Wednesday, January 31, 2018


SAGRADO DIREITO DA LIVRE EXPRESSÃO

A atividade artística, notadamente a literária, tem, como premissa fundamental, a liberdade de expressão. Não comporta, pois, direcionamentos de temas, pautas, censuras e nada que atrapalhe, ou impeça, o escritor de expressar o que pretenda em seus textos com a máxima fidelidade e clareza. Arte e Moral são compartimentos distintos e nunca (ou raramente) andam juntos. O único juiz, implacável e exclusivo, o que decide de fato o sucesso ou o fracasso de quem se aventure neste campo é, e sempre deve ser, o leitor. Apenas a ele cabe julgar o que acha bom ou o que entende que seja ruim, deficiente, mal escrito e mal expresso. Afinal, é ele que compra livros e movimenta a vasta indústria editorial. A única censura pertinente é a do próprio escritor. Este precisa contar, sobretudo, com bom-senso na escolha do que e de como irá escrever, para não cair, eventualmente, em ridículo publicamente. Compete-lhe escolher livremente o tema que queira abordar, a forma de explanação e a linguagem a utilizar, de conformidade com o seu estilo e de acordo com o grau cultural do segmento a que seu texto se destine. Mas precisa estar ciente de que será, sempre e sempre, julgado pelo leitor. Em caso de agradá-lo, será premiado com a sua fidelidade. Se não...

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CITAÇÃO DO DIA:

Afetos essenciais 
O amor que professamos à família e à casa, a fidelidade aos amigos e correligionários, a lealdade a nosso partido e à nossa pátria são afetos que vêm do começo, reiterações e variações da situação primeira. São a marca de nossa condição original, que não é simples, mas dual, composta de dois termos antagônicos e inseparáveis: fusão e desmembramento. Esse é o princípio constitutivo de cada vida humana e o núcleo de todas as nossas paixões, sentimentos e ações. É um princípio anterior à consciência e à razão, mas é, por isso mesmo, a origem de ambas. Entre sentir-se e saber-se separado há a consciência de nós mesmos: todos damos esse passo e assim chegamos à consciência de nós mesmos.
(Octávio Paz).


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Revolução sem barricadas



Pedro J. Bondaczuk


O mundo atravessa um período de mudanças tão profundas, que se pode caracterizar o processo como uma revolução sem barricadas. O Leste Europeu, por exemplo, caiu em si para a realidade e percebeu que “socializar a miséria” não é um objetivo dos mais inteligentes.

Até mesmo uma União Soviética, não faz muito exportadora de estatização de tudo o que se possa pensar, desde os meios de produção à própria criatividade (como se isso fosse possível), deve dar, nesta semana, um passo decisivo rumo à economia de mercado. Optou pelo caminho lógico de premiar o mais capaz e produtivo.

Polônia, Hungria e Checoslováquia, para não mencionar a Alemanha Oriental (que a partir de 3 de outubro próximo simplesmente desaparecerá como país para voltar a integrar um Estado germânico uno, forte e indivisível), já estão trilhando essa dura estrada, passando, evidentemente, por sacrifícios enormes, na tentativa de recuperar, o mais breve possível, um longo tempo perdido.

As mudanças em andamento são tão abrangentes e profundas, que o vice-diretor de Planejamento Político do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Francis Fukuyama, lançou a teoria de que o mundo atravessa o “fim da História”.

Talvez a definição não seja das mais felizes e a era seja, na verdade, o fecho de um período histórico, somente. Suas ideias, aliás, vêm sendo objeto de intensa discussão, tendo gerado uma infinidade de análises que, convenhamos, não levaram, igualmente, a lugar algum.

Talvez o teórico, de origem japonesa, quisesse expressar o mesmo que o poeta francês Paul Valéry constatou, em suas “Cartas sobre a crise do espírito”, ao escrever: “A dificuldade de reconstruir o passado, mesmo o mais recente, é inteiramente comparável à dificuldade de construir o futuro, mesmo o mais próximo, ou melhor, é a mesma dificuldade. O profeta está no mesmo saco que o historiador. Deixemo-los aí”.

Até porque, os tempos atuais são para homens de ação, que não se limitem a ficar esperando que as coisas melhorem sozinhas ou que os outros as tornem melhores. São daqueles que arregaçam as mangas, vão e fazem o que tem de ser feito.

Dificuldades não somos apenas nós, brasileiros, que estamos enfrentando, diante da dureza de um plano econômico que objetiva, inclusive, mudar nossa mentalidade inflacionária para outra em que a inflação (pelo menos às taxas que temos experimentado) seja coisa do passado.

O diretor do Instituto de Relações Internacionais e de Economia da Academia de Ciências da União Soviética, Igor Guriev, redescobriu a mola propulsora do progresso, ao afirmar: “Um homem sem necessidades é a maior fonte do conservadorismo. O homem com grandes necessidades é desencadeador de progresso. Porque é preciso satisfazer as necessidades crescentes”.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 18 de setembro de 1990)

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Penas ao vento

Pedro J. Bondaczuk

A mania de falar da vida dos outros é, provavelmente, tão antiga quanto o próprio homem. E em geral, fala-se mal. Poucas vezes ouvi alguém elogiando quem quer que fosse pelas costas. E não há rodinha de amigos, seja onde for (quer no Uzbequistão, Uganda, Vietnã, Equador etc. ou quer no Brasil), em que a vida de alguém não seja objeto de crítica, de mofa ou de maldosas insinuações.

É o que o povo costuma chamar de “fofoca”. Há, praticamente em todo o bairro de qualquer cidade, figuras, até lendárias, das famosas “fofoqueiras” de plantão. Isso não quer dizer, claro, que só as mulheres pratiquem esse inútil, mas tão corriqueiro “esporte”. Quando se trata de deitar falação sobre pequeninos defeitos alheios, isso nem tem maiores consequências (em geral, nenhuma). Mas quando se entra no pantanoso terreno da moral... O procedimento descamba da simples maledicência para algo gravíssimo, como a injúria, a calúnia e/ou a difamação.

Se a vítima for um pouco mais esquentada e se o que se disser dela for extremamente ofensivo, o autor (ou autores) pode ter que responder por seus atos na justiça. Ou seja, pode levar um baita de um processo judicial nas costas. Em geral, essas ações acabam não dando em nada e apenas engordando as contas bancárias dos advogados. Ainda assim, trazem enormes aborrecimentos para os réus, que poderiam ser evitados se estes resistissem à tentação de fofocar e mantivessem a boca fechada.

Noventa e nove por cento das fofocas que se fazem por aí têm um teor, diria, “sexual”. Referem-se, por exemplo, a dúvidas sobre a masculinidade da vítima (ou a existência dela, quando se trata de mulher), a insinuações sobre traições conjugais (e no caso o traído é que sempre se torna vítima de chacota, como se tivesse cometido um ato imoral, quando, na verdade, quem deveria merecer a reprovação social seria a “corneadora” e não o corno) e sobre a “galinhagem” de fulano, sicrana e ou beltrana.

Não é isso o que o leitor ouve, dezenas de vezes por dia, no trabalho, nos bares, nas filas de ônibus, do cinema, ou de consultórios ou, não raro, em sua própria casa? Claro que é! O engraçado é que o fofoqueiro nunca admite que o é. E mais, sente-se sumamente ofendido quando é chamado por essa designação. Provavelmente, sequer tem consciência de que merece plenamente esse rótulo.
A esse propósito, ouvi e li centenas de versões sobre o episódio de “Maomé e as penas”, cada qual atribuído a um autor diferente. Cito, porém, a que li mais recentemente, num artigo escrito por Clarence W. Hall (para mencionar uma fonte, já que a versão não é minha e não quero me apropriar, indevidamente, dela).

Escreve o citado jornalista norte-americano: “Quando um vizinho perguntou a Maomé como poderia penitenciar-se por haver acusado falsamente um amigo, foi aconselhado a colocar uma pena de ganso em cada porta da aldeia. No dia seguinte, Maomé disse: ‘Agora vá recolher as penas’. O homem protestou: ‘Mas isso é impossível! Ventou a noite inteira e as penas foram irremediavelmente espalhadas’. ‘Exatamente – respondeu Maomé – o mesmo aconteceu com as palavras irrefletidas que você pronunciou contra o seu vizinho’".

Isso ilustra bem os males que uma acusação falsa, ou uma simples e aparentemente inocente fofoca, causam. Ela se espalha com rapidez estonteante e, a cada nova versão, aumenta de tamanho (e de gravidade). Afinal, “quem conta um conto...”. Temos a mania de sempre aumentar o que ouvimos de alguém, quando o reproduzimos para uma outra pessoa.

A esse propósito, a atitude mais honesta que se deve tomar é a recomendada pelo escritor britânico Ronald Victor Courtney Bodley, no livro “Em busca da Serenidade”: “Cada vez que ouço uma história sensacional à custa de alguém, tento avaliar a mentalidade e os motivos de quem a conta, e deixo de levar em consideração tudo o que foi dito, ou procuro descobrir o que foi que começou a lenda. Faça também isso, antes de julgar precipitadamente o assunto da maledicência”.

O certo é agir assim, sem dúvida, mas você conhece alguém que o faça? Eu não conheço. Por mais séria que seja uma pessoa, ao ouvir alguma fofoca numa roda de amigos, jamais interrompe o fofoqueiro para defender a vítima. Está pouco se lixando quanto à verdade do que está sendo dito. Diverte-se, como todo mundo, rindo, quando a história é engraçada, e se indignando, quando o suposto ato da vítima, narrado (e aumentado, claro) por quem faz a fofoca, é digno de reprovação (caso verdadeiro, mas quase nunca é).

Abro, aqui, um parêntese para fazer ligeira observação sobre Bodley. Pela lógica, ele é que deveria ter escrito o episódio de “Maomé e as penas”. Afinal, trata-se de um especialista sobre cultura islâmica. Entre os seus livros mais conhecidos, estão “O Mensageiro – a Vida de Maomé” e “Ventos do Saara”, ambos traduzidos para o português e lançados no Brasil. Estranhamente, porém, não reproduziu essa parábola.

A mania de falar mal da vida dos outros é, portanto, não só tão velha, como o próprio homem, mas universal. Ninguém nunca conseguiu e jamais vai conseguir acabar com a fofoca. O que os fofoqueiros de plantão – da China à Suécia, dos EUA ao Afeganistão, da Argentina ao Laos etc,etc,etc. – devem, pois, é maneirar no teor das suas banais maledicências. E não se zangar quando forem as vítimas. Afinal (já que usei vários clichês usarei mais um), “quem com ferro fere....com ferro será ferido”.

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Tuesday, January 30, 2018


TRIPULANTES DA ESPAÇONAVE TERRA

Nosso potencial é grandioso e não ficamos devendo nada a ninguém, seja de que época for. Fernando Pessoa faz essa constatação nesses magníficos versos:

“Todas as épocas me pertencem um momento
todas as almas um momento tiveram seu lugar em mim”.

Mas, para agir como os heróis e santos, que tanto reverenciamos (com justiça), reitero, teremos que agir como eles. Ou seja, devemos ser desprendidos, abnegados, solidários, altruístas e corajosos. Temos que ser construtivos e justificar nossa passagem pelo mundo. Não viemos para cá á toa. A espaçonave Terra não comporta passageiros e muito menos turistas. Somos todos tripulantes e temos tarefas a cumprir. Devemos cuidar do nosso crescimento pessoal, apostar todas as nossas fichas no ser e, quanto ao ter, buscar apenas o indispensável para uma vida digna e civilizada. Afinal, viver é muito mais nobre, útil e agradável do que meramente sobreviver. E isso tem tudo a ver com o “ser” e muito pouco, ou talvez nada com o “ter”.

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CITAÇÃO DO DIA:

Paixão é liberdade 

Ao apaixonado, costuma-se conferir folgada autonomia, com respeito às inúmeras contingências que limitam a condição humana. Ao sopro da paixão, viaja ele pelos espaços infinitos, "capaz de ouvir e de entender as estrelas" e demais substantivos celestes. A paixão – tanto quanto a fé – remove montanhas. Ela é capaz de operar milagres e, nesta medida, testemunha, de maneira irrefutável, da existência deles. A paixão é a derrota da burocracia, o subjugamento da mesmice, a superação da rotina. Ela é voo, liberdade, transporte, êxtase.

(Hélio Pellegrino, crônica "Apologia da dor de dente", publicada na Folha de S. Paulo em 26 de junho de 1983 e reproduzida no livro "Figuras do Brasil - 80 autores em 80 anos de Folha").


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Críticas tardias

Pedro J. Bondaczuk

A Secretaria Municipal de Cultura volta ao palco das discussões internas do PT através de um documento de oito páginas datilografadas da autoria do secretário de Governo da Prefeitura, Célio Turino, um petista sem qualquer suspeita. No centro desse documento, críticas ao desempenho da Secretaria da Cultura, personificada no seu representante maior, o secretário Marco Aurélio Garcia.

A novela sobre a ausência de uma política cultural que fundamente a ação da secretaria não é recente. As dúvidas e ataques entre os vários grupos de profissionais e diletantes da cultura são conhecidos há vários meses. As críticas decorrentes do vazio na área cultural da cidade --- que queira-se ou não, exige do Poder Público sua presença para estimular as atividades culturais --- encontram uma síntese no documento assinado por Célio Turino. A iniciativa do secretário de Governo em destinar suas críticas ao conhecimento do secretário da Administração Municipal, é do conhecimento do prefeito Jacó Bittar.

Hoje, como salienta o documento, a Secretaria da Cultura apresenta uma infraestrutura no setor de promoção cultural e divulgação melhor que em épocas passadas. Mas a inoperância só não é maior talvez porque seus responsáveis desconhecem os elementos básicos que devem compor uma secretaria desse tipo. E muito menos devem saber sobre suas funções na comunidade.

Ocorre que as críticas vazadas somente agora e noticiadas com exclusividade por este Correio, vêm tarde. O secretário de Governo conhece desde o ano passado o painel construído pelo secretário Marco Aurélio Garcia que se mantém em seu cargo única e exclusivamente por ser filiado ao PT e não ter encontrado uma vontade mais vigorosa do prefeito Jacó Bittar para exonerá-lo. Isso porque, em outras ocasiões, o prefeito, mesmo após vacilar frente às pressões da militância petista, conseguiu expurgar alguns assessores que liam em cartilhas diferentes da sua.

O episódio expõe mais uma vez a administração do PT ao descrédito. Se o secretário de Governo tem esse cargo é porque tem uma ligação direta e de extrema confiança com o prefeito. Por isso deve mantê-lo informado sobre o que ocorre na Secretaria da Cultura. Assim, caberia ao prefeito tomar providências exigindo de seu secretário Marco Aurélio Garcia reorientação nos trabalhos daquele setor.

O texto assinado por Célio Turino poderia ser escrito por qualquer outro cidadão envolvido na área cultural da cidade, dada sua linguagem sintética e desideologizada. Porém, o secretário de Governo comete um deslize que o remete a uma conivência com o mau desempenho da Secretaria da Cultura ao afirmar que "a crise se gestou antes mesmo da posse do prefeito Jacó Bittar" e revela uma incapacidade de "leitura da cidade". Se a crise está aí desde então, deve ter-se aprofundado pela inoperância daquela área. Assim, caberia ao gabinete do quarto andar determinar, politicamente, mudanças de rumo, o que deixou de fazer. Já em relação à "incapacidade de leitura" da cidade sobre esse estado da administração da cultura, pode-se observar que talvez isso ocorra exatamente pela ausência de informações mais transparentes daquela secretaria que prefere enxergar a si própria encastelada numa torre de marfim.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 27 de abril de 1990)

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Sonhos de criança



Pedro J. Bondaczuk


O meu maior sonho, quando guri de apenas seis anos, recordo-me bem, era ser escritor. Fechava os olhos e via-me, nitidamente, já crescido, cercado por dezenas de pessoas ávidas por meus autógrafos. Claro que, como toda criança, era um tanto inconstante no que queria ser quando crescesse.

Às vezes, sonhava ser um cientista, um pesquisador da área médica, para descobrir remédios que curassem doenças incuráveis, como o câncer e a poliomielite. Na ocasião ainda não havia sido inventada sequer a vacina de Jonas Salk. A de Albert Sabin veio alguns anos depois.

Hoje, a pólio foi erradicada do País. Mas não do meu corpo... Essas duas fixações acompanharam-me por toda a adolescência, maturidade e ainda estão presentes, secretamente, no fundo do subconsciente. Vez por outra vêm à tona, mas cada vez mais ocasionalmente.

Cientista não consegui ser, embora seja leitor ávido de livros dessa área, em especial de medicina, curso que tive que interromper por falta de recursos. O vil metal foi o responsável pela frustração do segundo maior sonho da minha infância. O que fazer?

Quanto a ser escritor... As chances ainda existem. Talvez remotas, é verdade, mas… não abri (e nem abrirei) mão desse sonho. Vivo de textos, que representam meu ganha pão há anos. Com eles sustentei e eduquei meus filhos. E se não fiz fortuna, pelo menos consegui sobreviver graças ao talento de escrever.

Claro que não posso avaliar a qualidade do que escrevo. Sou péssimo juiz e pior ainda quando se trata de me julgar. Ora mostro um rigor excessivo, ora sou complacente em demasia, sem contar com a devida isenção para os julgamentos.

Livros já escrevi 22, embora tenha só quatro (dois de contos, um de ensaios e outro de crônicas) publicados e alguns em vias de serem lançados, à mercê de julgamento de editoras às quais volta e meia os ofereço, sem muito sucesso até aqui. Nenhum dos livros que publiquei, no entanto, é de poesias, gênero ao qual me dedico desde menininho. Mais uma vez meu sonho (e desta vez o maior deles) esbarra na falta de recursos até mesmo para bancar publicações.

Poderia, eventualmente, conseguir uma editora, mas para tanto precisaria de tempo para fazer a peregrinação típica dos escritores desconhecidos, em busca de oportunidade. Teria que ter a paciência de Jó para ouvir inúmeros "não!" e engolir as desculpas tão já conhecidas, sem que o interlocutor se dispusesse sequer a ler os originais, ou ter, simplesmente, a porta batida na cara.

Optei pelo expediente da correspondência, embora seja contestável que dê resultados. Até agora, não deu. É verdade que já publiquei textos, em uma infinidade de jornais, que se reunidos, formariam toda uma biblioteca, com dezenas de alentados volumes. Bem ou mal, portanto, comuniquei-me com o público. Com quantas pessoas, jamais saberei.

Paralelo ao sonho de ser escritor (que ainda está por se concretizar, já que não ganhei nada com os quatro livros publicados), acalentei outro, mais ousado, mais pretensioso e aparentemente irrealizável, durante a juventude: o de chegar à Academia Brasileira de Letras. É muita pretensão minha? Certamente que sim. Todavia... sonhar não paga imposto (ainda)...

Para minha surpresa, em 1992 consegui subir o primeiro degrau dessa escada íngreme e escorregadia do sucesso, que conduz à pretensa imortalidade. Faltam, porém, ainda dois e ambos, em princípio, inacessíveis. Questiono, a todo o instante, se tenho talento para conquistar leitores. Mais do que isso, se o que escrevo interessa a alguém e é útil às pessoas.

À Academia Campinense de Letras, quis o destino que eu fosse guindado, no início da década de 90. Parte do sonho, portanto, está realizada. Para chegar, porém, à Paulista (antes) e à Brasileira (numa etapa posterior) precisarei fazer mais, muito mais do que fiz até aqui (que não foi pouco), em termos de criatividade, de domínio das técnicas de redação e de bom senso.

Foram anos e mais anos de intensiva leitura, de noites insones, de cansaço, de angústias, de quilômetros de papel preenchidos com textos, de críticas muitas vezes mesquinhas e destrutivas, de inúmeras frustrações, de autodisciplina, de privação de vida social e de lazer. Enfim, de trabalho e sacrifícios, com nulas compensações. Tudo em nome de um sonho de infância que sequer sei se vale a pena. Tudo em busca de castelos de fumaça. Tudo para satisfazer um ego. Tudo para contentar meu narcisismo intelectual.

Querem um exemplo de críticos chatos, destes de que quero distância por serem sempre destrutivos, mesmo quando criticam com (digamos) “educação”? Muitos, que se julgam defensores do tal do politicamente correto, criticam-me por escrever sempre na primeira pessoa e em tantas ocasiões trazer à baila coisas estritamente pessoais. Todavia, há quem goste e que até me cobre para escrever mais e mais a meu próprio respeito. E gosto não se discute. Ademais, prestes a completar 75 anos de idade, este é o momento propício da minha vida para o resgate de memórias, mesmo admitindo que com o tempo elas perdem a precisão e se tornam quase “ficcionais”. Às favas, pois, com os pretensos defensores do “politicamente correto”!!!!

"Vanitas vanitate", diria Salomão. Estranha criatura o homem! Milan Kundera escreveu, em seu "Livro do Riso e do Esquecimento": "O orgulho do poeta não é um orgulho banal. Só o próprio poeta conhece o valor daquilo que escreve. Os outros o compreenderão muito mais tarde ou talvez nunca o compreendam. O poeta tem, portanto, o dever de ser orgulhoso. Se não fosse, trairia sua obra". Como não sou “traidor”, escrevo para o futuro e a posteridade. Mas corro o risco (real) de resvalar para o absoluto esquecimento... Que tolice a minha, não é mesmo?!

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Monday, January 29, 2018

TEMOS POTENCIAL PARA SERMOS OS SANTOS E HERÓIS QUE ADMIRAMOS… MAS… TEMOS QUE AGIR

Li, há algum tempo, esta mensagem, divulgada pelo Greenpeace, na internet, que deveria ser objeto de profunda e permanente reflexão, de preferência diária, de cada um de nós. Diz: “Quando a última árvore tiver caído, quando o último rio tiver secado, quando o último peixe for pescado, vocês vão entender que dinheiro não se come”. Citei-a aqui várias vezes, mas nunca é demais repetir. Será preciso chegarmos a tanto para salvar nosso pobre Planeta, que pede socorro, sem que ninguém ouça?! Será necessário atingir esse ponto sem retorno para que entendamos a inutilidade do ter e a necessidade do ser? Admiramos heróis e santos do passado, de épocas bastante remotas que entendemos tenham sido gloriosas e inesquecíveis. Porém, não raro, nos sentimos diminuídos face à grandeza desses mitos. Tolice! Todos temos, adormecidas, as características que levaram esses vultos às grandes realizações que os caracterizaram. Basta, apenas, que as identifiquemos e desenvolvamos. E que venhamos a agir. Eles agiram, por isso se tornaram santos e/ou heróis.

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CITAÇÃO DO DIA:

                                

                               Troca de elogios 
              Amizade é o agradável jogo de troca de elogios.
                            (Oliver Wendel Holmes, médico e escritor norte-americano).


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Revolução da cidadania



Pedro J. Bondaczuk


O ministro da Cultura, Jerônimo Moscardo, está lançando a idéia de que se faça no País o que denominou de “Revolução da Cidadania”. Explicou que o movimento consistiria num processo de conscientização tendente a mudar a mentalidade e o comportamento do povo brasileiro, com a finalidade de tirar o Brasil da crise moral que atravessa neste momento. Ressaltou que atualmente o que prevalece é a “lei” onde todos querem levar vantagem em tudo, atribuída (erroneamente) ao ex-jogador de futebol e atual comentarista esportivo Gerson Nunes, que fez, há alguns anos, um comercial de marca de cigarro que tinha esse slogan.

Resta saber a qual dos Brasis Moscardo está se referindo, já que hoje, repetindo afirmação do senador Roberto Campos, vivemos, de fato, na Belíndia. Ou seja, num país em que convivem, no mesmo território, mas com realidades absolutamente diversas, uma Bélgica, industrializada e na era do consumo em massa, e uma Índia, superpopulosa, atrasada e faminta.

Antes de qualquer “Revolução da Cidadania”, é preciso uma integração entre esses dois extremos. Os componentes desse grupo desenvolvido e, na maioria das vezes, perdulário, têm que se sentir responsáveis pelo enorme contingente que integra a parcela miserável do Brasil.

Essa homogenização, diga-se, apenas será possível através da cultura, em seu sentido mais amplo. Ou seja, pelo cultivo das melhores características atribuídas aos brasileiros, tais como a cordialidade, a alegria, a solidariedade, o espírito crítico revelado com bom humor e, especialmente, a criatividade.

Aliás, esse também é o caminho indicado por Moscardo para a Revolução da Cidadania. E deveria ser a bandeira da elite intelectual do País. Não há outra forma para o Brasil sair da crise. “A cultura é que vai ajudar a economia”, ressaltou o ministro.

A parte Bélgica da Belíndia, aos poucos está se conscientizando de suas responsabilidades. As várias campanhas para arrecadar alimentos destinados aos famintos são uma prova disso. Mas ainda é pouco. É preciso mudar a mentalidade, ensinar o homem faminto a pescar, ao invés de lhe dar peixes. E, sobretudo, garantir a pesca, ou seja, proporcionar-lhe emprego.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 23 de novembro de 1993)

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Verdade e “aparência”

Pedro J. Bondaczuk

A mentira é um apaziguador social e sem ela a vida seria um inferno”. Essa afirmação, instigante e provocativa, é o subtítulo da matéria de capa da edição nº 1.771, da revista Veja, de 2 de outubro de 2002, intitulada “Por que todos mentem?”. (Boa pergunta!). Houve, como seria de se esperar, muitas cartas de leitores, criticando ou elogiando a referida reportagem, que abordou um dos mais controvertidos e discutidos comportamentos das pessoas.

Ângela Luíza S. Bonacci, de Pindamonhangaba, no Vale do Paraíba, por exemplo, escreveu: “O mentiroso é um predador que intoxica as relações sociais, transformando-as num poço de desconfianças”. Estava certa ao fazer essa afirmação, ou apenas se limitou à retórica, a mero jogo de palavras? Como saber?! Conhece tanto do assunto, ou apenas aparentou conhecimento? Isto é, mentiu? A discussão, a respeito, tende a ser interminável, sem que se possa chegar, jamais, objetivamente, a alguma conclusão definitiva.

Desde eras remotas, os maiores pensadores da humanidade tentam identificar verdade e mentira, em vão. Outro leitor de Veja, Renato Vilela Cunha, de Ituiutaba, Minas Gerais, foi mais objetivo na abordagem do tema, posto que mais dogmático. Escreveu, para a seção “Cartas”, da revista: “A ausência da mentira só seria possível num mundo perfeito, sem guerras, traição ou qualquer outro tipo de desrespeito ao ser humano”. Verdade? Parece que sim! Mas como ter certeza?!

A propósito, lembro-me de uma citação do escritor José Américo de Almeida, autor de “A Bagaceira” (entre tantas outras obras), que li não me recordo em qual dos seus livros, e que diz: “Há muitas formas de dizer a verdade. E talvez a mais persuasiva seja a que tem a aparência de mentira”. Afinal, nem tudo o que parece, de fato é.

A citada matéria de “Veja” nos informa, ainda, que “um levantamento mostra que as pessoas ouvem duzentas mentiras por dia”. Só!!! E quantas são as que dizem? Quinhentas? Mil? Dez mil? Talvez muito mais! Ou, quem sabe, muito menos.

Ainda na qualidade de provocador, de “advogado do diabo”, com o objetivo de induzir o leitor ao raciocínio (afinal, “pensar não dói!”), cito a carta de Natália Rodrigues, de São Paulo, sobre a mesma matéria, publicada na edição posterior da revista (nº 1.772), que diz: “A verdade só existe para quem necessita de explicação para fenômenos que não compreende. Por isso, mentir é uma opção quase sempre aceitável. Pior do que aceitar a mentira como verdade é definir o que é errado sem julgar-se certo”.

Como se vê, o tema é dos mais instigantes, embora inúteis, já que jamais será possível (claro que esse “jamais” não passa de presunção da minha parte) se chegar a uma conclusão definitiva. Os que negam mentir, quase sempre são os que mais mentem. A primeira (e talvez maior) mentira que dizem é exatamente a afirmação de que nunca faltam com a verdade.

Claro que há “mentiras e mentiras”. Há aquelas inofensivas, sociais, em que as pessoas, em conversa na roda de amigos, inventam fatos que não aconteceram, para ilustrar uma conversa. Ou, então, as que não passam de exageros de acontecimentos (com ênfase para a própria ação, é claro!), ditas no afã (de quem as conta) de se mostrar superior aos interlocutores: ou em força, ou em sabedoria, ou em astúcia, ou em que se sabe lá o quê.

Há as chamadas mentiras “piedosas”, que são as ditas para poupar alguém de medo ou de sofrimento moral. Há as sutis, bem trabalhadas, detalhadas, artísticas até, com todas as características de verdade, pela verossimilhança, mas que não contêm um único elemento verdadeiro. Em contrapartida, há as deslavadas, as caricatas, as ridículas, aquelas que não seriam capazes de tapear sequer o mais bronco dos broncos dos mortais.

Há, também, a mentira criminosa, que pode valer, até, alguns anos de cadeia ao autor, além de pesada indenização pecuniária. Nesse caso, recebe outros nomes (três), de acordo com a sua natureza e intensidade: injúria, calúnia e difamação. Os tribunais brasileiros estão abarrotados de processos movidos por pessoas que se sentem injuriadas, caluniadas e difamadas e que exigem reparação àquilo que interpretam como “agressões à sua moral e à sua honra”. E nem sempre são. Enfim...

Há, finalmente, o oposto. Ou seja, há grandes verdades com toda a aparência de mentiras. Afinal, como assinala José Américo de Almeida, “ver bem não é ver tudo: é ver o que os outros não veem”. E como “se vê”, esse é um assunto não somente para uma crônica despretensiosa, como esta, mas para todo um tratado, ou uma extensa coleção de livros, talvez até de milhares de volumes a respeito.

Só que, excluindo o fato de servir de provocação para o raciocínio, se trata de um tema absolutamente inútil, do ponto de vista prático, pela completa impossibilidade de se chegar a alguma conclusão inquestionável. Afinal, objetivamente: o que é a verdade? Onde ela está (quando nos referimos ao homem, logicamente)? O que é mentira? As respostas, mesmo que não se admita, invariavelmente descambam para os clichês, quando não para monótonos blá-blá-blás.

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Sunday, January 28, 2018


A POSSE E A PERMANÊNCIA

O ter implica em posse (na verdade, transitória), que pode ser perdida a qualquer momento, ou em decorrência de doação do que possuímos, ou de irremediável avaria do bem, ou da sua perda, ou de roubo e assim por diante. O ser, por seu turno, sugere permanência, embora, admito, as pessoas possam se degradar e deixar de exercer as virtudes que exerciam (o que, diga-se de passagem, nem mesmo é raro). Não se trata de mera questão semântica, como pode parecer à primeira vista, mas é uma distinção bastante lógica e até óbvia. A absoluta maioria das pessoas vive sem saber por que e, principalmente, “para que”. Despende o melhor de sua capacidade e de suas energias, tanto físicas, quanto mentais, em busca de miragens, de fantasias, de ilusões, de bugigangas, ou seja, do que entendem como “riqueza”. Ou então, do tal do poder, que nada pode, porquanto não nos livra da decadência, velhice e morte. Raramente pensamos em nossa efemeridade, no fato de agora estarmos aqui, vivos, saudáveis e cheios de ilusões e planos e, no minuto seguinte... zás, deixarmos de viver, sem a mais remota possibilidade de retorno. Raramente nos damos conta que viemos ao mundo não para receber, mas para dar. Não para sermos servidos, mas para servir. Não para ter, mas para ser.


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CITAÇÃO DO DIA:


Dissipação de energia 
Andar com uma carga de ódio dissipa energia, bloqueia as comunicações. 
(Norman Vincent Peale).


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Ameaça à rede de saúde pública

Pedro J. Bondaczuk

O atendimento médico prestado na rede municipal de saúde vive momentos de extrema penúria. Os 38 postos de saúde administrados pela Prefeitura e o Hospital Dr. Mário Gatti sobrevivem sem recursos, sem pessoal especializado na área de enfermagem e, pior, sem médicos suficientes para atender clientes de toda periferia da cidade e, também, da região.

Desde dezembro que o Suds --- Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde --- não repassa a verba para o Município. A burocracia federal aliada aos interesses políticos dos governos estaduais obriga esse recurso a fazer uma volta para chegar até as prefeituras. O dinheiro do Suds sai do Ministério da Saúde, passa pelo governo do Estado e só depois dessa parada chega aos cofres municipais. O final do governo Sarney contribuiu para o atraso da remessa das verbas que ajudariam a sustentar a rede municipal de assistência médica. E a omissão das autoridades estaduais e municipais ajudou a reforçar a demora que, hoje, agrava o quadro clínico dos postos de saúde.

Campinas possui um deputado estadual e dois federais que poderiam estar alertas para essa situação. Cobrar do governo do Estado uma ação consequente e do Ministério da Saúde a liberação dos recursos é obrigação daqueles três que foram eleitos com compromissos, principalmente, firmados com as classes mais desfavorecidas.

Enquanto isso, a Prefeitura tenta administrar o impossível. Os baixos salários pagos aos médicos (em comparação à remuneração de mercado) atraem recém-formados em busca da primeira experiência profissional e espantam os testados há mais tempo na atividade. Consequentemente, os postos de saúde deixam de cumprir sua tarefa primária, dar assistência médica primária aos pacientes que podem ser medicados nesses locais, impedindo-os de buscar ajuda no Hospital Dr. Mário Gatti. Muitos profissionais concursados na Prefeitura ao tomarem ciência de quanto vão ganhar evitam arriscar trabalhar nas condições salariais oferecidas. Os recém-formados ficam algum tempo até conseguirem outros serviços melhor remunerados. Daí deixam de priorizar os postos de saúde.

A população que depende da rede municipal tem nesses postos um ponto de apoio às suas angústias e doenças. Porém, em alguns casos, encontram médicos que, desestimulados, deixam de oferecer um tratamento mais condizente com as necessidades desses pacientes. A própria estrutura da rede municipal de saúde --- carente de aparelhos e equipamentos --- denota a deterioração dos serviços.

Deve-se considerar que a Secretaria Municipal de Saúde é um dos setores da administração pública melhor dotada de pessoal comprometido com a melhoria da saúde pública. Contudo, verifica-se que o índice de doenças registrado na periferia ocorre muito mais em virtude da falta de informações sobre higiene pessoal e infraestrutura sanitária, como rede de água, esgoto e pavimentação. Desta forma, a procura dos postos de saúde é muito maior e tende a crescer na proporção inversa da infraestrutura sanitária.

A política de saúde pública adotada pela Secretaria Municipal de Saúde não vai sobreviver apenas do ideal. Os recursos são necessários, e mais importante é o desejo político de travar uma luta hercúlea para reduzir os índices de mortalidade infantil, os de doenças parasitárias provocadas pela carência de informações e de rede de água e esgoto, além, é claro, de pavimentação.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular em 28 de março de 1990)

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Verdadeira juventude

Pedro J. Bondaczuk

A velhice começa em qual idade? Há não muito, pessoas que mal passavam da faixa dos 50 anos já eram consideradas “velhas”. E assumiam-se como tal. Os progressos da medicina, todavia, bem como a melhor qualidade dos alimentos, da água e dos medicamentos estenderam bastante esse limite. Não faz muito vimos, em reportagem da ESPN Brasil, um cidadão do Nordeste que, aos 52 anos, ainda era jogador profissional de futebol.

Romário encerrou a carreira aos 42. O volante Fernando, do Santo André, tinha essa mesma idade e ainda defendeu seu time, no Campeonato Brasileiro da Série A de 2009, com fôlego de dar inveja a muito garotão que atua nas categorias de base dos clubes.

Hoje, considera-se que aquilo que se convencionou chamar, eufemisticamente, de “Terceira Idade”, tem início quase duas décadas depois. Ou seja, aos 65 anos. E, pelo andar da carruagem, esse teórico limite da maturidade deverá (logo, logo) ser estendido para 80 ou mais aniversários.

Escrevi inúmeras vezes, e reitero aqui, que juventude e velhice não é questão cronológica, de calendário, mas um estado de espírito. Não me canso de repetir que conheço inúmeros “velhos” de 18 anos, desanimados, sem perspectiva e buscando a fuga da realidade no álcool e, não raro, nas drogas, e muitos “jovens” prestes a atingir a idade centenária.

Exagero? De forma alguma! Querem um exemplo? Alguém que não conhecesse Barbosa Lima Sobrinho pessoalmente – que foi por um tempão presidente da Associação Brasileira de Imprensa – e que lesse, com atenção e assiduidade, os textos que escrevia aos cem anos (isso mesmo, em idade centenária) para o Jornal do Brasil do Rio de Janeiro diria, em sã consciência, que se tratava de um “velho”? Duvido! Era tamanha a sua lucidez, tão grande o seu entusiasmo, tão ativa a sua participação na vida do País, que se diria que se tratava de um moço de 20 anos, se tanto.

E esse não é um caso único e nem o mais surpreendente. Conheço inúmeros outros. Meu avô Hilarion Bondaczuk, por exemplo, foi um desses “jovenzinhos” centenários. Com mais de 90 anos veio, sozinho, de Porto Alegre a Campinas, apenas para conhecer pessoalmente suas novas bisnetas, minhas filhas, que na ocasião tinham dois e um ano, respectivamente. Faleceu lúcido e saudável.

Por isso, está mais do que na hora de se pôr fim a esse estúpido preconceito em relação às pessoas que já fizeram, por exemplo, mais do que 65 aniversários. A estupidez desse comportamento preconceituoso fica mais evidente ainda quando se recorda que todos, absolutamente todos (a menos que a morte colha alguém antes, na juventude ou na maturidade, por exemplo), um dia iremos envelhecer. E as ideias que consolidarmos, a respeito das pessoas idosas, se voltarão, então, por inteiro, contra nós. Seremos, considerados inúteis, pesos mortos para a família e a sociedade, com mentalidade de criança ou de uma pessoa insana, mesmo que não sejamos assim. Por que? Porque alimentamos, ou ajudamos a alimentar esse preconceito.

Meu pai sempre dizia, do alto de sua sabedoria de homem simples, mas sensato: “Pedrinho (foi assim que sempre me chamou), lembre-se que você irá dormir na cama que arrumar”. Ou seja, tudo o que fizermos, de bom ou de ruim, um dia nos produzirá consequências, boas ou más.

O pai da psicanálise, Sigmund Freud, em entrevista dada a George Silvestre Vierek, para “Glimpses of the great”, em 1930, (reproduzida pelo jornal “Folha de São Paulo”, em 3 de janeiro de 1998), observou a respeito: “Biologicamente, cada ser vivo, por mais forte que arda nele o fogo da vida, tende ao nirvana, deseja que a febre chamada vida chegue ao seu fim. Podemos jogar com a ideia de que a morte nos alcança porque a desejamos. Talvez pudéssemos vencer a morte, se não fosse pelo aliado que ela tem dentro de nós. Assim, poderíamos dizer que toda morte é um suicídio encoberto”.

Ou seja, nós, subconscientemente, é que abrimos mão da vontade de viver. Isso, no meu entender, é o que determina a tal da “velhice”. Pode ocorrer tanto aos dezoito anos, quanto aos cem. Não se trata, pois, como não me canso de reiterar, de questão cronológica, mas de “cabeça”.

Aliás, achei Freud sumamente pessimista nesta entrevista, que oportunamente prometo abordar, para tratar de outros aspectos que o ilustre psicanalista também abordou. Nessa questão específica, porém, concordo plenamente com o que o padre Roque Schneider escreveu: “Ser jovem é ter os olhos molhados de esperança e adormecer com problemas, na certeza de que a solução madrugará no dia seguinte”. E isso nós podemos fazer, se tivermos estrutura espiritual para tanto, quer aos 16, 18 ou 20 anos, quer aos cem.

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