Saturday, August 04, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Investimento no homem


Investimento no homem


Pedro J. Bondaczuk


O Brasil, para inserir-se de forma competitiva na globalização da economia e se transformar em uma espécie de tigre sul-americano, objetivo apregoado por seus políticos, precisa, mais do que de capitais e de tecnologia, investir no homem. Estimativa recém divulgada pela Secretaria de Formação Profissional do Ministério do Trabalho revela aquilo que sempre se soube, mas que pouco se fez para modificar. Ou seja, que o calcanhar de Aquiles do brasileiro é a educação.

A conclusão do referido estudo é a de que um, em cada três componentes da força de trabalho do País, é incapaz de ler um simples manual referente à sua profissão. São os chamados analfabetos funcionais, que conseguem juntar as letras para formar palavras, que leem o que juntaram, mas não compreendem o teor do texto. Eles constituem um contingente nada desprezível de 33% do total.

E ainda assim, a economia nacional caminha e consegue ser a décima do mundo. Mesmo com essa grave deficiência, a indústria brasileira não fica nada a dever às dos centros mais industrializados do Planeta. Esse sim é o verdadeiro milagre brasileiro. As comparações, nesse caso, tornam-se inevitáveis.

Qual não seria a performance desse trabalhador, que em geral acaba se tornando excelente profissional na prática, no exercício de suas funções (às quais acaba por se adaptar até com relativa facilidade), se tivesse o mesmo grau de instrução, por exemplo, de um sul-coreano ou de um japonês?

E essa situação já chegou a ser pior. São muitas as empresas que mantêm cursos de alfabetização de adultos e de complementação profissional, na tentativa de formar quadros mais sólidos, mais competentes e que assimilem com maior precisão conceitos de alta tecnologia. Ou seja, investem no homem, que se torna, quando bem preparado e treinado, importantíssimo fator de produção.

O estudo da Secretaria de Formação Profissional revela que entre os cerca de 71 milhões de brasileiros que integram a chamada População Economicamente Ativa (PEA), com idade entre 10 e 65 anos (no País ainda é intensiva a utilização de mão de obra infantil), 60% não conseguiram chegar à 4ª série do primeiro grau (educação primária).

O que causa maior pasmo e depõe contra a qualidade do ensino básico no País é que há pessoas com 2º grau completo que são incapazes de compreender um simples manual. As várias campanhas de alfabetização, empreendidas nas últimas três décadas, reduziram o analfabetismo absoluto, que ainda assim é alto, de 20% da PEA.

Estes, nem chegaram à 1ª série do 1º grau. Ou, se tiveram essa oportunidade de estudar, jamais conseguiram sair do primeiro ano. O estudo revela, ainda, profunda carência em termos de formação profissional mesmo entre os plenamente alfabetizados, que têm que conquistar uma profissão na base do talento e do esforço individual.

Constata que apenas 15% dos jovens que chegam ao 2º grau, grande minoria do total dos que começam o 1º, são instruídos para a vida prática, para a disputa de um emprego no cada vez mais seletivo mercado de trabalho.

É preciso, portanto, que as autoridades de ensino se preocupem não apenas com o futuro, com as crianças atualmente em idade escolar. Faz-se necessário um grande esforço nacional para recuperar os que no presente garantem a geração da riqueza brasileira.

(Editorial número um, publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 23 de julho de 1996).


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