de diálogos
chulos, tensos ou banais e de livros que melhor seria que jamais
houvessem sido escritos. Isso também se fixa em algum lugar do
subconsciente e pode emergir, quando menos esperarmos, para nos
atormentar ou aterrorizar.
Reitero
que há cenas bucólicas, aparentemente banais, em geral bastante
simples, que sem que nos apercebamos, ficam gravadas para sempre em
nossa memória e que, quando as lembramos, o fazemos com deleite e
satisfação. Essas paisagens; essas pessoas bonitas e bondosas;
esses atos de nobreza e solidariedade; esses acontecimentos marcantes
dos quais participamos – como personagens, ou meros espectadores –
formam uma espécie de álbum de imagens, como esses tantos de
fotografias que costumamos guardar e, de vez em quando, exibir para
os filhos e para os netos.
São
lembranças que se juntam, uma a uma, sem cessar, ao longo dos dias,
semanas, meses e anos, ao nosso acervo espiritual e nos inspiram,
enternecem e consolam notadamente em momentos de tristeza e solidão.
É
um privilégio podermos ler, por exemplo, versos singelos, de uma
beleza que chega a doer de tão intensa, como estes dois tercetos do
soneto “Recreio”, do poeta português Alberto de Serpa:
“Na
claridade da manhã primaveril,
ao
lado da brancura lavada da escola,
as
crianças confraternizam-se com a alegria das aves.
E
o sol abre-lhes rosas nas faces saudáveis
a
mão doce do vento afaga-lhes os cabelos,
-
um sol discreto que se esconde às vezes entre nuvens brancas”.
Concordo,
pois, com Leon Tolstoi (escritor que tem lugar cativo no meu “álbum
de lembranças” pessoal) quando afirma: “O mais importante
acontecimento da vida de um homem é o momento em que se torna
consciente do seu eu. As consequências disto podem ser as mais
benéficas ou as mais terríveis”. Os riscos, desta transcendental
descoberta, porém, valem, sempre, a pena correr.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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