Beleza e transcendência
Pedro J. Bondaczuk
A
cada dia que passa, torna-se mais difícil passarmos às novas
gerações princípios de grandeza, beleza, transcendência e
sabedoria. Isso será impossível, claro, se não os tivermos. Os
jovens não se convencem apenas com palavras, por mais requintadas
que sejam. Por isso, é muito importante que tenhamos a capacidade de
trazê-los para o terreno abstrato, mas racional, das ideias e dos
valores. Todavia, tendo sempre em mente que eles detestam sermões e
ridicularizam posturas falsamente moralistas.
Devemos,
isto sim, conduzi-los sem que sequer percebam, com inteligência e
respeito, mediante o expediente da sugestão. O caminho é
mostrar-lhes a beleza e a transcendência da natureza, e o poder das
grandes ideias, aquelas que, de fato, movem o mundo. Diálogo, é o
segredo. Diálogo paciente, constante e inteligente.
“A
beleza está em toda parte. E talvez em cada momento de nossas
vidas”. Esta constatação foi feita por Jorge Luís Borges, que
mesmo depois de acometido de cegueira, a vislumbrava, “com os olhos
da alma”, em todo o instante e lugar. Como? Através da imaginação,
capacidade ímpar, da qual todos somos dotados, e que tende a tornar
belos situações e lugares horrorosos. Para tanto, porém, temos que
estar predispostos para o que é bom e o que é belo.
Precisamos
adotar atitudes positivas face à vida, por piores que sejam as
circunstâncias e as pessoas que nos rodeiem. Quando nos limitamos a
temer as coisas más, sem coragem para enfrentá-las e tentar
modificá-las, na verdade as potencializamos, em nossa imaginação,
e as tornamos maiores do que de fato são. O antídoto para isso é
buscar, incansavelmente, a beleza que está por toda a parte,
principalmente dentro de nós, e que se faz presente em cada momento
de nossas vidas.
Gosto
dos idealistas. Admiro as pessoas de coração puro. Busco imitar os
que nunca se omitem e aqueles que jamais se deixam abater pelo
desânimo e pelo derrotismo, mesmo nas piores e mais dramáticas
circunstâncias da vida. Procuro acalentar esse ideal de
solidariedade, grandeza de espírito e justiça, e tentar realizá-lo
– a despeito da minha insignificância e dele parecer, cada vez
mais, à medida que o tempo passa, utópico e irrealizável.
Estamos
inseridos num universo de dimensão tão gigantesca, do qual não
passamos de ínfima partícula (praticamente nula diante de tamanha
grandiosidade), que quanto mais buscamos racionalizar, mais e mais
mergulhamos no mistério. O entendimento do que somos, de onde viemos
e para onde vamos só faz algum sentido com o recurso da fé. Não há
como tentar explicar o que nos cerca, sem o conceito de uma
inteligência superior, que organiza e faz funcionar, como um
perfeito relógio, essa monumental estrutura.
Os
grandes luminares da sabedoria e do bom-senso sempre consideraram o
mal um dos grandes mistérios do comportamento humano. Além das
conseqüências funestas que ele sempre traz para os que o praticam –
e para as suas vítimas, claro – exige muito mais esforço do que a
prática do seu oposto, o bem. A solidariedade, por exemplo, além de
mais nobre, é muito mais prazerosa do que o egoísmo. O mesmo vale
para o amor, em relação ao ódio. E a tantos e tantos outros
sentimentos e comportamentos.
No
entanto, a despeito disso, muitas e muitas pessoas (talvez a maioria
das que estão vivas ou que já viveram) preferem (ou preferiram)
apostar na maldade, mesmo sabendo (ou pelo menos intuindo) que vão
(ou que iriam) pagar um preço muito alto por essa escolha.. Se tudo
isso é verdade, e a experiência prova que é, por que tanta gente
ainda opta pelo mal? Mistério! Eu não entendo essa opção. Você a
entende?
Minha
esperança é como a daquele personagem de Machado de Assis, que
previa uma incrível era de felicidade na Terra e que assegurava: “Os
tempos serão retificados. O mal acabará; os ventos não espalharão
mais, nem os germes da morte, nem o clamor dos oprimidos, mas tão
somente a cantiga do amor perene e a bênção da universal justiça”.
Este é um ideal, convenhamos, tão transcendente, que vale a pena
viver e, se preciso, até mesmo morrer por ele, para que os que
amamos gozem, finalmente, das suas benesses.
Em
decorrência da nossa finitude e efemeridade, tudo, debaixo do sol,
torna-se feio, banal, passageiro, pequeno e mesquinho, desde o amor
até a nossa ânsia pelo sucesso, pela fortuna, pela sobrevivência
das nossas obras após a nossa morte e, principalmente pela fugaz
notoriedade. São banalidades... Nada mais do que banalidades…
Desafortunadamente,
porém, o mal, a miséria, a loucura, a corrupção, as guerras, a
violência urbana, a desagregação da família, as utopias, os
sistemas, as organizações, os governos, tudo se tornou, também,
perigosamente banal. Apenas a vida, plenamente vivida, é importante
e não comporta banalidades. É a única a fazer algum sentido. Ainda
bem! Vivamos, pois, plenamente, enquanto tivermos oportunidade para
tal! Mas com beleza e transcendência, que é como vale a pena viver.
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