Definição
de rumos
Pedro J. Bondaczuk
O homem tem que definir objetivos, estabelecer metas, determinar um
rumo razoavelmente possível de conduzi-lo ao sucesso. Sem isso, não
chegará a lugar algum, a não ser ao destino comum de todos os seres
viventes, animais ou vegetais: a morte. E esta, infelizmente, é a
única e rigorosa certeza que temos. Sem essa espécie de “roteiro”,
o homem caminhará em círculos, sem chegar a lugar algum e exaurindo
as forças por nada. Nossa jornada no mundo caracteriza-se pelo
incerto, pelo desconhecido, pelo casual. Quando nascemos, não nos
acompanha nenhum manual de instruções dando conta de como devemos
proceder para funcionar bem. Nós é que temos que descobrir como
fazer isso.
Para traçar rumos corretos – profissionais, pessoais e até mesmo,
ou principalmente, espirituais – é necessário que as pessoas
entendam que vivem por alguma razão e que esta não se restringe a
comer, beber, dormir, reproduzir-se e morrer, para que sua
descendência percorra o mesmo ciclo indefinidamente, buscando
apenas, e quando muito, conquistas materiais e a satisfação dos
sentidos.
Frise-se que o fato de se estabelecer objetivos não dá nenhuma
certeza a ninguém de que eles serão atingidos, mesmo que sejam
aparentemente factíveis e fáceis de alcançar. Contudo, essa
atitude prudente concentra forças em determinado alvo, evita a
dispersão e, até pela lógica, proporciona mais condições de
sucesso. Evita, por exemplo, ações erráticas e contraditórias,
que nos fazem marcar passo e que não permitem que se saia do lugar.
Organiza, enfim, a vida das pessoas.
Não é por acaso que esse ser complexo e ainda primitivíssimo (em
termos de relacionamento) é dotado de razão e livre-arbítrio.
Conta com essas características para promover o próprio
desenvolvimento mental e espiritual (entendendo-se aqui "espírito"
como a essência do indivíduo) e, por consequência, o da espécie.
Não vivemos sós no mundo. O convívio social implica em permanente
interdependência. Assim como dependemos dos outros (e são tantos!)
para sobreviver, muitos, com certeza, também dependem ou virão a
depender um dia de nós.
A vida ganha novo sabor, e adquire grandeza e transcendência, quando
a usufruímos em toda sua plenitude, com suas dores e prazeres,
alegrias e tristezas, sucessos e fracassos. Mas ela apenas terá
sentido, reitero, quando lhe impusermos algum. Quando estabelecermos
um objetivo e empenharmos todo o nosso imenso (mas desconhecido)
potencial no seu alcance.
Para alcançarmos a felicidade – que sempre está dentro de nós e
que nos compete descobrir e conservar – temos que relevar nossas
fraquezas, embora sem deixar de nos empenhar para superá-las. Se não
superarmos todas, as poucas que conseguirmos eliminar já nos
deixarão no lucro. É preciso ter coragem e forças de nos levantar
sempre que viermos a tropeçar e a cair, e persistir, persistir
sempre, de maneira incansável, com determinação e fé, na busca da
concretização do nosso ideal. Ou seja, dos tais objetivos que
estabelecermos (isso, caso os estabeleçamos, claro).
Estou convicto de que viemos ao mundo com alguma finalidade que,
certamente, não é a de meramente sofrer e nem a de nos colocarmos à
margem da sociedade e da vida. Compete-nos detectar e, quando não,
estabelecer nossa razão de viver. Fedor Dostoievsky observa, com
pertinência, a propósito: “O segredo da existência humana não
reside só em viver, mas também em saber para que se vive”. Pois
é, para que? Parece simples, a resposta parece óbvia, mas não é.
O fotógrafo norte-americano Edward Steichen, acostumado a flagrar as
cenas mais chocantes e incompreensíveis do cotidiano, observou certa
feita: "É possível compreender os estragos da bomba atômica.
Mais difícil é entender o significado da vida". Aliás, tarefa
dessa natureza e magnitude virtualmente raia ao impossível, dada sua
complexidade. A compreensão do intrincado mecanismo vital é mais
fácil e a cada dia fica mais clara.
A morfologia e o funcionamento das células, tecidos, órgãos,
aparelhos e organismos vivos já perderam quase todos os mistérios.
Cientistas já mapearam a totalidade dos genes humanos. Bebês de
proveta há muito deixaram de ser novidade. A engenharia genética é
capaz de mesclar características de diferentes espécies numa só
(os transgênicos) ou de clonar qualquer um de nós, partindo de
quaisquer das nossas células. Mas qual é a "razão de viver"?
Qual a verdadeira finalidade da existência? Existe alguma? Há uma
única? São várias? Como se vê, a questão é muito, mas muito
mais complexa do que se possa supor.
Para tentar responder a essa “Esfinge”, que a cada instante nos
questiona e desafia, temos o recurso da inteligência. Podemos (e
devemos) usar a imaginação, essa maravilhosa capacidade com que
fomos dotados de “criar” o abstrato e até o inexistente. Muitos,
porém, inibem-na, reduzem seus recursos e, por conseqüência, suas
possibilidades de sucesso. São os que se arrogam em “realistas”
que, todavia, não sabem interpretar corretamente a tal da realidade.
O cronista mineiro, Paulo Mendes Campos, descreve, numa de suas
tantas crônicas, o cenário ideal para a imaginação voar livre e
veloz, em busca de dimensões e de mundos ideais. Em uma delas,
intitulada “De um caderno cinzento”, datada de 17 de agosto de
1967, publicada na Revista Manchete, pincei este trecho que se refere
ao cenário ideal para essas “viagens”: “Céu azul não conhece
fronteira de sombra; céu azul é indispensável antes de tudo aos
cegos; azul do céu não é cor, mas uma qualidade do mundo, uma
luminosidade apreensível por todos os sentidos, fragrância,
convivência mais delicada, concerto de sons, transparência do
universo”.
Como se vê, a imaginação é, mesmo, veloz, imprevisível, mas, não
raro, também dispersiva e caótica. Por isso, precisa ser
direcionada, e sempre, para o lado positivo e belo da vida. Se
fizermos o contrário, conheceremos o inferno e seus incontáveis
sofrimentos. Tem, por isso, como campo preferido de atuação, o
espaço infinito, ou seja, a imensidão sem limites, o céu sem
fronteiras. Mas tudo isso deve ter uma finalidade: a de tentar
concretizar os objetivos que estabelecermos. Claro, se o fizermos e,
principalmente, se eles forem factíveis.
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