Tuesday, January 23, 2018

Beleza e transcendência


Pedro J. Bondaczuk


A cada dia que passa, torna-se mais difícil passarmos às novas gerações princípios de grandeza, beleza, transcendência e sabedoria. Isso será impossível, claro, se não os tivermos. Os jovens não se convencem apenas com palavras, por mais requintadas que sejam. Por isso, é muito importante que tenhamos a capacidade de trazê-los para o terreno abstrato, mas racional, das ideias e dos valores. Todavia, tendo sempre em mente que eles detestam sermões e ridicularizam posturas falsamente moralistas.

Devemos, isto sim, conduzi-los sem que sequer percebam, com inteligência e respeito, mediante o expediente da sugestão. O caminho é mostrar-lhes a beleza e a transcendência da natureza, e o poder das grandes ideias, aquelas que, de fato, movem o mundo. Diálogo, é o segredo. Diálogo paciente, constante e inteligente.

“A beleza está em toda parte. E talvez em cada momento de nossas vidas”. Esta constatação foi feita por Jorge Luís Borges, que mesmo depois de acometido de cegueira, a vislumbrava, “com os olhos da alma”, em todo o instante e lugar. Como? Através da imaginação, capacidade ímpar, da qual todos somos dotados, e que tende a tornar belos situações e lugares horrorosos. Para tanto, porém, temos que estar predispostos para o que é bom e o que é belo.

Precisamos adotar atitudes positivas face à vida, por piores que sejam as circunstâncias e as pessoas que nos rodeiem. Quando nos limitamos a temer as coisas más, sem coragem para enfrentá-las e tentar modificá-las, na verdade as potencializamos, em nossa imaginação, e as tornamos maiores do que de fato são. O antídoto para isso é buscar, incansavelmente, a beleza que está por toda a parte, principalmente dentro de nós, e que se faz presente em cada momento de nossas vidas.

Gosto dos idealistas. Admiro as pessoas de coração puro. Busco imitar os que nunca se omitem e aqueles que jamais se deixam abater pelo desânimo e pelo derrotismo, mesmo nas piores e mais dramáticas circunstâncias da vida. Procuro acalentar esse ideal de solidariedade, grandeza de espírito e justiça, e tentar realizá-lo – a despeito da minha insignificância e dele parecer, cada vez mais, à medida que o tempo passa, utópico e irrealizável.

Estamos inseridos num universo de dimensão tão gigantesca, do qual não passamos de ínfima partícula (praticamente nula diante de tamanha grandiosidade), que quanto mais buscamos racionalizar, mais e mais mergulhamos no mistério. O entendimento do que somos, de onde viemos e para onde vamos só faz algum sentido com o recurso da fé. Não há como tentar explicar o que nos cerca, sem o conceito de uma inteligência superior, que organiza e faz funcionar, como um perfeito relógio, essa monumental estrutura.

Os grandes luminares da sabedoria e do bom-senso sempre consideraram o mal um dos grandes mistérios do comportamento humano. Além das conseqüências funestas que ele sempre traz para os que o praticam – e para as suas vítimas, claro – exige muito mais esforço do que a prática do seu oposto, o bem. A solidariedade, por exemplo, além de mais nobre, é muito mais prazerosa do que o egoísmo. O mesmo vale para o amor, em relação ao ódio. E a tantos e tantos outros sentimentos e comportamentos.

No entanto, a despeito disso, muitas e muitas pessoas (talvez a maioria das que estão vivas ou que já viveram) preferem (ou preferiram) apostar na maldade, mesmo sabendo (ou pelo menos intuindo) que vão (ou que iriam) pagar um preço muito alto por essa escolha.. Se tudo isso é verdade, e a experiência prova que é, por que tanta gente ainda opta pelo mal? Mistério! Eu não entendo essa opção. Você a entende?

Minha esperança é como a daquele personagem de Machado de Assis, que previa uma incrível era de felicidade na Terra e que assegurava: “Os tempos serão retificados. O mal acabará; os ventos não espalharão mais, nem os germes da morte, nem o clamor dos oprimidos, mas tão somente a cantiga do amor perene e a bênção da universal justiça”. Este é um ideal, convenhamos, tão transcendente, que vale a pena viver e, se preciso, até mesmo morrer por ele, para que os que amamos gozem, finalmente, das suas benesses.

Em decorrência da nossa finitude e efemeridade, tudo, debaixo do sol, torna-se feio, banal, passageiro, pequeno e mesquinho, desde o amor até a nossa ânsia pelo sucesso, pela fortuna, pela sobrevivência das nossas obras após a nossa morte e, principalmente pela fugaz notoriedade. São banalidades... Nada mais do que banalidades…

Desafortunadamente, porém, o mal, a miséria, a loucura, a corrupção, as guerras, a violência urbana, a desagregação da família, as utopias, os sistemas, as organizações, os governos, tudo se tornou, também, perigosamente banal. Apenas a vida, plenamente vivida, é importante e não comporta banalidades. É a única a fazer algum sentido. Ainda bem! Vivamos, pois, plenamente, enquanto tivermos oportunidade para tal! Mas com beleza e transcendência, que é como vale a pena viver.


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