A volta à poupança
Pedro J. Bondaczuk
Ressente-se até agora o setor
da poupança dos efeitos provocados pela aplicação do Plano Collor.
Segundo esclarecimento de Luís Felipe Soares Batista, presidente da
Associação Brasileira de Entidades de Crédito Imobiliário e
Poupança, houve uma perda líquida de cerca de Cr$ 60 bilhões só
nas duas últimas semanas de março último. Também no mês de abril
o volume de retiradas não abrandou, tudo levando a crer possa o
sistema ganhar certa estabilidade neste mês de maio. Assim, não foi
sem razão alguma o esforço desenvolvido pelo governo na tentativa
de atrair a população para essa modalidade financeira, chegando
inclusive a Caixa Econômica Federal a destinar a verba de Cr$ 27
milhões para cobertura de intensa campanha publicitária. Aliás, o
próprio presidente Fernando Collor de Mello, juntamente com a
ministra Zélia Cardoso de Mello, ambos participaram desse evento,
abrindo cadernetas de poupança em Brasília, apesar do reduzido
valor das importâncias depositadas.
Certamente, com o correr do
tempo, a confiabilidade do sistema será restabelecida, mesmo sem
campanhas através dos veículos de comunicação social. De fato, a
poupança está profundamente arraigada nos costumes de nossa gente.
Pelo visto, o abalo provocado pelas implicações do Plano Collor tem
apenas aspecto temporário. As pessoas irão chegar à conclusão
pura e simples de não existir outra alternativa para a guarda de
suas economias, até porque, sejamos francos, nem todos possuem
propensões de caráter consumista. Certa feita, em visita a São
Paulo, quando o processo inflacionário se achava em ritmo
ascendente, o então ministro Camilo Penna responsabilizou a
população pelo acontecimento, lamentando não ter o povo o hábito
de poupar. Houve exagero evidentemente nessa afirmativa. E tanto isso
é verdade, que o sistema sempre cresceu, acumulando um volume
respeitável de moeda. Ainda nessa fase de contratempos, apesar da
baixa rentabilidade dos depósitos, por força de uma inflação na
marca zero, a Caixa Econômica Federal, por exemplo, no período de
19 de março a 24 de abril, recebeu mais de Cr$ 25 bilhões em
depósitos na poupança.
Portanto, a volta da população
ao sistema acontecerá bem mais cedo daquilo que muitos imaginam.
Seria dispensável até toda essa campanha publicitária em
desenvolvimento, isto porque dificilmente o hábito de poupar
desaparecerá do espírito dos brasileiros. Se amanhã ou depois o
governo lançar fórmulas de estímulos à modalidade, não tenhamos
dúvidas, a poupança voltará a desfrutar no mercado financeiro
daquele antigo prestígio. Toda essa procura ficará restrita, pois,
a uma simples questão de tempo.
(Editorial publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 3 de maio de 1990)
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