Friday, August 31, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - A volta à poupança


A volta à poupança

Pedro J. Bondaczuk

Ressente-se até agora o setor da poupança dos efeitos provocados pela aplicação do Plano Collor. Segundo esclarecimento de Luís Felipe Soares Batista, presidente da Associação Brasileira de Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança, houve uma perda líquida de cerca de Cr$ 60 bilhões só nas duas últimas semanas de março último. Também no mês de abril o volume de retiradas não abrandou, tudo levando a crer possa o sistema ganhar certa estabilidade neste mês de maio. Assim, não foi sem razão alguma o esforço desenvolvido pelo governo na tentativa de atrair a população para essa modalidade financeira, chegando inclusive a Caixa Econômica Federal a destinar a verba de Cr$ 27 milhões para cobertura de intensa campanha publicitária. Aliás, o próprio presidente Fernando Collor de Mello, juntamente com a ministra Zélia Cardoso de Mello, ambos participaram desse evento, abrindo cadernetas de poupança em Brasília, apesar do reduzido valor das importâncias depositadas.

Certamente, com o correr do tempo, a confiabilidade do sistema será restabelecida, mesmo sem campanhas através dos veículos de comunicação social. De fato, a poupança está profundamente arraigada nos costumes de nossa gente. Pelo visto, o abalo provocado pelas implicações do Plano Collor tem apenas aspecto temporário. As pessoas irão chegar à conclusão pura e simples de não existir outra alternativa para a guarda de suas economias, até porque, sejamos francos, nem todos possuem propensões de caráter consumista. Certa feita, em visita a São Paulo, quando o processo inflacionário se achava em ritmo ascendente, o então ministro Camilo Penna responsabilizou a população pelo acontecimento, lamentando não ter o povo o hábito de poupar. Houve exagero evidentemente nessa afirmativa. E tanto isso é verdade, que o sistema sempre cresceu, acumulando um volume respeitável de moeda. Ainda nessa fase de contratempos, apesar da baixa rentabilidade dos depósitos, por força de uma inflação na marca zero, a Caixa Econômica Federal, por exemplo, no período de 19 de março a 24 de abril, recebeu mais de Cr$ 25 bilhões em depósitos na poupança.

Portanto, a volta da população ao sistema acontecerá bem mais cedo daquilo que muitos imaginam. Seria dispensável até toda essa campanha publicitária em desenvolvimento, isto porque dificilmente o hábito de poupar desaparecerá do espírito dos brasileiros. Se amanhã ou depois o governo lançar fórmulas de estímulos à modalidade, não tenhamos dúvidas, a poupança voltará a desfrutar no mercado financeiro daquele antigo prestígio. Toda essa procura ficará restrita, pois, a uma simples questão de tempo.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 3 de maio de 1990)



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