Sunday, August 19, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Fenômeno circunstancial


Fenômeno circunstancial

Pedro J. Bondaczuk

O plano de estabilização da economia lançado pelo governo Fernando Collor de Mello, completando já um mês de efetiva experiência, provocou realmente uma série de mudanças no comportamento da sociedade brasileira. Processou-se uma profunda alteração no sistema de vida de nossa população, a qual se encontrava --- diga-se de passagem --- em meio a uma crise de proporções, isto por força de uma inflação galopante e anárquica, a ponto das pessoas terem perdido inclusive a noção do valor da própria moeda.

O certo é que o Brasil completou os primeiros 30 dias da vigência do Plano Collor, notando-se neste período de tempo muitos transtornos e dificuldades quanto à aplicação prática do programa. A rede bancária, por exemplo, passou por um teste dos mais severos, não estando até agora em condições de funcionar a contento, tanto em relação ao atendimento dos interesses do governo, como também de sua numerosa clientela. Tudo leva a crer fiquem os desajustes melhor equacionados neste segundo mês de vigência do plano que mexeu realmente com todas as pessoas.

A impressão é de que aos poucos tudo irá voltar ao princípio da normalidade. Todavia, a tarefa não será nada fácil, exigindo muita disposição de trabalho e alto espírito de compreensão. Houve já um relativo aquecimento no setor de vendas, apesar dessa acentuada falta de dinheiro. A reativação do sistema do crediário levou nos últimos dias o público consumidor às lojas, dentro, evidentemente, de um clima de restrições. De fato, as pessoas começaram a andar com os pés no chão, abandonando de vez aquela corrida desastrada de uma inflação fora de série. Também durante a Semana Santa o setor de turismo deu sinais de vida, mostrando estar preparado para enfrentar a situação nova estabelecida no País. Segundo esclarecimentos de Rubei Thomas, da Varig, as coisas nessa área poderão melhorar nos próximos 40 dias, ajustando-se o turismo a uma nova mentalidade de desenvolvimento. Notou-se a reação louvável por parte das agências especializadas, das empresas aéreas e rodoviárias, dos serviços de hotelaria, tudo em meio a programas objetivando atrair o nosso turista.

Pelo que se constatou na Semana Santa, passados os primeiros efeitos do Plano Collor, dar-se-á certamente uma retomada de atividades nesse campo, situado hoje em dia em posição de destaque em nosso País. Pelo visto, muitas promoções irão acontecer quanto às férias do próximo mês de julho, quando todo esse plano estiver suficientemente amadurecido.

Portanto, a queda na movimentação do turismo nacional deve ser entendida como fenômeno apenas circunstancial. E nesse particular devemos realçar a lógica daquele porta-voz da Varig de que "a coisa ficou difícil, porém, todos estão já reagindo".

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 18 de abril de 1990)



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