Investimento no homem
Pedro J. Bondaczuk
O Brasil, para inserir-se de
forma competitiva na globalização da economia e se transformar em
uma espécie de tigre sul-americano, objetivo apregoado por seus
políticos, precisa, mais do que de capitais e de tecnologia,
investir no homem. Estimativa recém divulgada pela Secretaria de
Formação Profissional do Ministério do Trabalho revela aquilo que
sempre se soube, mas que pouco se fez para modificar. Ou seja, que o
calcanhar de Aquiles do brasileiro é a educação.
A conclusão do referido
estudo é a de que um, em cada três componentes da força de
trabalho do País, é incapaz de ler um simples manual referente à
sua profissão. São os chamados analfabetos funcionais, que
conseguem juntar as letras para formar palavras, que leem o que
juntaram, mas não compreendem o teor do texto. Eles constituem um
contingente nada desprezível de 33% do total.
E ainda assim, a economia
nacional caminha e consegue ser a décima do mundo. Mesmo com essa
grave deficiência, a indústria brasileira não fica nada a dever às
dos centros mais industrializados do Planeta. Esse sim é o
verdadeiro milagre brasileiro. As comparações, nesse caso,
tornam-se inevitáveis.
Qual não seria a performance
desse trabalhador, que em geral acaba se tornando excelente
profissional na prática, no exercício de suas funções (às quais
acaba por se adaptar até com relativa facilidade), se tivesse o
mesmo grau de instrução, por exemplo, de um sul-coreano ou de um
japonês?
E essa situação já chegou a
ser pior. São muitas as empresas que mantêm cursos de alfabetização
de adultos e de complementação profissional, na tentativa de formar
quadros mais sólidos, mais competentes e que assimilem com maior
precisão conceitos de alta tecnologia. Ou seja, investem no homem,
que se torna, quando bem preparado e treinado, importantíssimo fator
de produção.
O estudo da Secretaria de
Formação Profissional revela que entre os cerca de 71 milhões de
brasileiros que integram a chamada População Economicamente Ativa
(PEA), com idade entre 10 e 65 anos (no País ainda é intensiva a
utilização de mão de obra infantil), 60% não conseguiram chegar à
4ª série do primeiro grau (educação primária).
O que causa maior pasmo e
depõe contra a qualidade do ensino básico no País é que há
pessoas com 2º grau completo que são incapazes de compreender um
simples manual. As várias campanhas de alfabetização, empreendidas
nas últimas três décadas, reduziram o analfabetismo absoluto, que
ainda assim é alto, de 20% da PEA.
Estes, nem chegaram à 1ª
série do 1º grau. Ou, se tiveram essa oportunidade de estudar,
jamais conseguiram sair do primeiro ano. O estudo revela, ainda,
profunda carência em termos de formação profissional mesmo entre
os plenamente alfabetizados, que têm que conquistar uma profissão
na base do talento e do esforço individual.
Constata que apenas 15% dos
jovens que chegam ao 2º grau, grande minoria do total dos que
começam o 1º, são instruídos para a vida prática, para a disputa
de um emprego no cada vez mais seletivo mercado de trabalho.
É preciso, portanto, que as
autoridades de ensino se preocupem não apenas com o futuro, com as
crianças atualmente em idade escolar. Faz-se necessário um grande
esforço nacional para recuperar os que no presente garantem a
geração da riqueza brasileira.
(Editorial número um,
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 23 de julho
de 1996).
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