Wednesday, August 08, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Justiça tributária


Justiça tributária



Pedro J. Bondaczuk


Enquanto a inflação continua a deixar o trabalhador completamente desorientado, sem saber se acredita nas promessas ou na realidade – os índices divulgados pelos órgãos oficiais estão sempre aquém dos verdadeiros – aumenta mais e mais a preocupação com o próximo ano.

O assalariado vê, diariamente, diminuir o seu poder de compra, ao mesmo tempo que crescem as suas dívidas, maiores parcelas do orçamento doméstico são destinadas à alimentação, transporte, saúde e educação. E isso sem falar nos impostos e nas tarifas públicas que parecem crescer na medida inversa do salário.

Isso é justo? Estas palavras, acompanhadas de cenas na televisão já bastante conhecidas da população de Campinas, a ponto de atingir a saturação, têm tomado alguns minutos dos telespectadores nos últimos dias, com explicações sobre a reforma tributária pretendida pelo Executivo campineiro.

Essa reforma trará o aumento de impostos e taxas, inclusive do Imposto Predial Territorial e Urbano (IPTU), que morderá fundo o bolso do contribuinte em índices que vão até a 875% de aumento real, além da inflação. E, como não poderia deixar de ser, as reclamações são muitas, provocando preocupação geral, pois todos serão atingidos.

A cada momento o assalariado está sendo pressionado por verdadeiros confiscos de parcelas consideráveis de seu já achatado salário, sem que haja um retorno à altura. E tais confiscos partem agora exatamente do Executivo, que tem o dever de defender o povo. Além disso, corre o sério risco de ter o aval do Legislativo, que também deve tomar a defesa do cidadão.

Isso é justo? No início deste ano, o IPTU de Campinas foi, igualmente, majorado, quando os pagamentos à vista perderam o tradicional desconto e o parcelamento sofreu correção com base na Unidade Fiscal do Município de Campinas (UFMC). A indignação tomou conta dos campineiros e as reclamações foram muitas, mas de nada adiantaram.

Os vereadores têm o tempo necessário, ao longo do mês de dezembro, para refletir se a reforma tributária pretendida pelo Executivo é justa. A cidade sabe que as referências de cobrança dos impostos, especialmente o IPTU, estão defasadas. Isso aconteceu graças à desatualização dos valores dos imóveis em relação à realidade de mercado.

A Administração Municipal – e isso não é privilégio de Campinas – não teve a eficiência suficiente para acompanhar, nos últimos anos, as taxas de inflação que, infelizmente, confundem os parâmetros de valor da moeda na cabeça da maioria dos brasileiros.

Ao mesmo tempo em que isso é verdade, é preciso, também, ter o bom-senso para admitir que é impraticável, do ponto de vista da justiça tributária, fazer a reforma de uma só vez, no ano de 1991, como se o contribuinte – e ainda mais num ano em que se projeta um período de transição de violenta recessão – pudesse suportar a carga atualizada em uma dose só.

A velha definição da farmacologia, de que o que faz mal não é a droga, mas sim a dosagem em que ela é aplicada, pode valer, também, para o caso do imposto em Campinas. Os vereadores agora têm a obrigação de, em nome da comunidade, refletir se isso é justo, e tomar uma posição que não mate o paciente, mas dê fôlego a ele para continuar respirando. Em suma: reforma sim, mas com justiça.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 1° de dezembro de 1990).


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