Saturday, August 18, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Fator de riqueza


Fator de riqueza


Pedro J. Bondaczuk


Conquanto a energia nuclear tenha tudo para, um dia, beneficiar amplamente o homem no setor energético sem os perigos sobejamente conhecidos, há bons motivos para se acreditar que o petróleo continuará imbatível. Basta reforçar este ponto de vista com a inexistência de um avião movimentado a energia atômica. Menos ainda um automóvel que possa ser utilizado sem problemas, na base do átomo.

Já no início do século dizia-se que o petróleo era "rei", responsável pela movimentação de tudo o que se move como obra do homem e a seu serviço, a exemplo de locomotivas, automóveis, aviões, navios. A consequência dessa força do óleo é visível na luta que se travou e se trava pela sua obtenção. Mesmo porque, sobretudo a partir da Segunda Guerra Mundial, a petroquímica avançou velozmente.

No mais, o petróleo vai ingressar no século XXI com a mesma importância com que iniciou o atual. E não se esgotará alguns anos além da virada do milênio, contrariando previsão alarmista, feita há 30 anos, pelo Clube de Roma. O recente conflito no Oriente Médio confirmou que ainda existe muito petróleo e que, ao mesmo tempo, é disputado ou defendido a qualquer custo.

O Brasil, ao incentivar a constituição da Petrobrás, reservou para si o monopólio da exploração do óleo em território nacional. A empresa estatal, que sempre teve fortes defensores e, ao mesmo tempo, ferrenhos críticos, está em evidência além do habitual.

Chegou-se a noticiar que ela entraria para a lista das companhias privatizáveis, com o pronto esclarecimento de que isso por enquanto não está em cogitações; pelo menos a curto prazo. Agora vem a público a opinião do chefe de Planejamento Energético da Coordenação de Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Adriano Rodrigues, que sugere à Petrobrás o abandono da ideia de que um de seus principais objetivos é dar ao País autossuficiência em petróleo. Porque, ele pondera, nada indica que surgirá novo choque petrolífero e o preço do óleo não irá além de US$ 25 o barril, pelo menos até o próximo ano.

O fato de existir uma preocupação com o papel exercido pela Petrobrás deixa claro que se trata de companhia importante. Tão importante que precisará continuar desempenhando o seu papel, cada vez com maior eficiência, mesmo que, eventualmente, passe para o setor privado. Mas, até lá, existe um longo caminho a ser percorrido, porque não será fácil desvinculá-la da área estatal, e mais difícil ainda retirar da empresa --- hoje a maior do País --- o monopólio garantido por texto constitucional.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 25 de janeiro de 1992).


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