Fenômeno circunstancial
Pedro J. Bondaczuk
O plano de estabilização da
economia lançado pelo governo Fernando Collor de Mello, completando
já um mês de efetiva experiência, provocou realmente uma série de
mudanças no comportamento da sociedade brasileira. Processou-se uma
profunda alteração no sistema de vida de nossa população, a qual
se encontrava --- diga-se de passagem --- em meio a uma crise de
proporções, isto por força de uma inflação galopante e
anárquica, a ponto das pessoas terem perdido inclusive a noção do
valor da própria moeda.
O certo é que o Brasil
completou os primeiros 30 dias da vigência do Plano Collor,
notando-se neste período de tempo muitos transtornos e dificuldades
quanto à aplicação prática do programa. A rede bancária, por
exemplo, passou por um teste dos mais severos, não estando até
agora em condições de funcionar a contento, tanto em relação ao
atendimento dos interesses do governo, como também de sua numerosa
clientela. Tudo leva a crer fiquem os desajustes melhor equacionados
neste segundo mês de vigência do plano que mexeu realmente com
todas as pessoas.
A impressão é de que aos
poucos tudo irá voltar ao princípio da normalidade. Todavia, a
tarefa não será nada fácil, exigindo muita disposição de
trabalho e alto espírito de compreensão. Houve já um relativo
aquecimento no setor de vendas, apesar dessa acentuada falta de
dinheiro. A reativação do sistema do crediário levou nos últimos
dias o público consumidor às lojas, dentro, evidentemente, de um
clima de restrições. De fato, as pessoas começaram a andar com os
pés no chão, abandonando de vez aquela corrida desastrada de uma
inflação fora de série. Também durante a Semana Santa o setor de
turismo deu sinais de vida, mostrando estar preparado para enfrentar
a situação nova estabelecida no País. Segundo esclarecimentos de
Rubei Thomas, da Varig, as coisas nessa área poderão melhorar nos
próximos 40 dias, ajustando-se o turismo a uma nova mentalidade de
desenvolvimento. Notou-se a reação louvável por parte das agências
especializadas, das empresas aéreas e rodoviárias, dos serviços de
hotelaria, tudo em meio a programas objetivando atrair o nosso
turista.
Pelo que se constatou na
Semana Santa, passados os primeiros efeitos do Plano Collor, dar-se-á
certamente uma retomada de atividades nesse campo, situado hoje em
dia em posição de destaque em nosso País. Pelo visto, muitas
promoções irão acontecer quanto às férias do próximo mês de
julho, quando todo esse plano estiver suficientemente amadurecido.
Portanto, a queda na
movimentação do turismo nacional deve ser entendida como fenômeno
apenas circunstancial. E nesse particular devemos realçar a lógica
daquele porta-voz da Varig de que "a coisa ficou difícil,
porém, todos estão já reagindo".
(Editorial publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 18 de abril de 1990)
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